Castigo ✰

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— Eu morri.

— Não, você não morreu. Apenas levou uma pancada muito forte na cabeça. Mas parece que sobreviveu.

Livia estremeceu na cama do hospital ao ouvir a voz de um homem e virou-se para o outro lado bem rápido, parou e gemeu quando uma dor nas costas e na cabeça a lembrou de que estava mesmo viva.

— Bom dia. Eu sou o Dr. Carter e recomendo que vá com calma. Você não tem nenhum ferimento grave, mas ganhou alguns hematomas na região da cabeça e das costas ao atingir uma calçada, por isso vai ficar aqui por mais algumas horas em observação.

— Por que você disse bom dia? Ainda é de tarde. Por acaso você nunca sai do hospital? Está preso aqui e nunca vê a luz do dia?

— Parece que está de mau humor. Vou mandar alguém trazer o café da manhã.

— Eu nunca mais vou comer nada. Por que você insiste com isso? Ainda não era noite quando aquele ladrão tentou levar minha bolsa.

— Você está, estava, inconsciente desde ontem.

Livia piscou devagar. Desviou o olhar e voltou a olhar para o médico pensativa e desconfiada.

— Vocês me doparam? Eu nunca durmo tanto assim. Você me drogou sem a minha permissão?

O doutor inspirou fundo pra manter a calma.

— Não foi necessário usar nenhum tipo de sedativo, e você não estava dormindo, estava inconsciente, simplesmente não acordou em momento algum desde que chegou... ontem à tarde. — Frisou o doutor. — Mas não se preocupe, ããhh, senhorita... — Ele folheou um papel em sua prancheta. — ...Miller, Livia Miller. Fizemos uma ressonância e alguns outros exames e você está bem, não há nada de errado com você.

— Você está brincando? — Ela se sentou de repente e sentiu a dor na cabeça pulsar forte, mas ignorou. — Está tudo errado comigo, eu morri, sim. Eu sei disso porque eu não sinto o meu coração. Olha só. — Livia colocou a mão no peito. — Está vendo? Não tem nada aqui. Não tem mais coração, não tem mais porque ele foi esmagado.

Livia começou a chorar. Chorava como uma garotinha que perdeu o doce, com direito a bico e tudo.

O doutor olhava para ela com uma expressão neutra.

— Você costuma beber? — Perguntou ele enquanto escrevia algo em sua prancheta.

— Eu não estou bêbada. Eu estou sofrendo. Vocês médicos são tão insensíveis. — Ela levantou o olhar e o encarou. — Por favor, doutor, eu preciso de um remédio. Eu não consigo respirar, está doendo bem aqui e está doendo muito.

Ele franziu os olhos.

— Mas esta não é a região onde você se machucou, é impossível que haja qualquer lesão em seu tórax.

— Você não sabe de nada. Por quantos anos você estudou? Dez? Quinze? Tanto tempo assim e não aprendeu nada. Aqui. É bem aqui. Por que não acredita quando eu digo que está doendo? Por que não acredita quando eu digo que está doendo? Choramingou ela colocando a mão no coração de novo e o doutor suspirou impaciente mais uma vez. Choramingou ela colocando a mão no coração de novo e o doutor suspirou impaciente mais uma vez.

— Eu acredito. — Disse o doutor. — Mas sinto muito, não temos remédios pra esse tipo de ferimento.

Ele deu as costas para sair e o choro de Livia se intensificou ainda mais. Ela se deitou de lado e se encolheu debaixo da coberta.

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