KOI NO YOKAN

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Quando Hua Cheng acordou, ainda era noite. Contudo, o costumeiro gelado da madrugada já havia se tornado mais caloroso, era agora como uma noite de verão. 

Procurando por papel e tinta, teve a ideia de marcar os "dias" usando a lua. Ele notou que, desde quando estava sendo trazido, ela se movia de maneira semelhante ao sol, se pondo e nascendo novamente. Sem levar em conta que, quando era originalmente noite, o céu era totalmente escuro. Assim, outra noite havia se passado. Vislumbrando a lua agora, ela estava em uma das pontas novamente, então já era manhã¹. 

Dois dias haviam se passado, um desde que chegou. Contando pelo último termo, apenas um traço reto foi adicionado a folha e deixados sobre a mesa, assim foi. Infelizmente, apenas aquela folha amarelada estava tendo avanços evidentes. 

No primeiro dia, Hua Cheng não encontrou Xie Lian em lugar algum. Em seu quarto, na colina ou na cachoeira, até pensou que tivesse fugido e o deixado ali. Mas minutos após se recolher, ouviu passos leves, quase silenciosos, subirem as escadas e, espiando pela brecha da porta meio aberta, o viu subir para o terraço e fechar o alçapão. 

No terceiro dia, eles almoçaram em total silêncio. Xie Lian tinha feito a gentileza de cozinhar novamente, era um ensopado de peixe, ao menos era o que Hua Cheng pensava ser. Ainda que estivesse meio amargo e um pouco cru, ele não reclamou. Tudo ia "bem", mas assim que Hua Cheng disse uma palavra, o outro se levantou sem nem mesmo o olhar,  desaparecendo novamente. 

Isso se seguiu por mais dois dias. Se estivesse em casa se trancava no terraço. Se fosse caminhar lá fora e visse a aproximação do mais novo, desaparecia entre as árvores. E quando se banhava no rio com apenas o mesmo robe branco transparente, San Lang não ousava se aproximar, dando meia volta e desaparecendo por si mesmo. 

Apenas no sexto dia Hua Cheng decidiu confrontá-lo. O aborrecimento apenas se expandiu conforme o tempo passava, estando até mesmo com um pouco de raiva. É claro que não esperava que fossem amigos, devido às circunstâncias, o afastar e fugir, ele também pensou ser o certo. Mas apenas na teoria, quando o outro colocou-as em prática, ele não se sentiu feliz.

Ser ignorado não era bom. 

Xie Lian estava sentado sobre uma pedra próximo a cachoeira, ao seu lado, um enorme bordo se estendia majestosamente, a brisa roçava em seus galhos fazendo-os dançar lindamente, algumas folhas caíam formando um belo tapete vermelho. Em contraste com a cor quente, hoje ele vestia azul claro como o céu e seu cabelo estava todo preso no alto,  era extremamente bonito e ele parecia tranquilo. Seus dedos ágeis e longos trançavam finos galhos uns nos outros, formando o que parecia ser uma linda cesta. 

Despreocupado até então, as folhas foram pisoteadas, ele sentiu que alguém se aproximava e suspirou levemente. Hua Cheng trazia uma lanterna vermelha consigo, perguntando-se se aquela pessoa estava no escuro propositalmente apenas para não ser encontrada. Rodeando a pedra, ele parou em frente ao outro e esperou ao menos receber um cumprimento. 

Mas nada aconteceu. 

Toda a alça daquela cesta estava terminada, até mesmo ramos esverdeados foram colocados para enfeitá-la ainda mais. E mesmo após todo esse tempo, ele permaneceu parado sem nenhuma expressão, enquanto Xie Lian continuava a trançar sua cesta. 

– Gege. – chamou, extremamente desgostoso. 

– Sim? – com um sussurro, ele finalmente levantou seus olhos para o outro – Deseja algo? 

Hua Cheng havia chegado até ali movido pelo calor de suas emoções, porém, agora que finalmente tomou a atenção de Xie Lian, seu rosto bonito o fez se perder um pouco e ele não sabia mais como dizer o que queria, sentindo-se um pouco infantil. Mas era tarde para fingir que não era nada e não queria que tudo ficasse como estava, o Xie olhava-o profundamente. 

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