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EU sou apenas sensações durante todo o beijo

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EU sou apenas sensações durante todo o beijo.

Com o menor de seus toques eu derreto completamente. Nunca senti tamanha força com um simples contato. Quero dizer, isso nem de longe é um simples contato. Ainda não inventaram palavras para esse sentimento.

E quando os nossos lábios se separam, algo dele se arrastou por debaixo da minha pele e o fervor que está em seus olhos com certeza é meu.

— O caminho nunca me pareceu tão claro quanto agora — seus dedos tocam levemente meu queixo, e se ele ainda não ainda tivesse me segurando, acho que cairia aos seus pés.

— Nunca senti nada assim antes — aperto um pouco mais seus dedos nos meus. E meu coração aperta por perceber que agora a minha situação está bem mais complicada. Minhas palmas começam a suar e não do jeito delicioso que estavam a uns segundos atrás.

— Vou considerar isso um elogio.

— É um elogio sim — sorrio nervoso.

— Não acredito que o melhor beijo que eu já dei na vida foi na sessão de chocolates de um supermercado! — suas bochechas ficam levemente vermelhas e ele olha para o teto.

Sem conseguir me controlar, dou um beijo em seu queixo e depois escondo a minha cabeça na curva de seu pescoço. Ele me abraça um pouco mais apertado e beija meus cabelos.

— Sabe, eu gostei bastante do seu amaciante — tento não parecer que estou o cheirando tão desesperadamente.

— Eu te mostro qual é o amaciante se você disser qual é o seu shampoo — sinto o seu sorriso se abrir.

— Quem diria que é tão interessante marcar um encontro em um supermercado.

— Alguém muito inteligente me disse que é unir o útil ao agradável — ele para de me abraçar, mas ainda segura minha mão.

Torna o trabalho de conduzir o carrinho de compras muito mais difícil? Sim. É mais complicado pegar os pacotes grandes quando se está utilizando apenas uma mão? Com certeza. Eu vou soltar a mão dele? Não, obrigado.

Estou quase terminando a minha lista, e de repente me vem uma vontade de ter uma lista quilométrica, apenas para passar mais tempo ao lado dele.

— Acho que estamos segurando uma coisa aqui Rodrigo — aponto para as nossas mãos dadas, e com certeza tem algo lá dentro, já que o que quer que seja começa a fazer cócegas.

— Quando eu disse que queria comprar um beijo, não quis que você pensasse que eu estava mentindo. Já menti o suficiente quando disse que o pagamento nós combinaríamos e nem conversamos sobre valores. Por isso o que estamos segurando nesse momento é um cheque.

— Eu não quero — digo com firmeza e coloco o papel no bolso de sua bermuda.

— Mas foi o combinado...

— O que acabou de acontecer aqui não tem preço Rodrigo. Eu não vim aqui pelo dinheiro — sinto a garganta fechar por soltar essa meia verdade. Posso conhecê-lo a poucas horas, mas sinto que devo a ele a verdade. Não pode ser diferente.

— Na realidade, e-eu tenho que te confessar algo — minha voz falha e tenho que respirar fundo para não afundar na mentira.

— Mal começamos e já vou ouvir uma confissão? — seu sorriso é tão doce que me quebra, pois não é por esse lado que a minha próxima frase vai caminhar.

— Na realidade eu sou jornalista — não consigo olhar em seu rosto, mas sinto quase uma dor física quando sinto o nosso ponto de contato romper. — E eu realmente vim aqui para fazer uma matéria com você. Achei que fosse mais fácil se eu apenas respondesse o seu anúncio. Mas acabei que fiz tudo errado.

— Você mentiu... — ele se afasta um passo.

— É, menti. Ou omiti, não é como se você tivesse perguntado qual é a minha profissão! Eu apenas não tive a oportunidade de falar para você o que eu faço da vida, profissionalmente.

— Eu não costumo perguntar profissões pois a grande maioria nunca está satisfeito com o trabalho que tem. A pessoa acaba se limitando ou adquirindo um formato que não tem para se encaixar numa profissão. Prefiro falar sobre sonhos, desejos, pensamentos, que esses dizem muito mais sobre alguém do que o nome de uma folha de pagamento!

— E você está certo, tudo isso que conversamos fez você me conhecer muito melhor do que apenas te falar que eu trabalho num jornal! Até eu me conheço muito melhor agora! Eu sou muito mais do que as pessoas que me contratam!

— Sei disso, mas como é que eu vou deixar de lado o fato que você só veio falar comigo por conta de uma matéria?

— Por favor, não pense que você é só isso. Tá, eu não falei o motivo que me chegou vir aqui num primeiro momento, mas tudo o que conversamos é verdade. É real. Você realmente acredita que alguém, pelos motivos que fossem, conseguiria fingir o que aconteceu aqui entre nós dois?

— E-eu, eu não sei de nada agora. Só sei que até mesmo o caminho certo machuca.

— O caminho certo só teve um atalho no começo duvidoso — ele solta uma risada amarga.

— Mas pensa pelo lado positivo... Pelo menos agora você tem a sua matéria — Rodrigo me dá as costas, deixando seu carrinho de compras para trás e meu corpo vai involuntariamente atrás dele, e eu o alcanço, minha mão apoia em seu ombro.

— Por favor, espere — digo com uma voz esquisita, anasalada.

— Por favor, não — sua voz está tão dolorida, quebrada, que apenas deixo o braço cair, e ele vai.

Deixo o meu carrinho também para trás, e vou direto para a sessão de vinhos. Me abraço com cinco garrafas do meu vinho favorito e ainda no caixa ligo para a Ali.

— Mudança de planos. Preciso de você — digo engolindo com muita dificuldade o nó em minha garganta. 

Compra-se um BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora