I

99 13 9
                                    

— OLÁ Rodrigo— digo com um sorriso envergonhado e sincero

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

OLÁ Rodrigo— digo com um sorriso envergonhado e sincero.

— É um prazer conhecê-lo — ele estende a mão na minha direção e assim que eu seguro, sinto algo como fogo correr pelo me corpo. Acho que ele também sente algo parecido, já que olha para a nossa ligação com genuíno espanto.

Rodrigo é mais alto que imaginei, ganhando da minha altura em quase um palmo. O cabelo é farto, escuro e levemente cacheado nas pontas. O nariz levemente torto para a esquerda e com uma pequena argola prateada ornando. A boca é desenhada e levemente rosada. Não consegui ver a cor de seus olhos por conta de seus cílios curtos e cheios. O reflexo dos óculos também atrapalha um pouco. A sobrancelha direita é levemente falhada.

— Também percebi que tenho de comprar algumas coisas — ele completa logo depois de limpar a garganta. E só então percebo que ele também puxa um carrinho de compras.

— Então é a união do útil ao agradável para nós dois — desvio ainda mais o assunto sem querer pensar demais no meu coração que está acelerado.

— Parece que sim — ele ergue o olhar e tenho certeza de que aconteceu um terremoto, pois de repente eu tive que me concentrar para manter o equilíbrio.

A cor não era nada tão impactante, o castanho escuro é bem parecido com o meu, mas é algo relacionado ao modo como ele sustenta o olhar. O jeito como aquele olhar parece ver algo em mim que ninguém viu antes. É reconfortante e desconcertante.

Depois do que pareceu ser uma eternidade, mas que não deve ter sido nem um minuto, ele desvia o olhar o meu e limpa mais uma vez a garganta.

— Posso te fazer algumas perguntas? — ele diz coçando levemente a nuca.

— Claro, fica à vontade, eu também posso perguntar caso queira, não é?

— Sim, sim! — ele sorri, mas não olha mais na direção. Ele também tira uma lista do bolso e começamos a caminhar pelos corredores do supermercado, colocando algumas coisas no carrinho durante o processo.

Ele pergunta onde estudei na infância, o que gosto de fazer nas horas vagas, e as músicas que eu escuto com mais frequência. E pergunto a ele o que faz, seu signo e se ele tem família por perto. Rodrigo escuta tudo com atenção e seu rosto é muito expressivo, e ele faz o meu coração palpitar sempre que está concentrado, analisando as minhas respostas. Sua voz é calma, aquecida, firme.

A nossa conversa é tão descontraída, e em poucos minutos parece que ele é um amigo antigo e que nos encontramos depois de muito tempo para colocar os papos em dia. Um amigo que percebo que me deixa confortável e possivelmente me apaixonaria por ele antes de saber que é amor.

— Por que você está comprando um beijo? — não consigo segurar a minha curiosidade.

— Eu já deixei muita gente de aproximar de mim, e todos eles, se aproximavam por conta de interesse, e como eu só descobria esse interesse tarde demais, acaba me frustrando, e claro, machucado. Então pensei que se talvez eu começasse algo com alguém já sabendo do interesse dele, me pouparia a dor de cabeça — seu sorriso é triste.

— E está dando certo?

— Está e não está. Conheci muita gente legal, passei a me conhecer muito melhor, e aumentei as minhas habilidades interpessoais, mas não me parecem certo. Até cheguei a pensar que estou fazendo tudo errado, que isso nunca vai dar um bom resultado, que eu só vou acabar me machucando ainda mais. Mas algo dentro de mim grita que estou na direção certa.

— Só ainda não encontrou o seu caminho — digo e ele para de caminhar, me olhando de um jeito tão sério que por um momento penso que falei algo condenável.

— Meu caminho — ele repete meio abobado e pisca aturdido. — Claro, isso faz todo o sentido.

— Acho que sim. Você encontrará esse caminho, mais cedo ou mais tarde. Talvez até já tenha começado a trilhar ele, só que ainda não percebeu. Você já deu o passo mais importante para alcançar a plena felicidade Rodrigo, você está tentando. Não é algo fácil, e tenho que dizer que admiro a sua coragem.

— Obrigado — sua voz fica um pouco embargada. — Seria muito estranho se eu falasse agora que parece que eu te conheço por toda a minha vida?

— Não, pois eu tenho o mesmo sentimento aqui dentro de mim — digo numa sinceridade tão gritante que dou um passo para longe dele. Meu corpo claramente não está preparado para essa intensidade.

— Ainda bem que não sou o único — ele abre um sorriso tão brilhante que me atrai, quando olho em seus olhos, percebo que não estou mais no controle. Dou dois passos em sua direção.

— Sabe, eu sempre debochei desses tipos de sentimento sabe? Essa coisa de atração à primeira vista, suspiros, pernas fracas e coração acelerado. A gente lê os relatos escritos nos livros, vê a coisa nos filmes...

— Mas ninguém está preparado para a coisa quando acontece de verdade — ele completa e dá mais um passo em minha direção.

— A gravidade parece mudar, o corpo não parece obedecer a mais nada — e mesmo assim me aproximo um pouco mais.

— O resto do mundo desacelera, os arredores somem, tudo o que você é, vê e sente é posto em outra perspectiva — estamos tão próximos que sinto o cheiro suave de amaciante na sua camisa. — Diga pelos céus que você ainda está interessado...

— Absolutamente — e com toda fibra que me compõe.

Ele então retira um papel do bolso e coloca na minha mão. Entrelaça nossos dedos, e aquela conexão inexplicável volta a acontecer. Com os nossos dedos ainda entrelaçados, Rodrigo passa seus braços pela minha cintura e removendo todos o espaço entre nós, me beija. 

Compra-se um BeijoWhere stories live. Discover now