Capítulo 2 - O Baixo e o Sangue

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- Ah, você sabe. Você é a menina nota dez e eu sou a encrenca garantida. - ela disse, com um tom um pouquinho debochado.

- Bem, não estamos num filme adolescente - Bonnibel respondeu, ajeitando o óculos de forma constrangida. - E se estivéssemos, faria mais sentido você me julgar por ser a nerd nota dez.

- É, você tem um ponto. Sorte sua que não é um filme, então - a outra respondeu, com um sorriso de deboche. - Prazer, Marceline. Marceline Abadeer.

- Bonnibel Andrews.

- Bonnibel - Marceline repetiu, fazendo uma expressão de aprovação com o lábio inferior entendido e um aceno de cabeça. - Gostei, é chique. Combina com você.

- Hmm... obrigada?

- Você é muito formal, menina nota dez. Ok, eu sou a extrovertida e você é a introvertida, e todo mundo sabe que a missão dos extrovertidos é adotar um introvertido. Você vai almoçar comigo - disse Marceline, recolhendo os demais livros de Bonnibel e gentilmente os ajeitando na mochila que estava esquecida em cima da mesa.

- E se eu não concordar com isso? - disse Bonnibel, tentando usar a postura mais séria possível para disfarçar o rubor crescente em seu rosto.

- Eu entendo da sua língua, tá legal? Encarar demais tentando não ser vista é igual a querer amigar sem saber como, porque você não é fã de começar diálogos. Então eu vou fazer essa parte pra você. Vamos, eu tô com fome!

No mesmo instante, o sinal do almoço tocou, e Marceline saiu, animada. E Bonnibel não teve outra opção que não seguir atrás, porque Marceline ainda estava carregando sua mochila.

•~•~♪~•~•

Já haviam bem uns dez anos desde aquele primeiro encontro desajustado na biblioteca. E a Marceline esperando na porta, com as mãos nos bolsos, era bem diferente.

Em primeiro lugar, era fisicamente diferente. O redondo do rosto tão típico da adolescência já tinha cedido de vez, dando lugar a um maxilar marcado e rosto magro. Haviam marcas de expressão novas na testa, ao redor dos olhos. Sempre fora magra, mas agora parecia um pouco mais do que na época de escola.

Mas o que realmente chamava a atenção é que a Marceline de vinte e seis anos era muito mais curta e grossa do que a de dezesseis. Quando conheceu a garota, Marceline precisava se esforçar para parecer durona, porque no fundo era solicita, amigável, gentil. Era a extrovertida disposta a cumprir o seu papel de "adotar" a menina nerd e introvertida. A garota com camisa de banda de rock ouvindo pop farofa às escondidas.

A Marceline de agora era uma muralha. A expressão presa num eterno olhar desconfiado, a postura sempre alinhada para manter uma distância considerável. A Marceline adolescente falava pelos cotovelos sobre todas as coisa que amava, a Marceline superstar falava apenas o estritamente necessário.

E definitivamente, a Marceline de vinte e seis anos não tinha o mesmo brilho no olhar que a de dezesseis tinha sempre que seus olhos caíam sobre Bonnibel.

Bonnibel entrou na casa após um cumprimento rápido, em meio a um bocejo. Quem diabos fazia uma reunião desse tipo as uma e meia da manhã? Levaria um tempo para se adaptar aos horários malucos da outra mulher.

- A cozinha é por aqui. Aceita um café?

- Sim, por favor. Vou precisar.

- Pensei que estivesse acostumada a virar a noite escrevendo - brincou ela, com um meio sorriso nos lábios enquanto colocava água na cafeteira. E ali Bonnibel quase conseguiu ver um pedacinho da antiga Marceline. Quase.

Depois da Meia-Noite (Bubbline AU)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora