— Aquela moça é namorada do Sebastian? — Pergunto.

— Anna?

— Sim. Eu acho.

— Por que deseja saber?

— Se vou me casar obrigada — enfatizo — tenho que saber pelo menos essas coisas, não acha?

Ela exclama um "tsc" com a ponta da língua.

— Deveria perguntar isso a ele. Não tenho permissão para dizer nada.

Cruzo os braços.

— Ele deveria se casar com a tal Anna.

— Não entendo porque está tão reclusa. Sebastian é um homem rico, jovem e muito bonito. Aposto que muitas mulheres dariam a vida para viver isso no seu lugar, aposto não, tenho certeza.

Olho para ela fazendo a mesma largar as tranças em meu cabelo.

— Fica mais fácil quando não se obrigada. Nunca desejei isso, Marília. Não me importo nenhum pouco com o dinheiro ou a beleza do Sebastian. — Falo com a voz embargada. Volto para aposição de antes, ela volta a trançar meus cabelos. — Amo outro.

— Outro?

— Sim.

— Onde ele está?

Eu realmente não queria chorar na frente dela. Coloquei a língua no céu da boca para isso não ocorrer.

— Morto.

Marília se calou por alguns instantes, ficamos em um silêncio estranho até ela finalmente finalizar minha trança jogando para o meu ombro.
Levantei do sofá, parecia uma criança mostrando a roupa nova para a mãe.
Marília mostrou um pequeno sorriso finos, então desviou o olhar e começou a caminhar na minha frente, aquele era o sinal para eu segui-la.
Durante o percurso eu quase caí incontáveis vezes, tinha que me segurar nas paredes para não me esborrachar no chão. Nunca usei sapatos assim, vivia descalço pela boate, até mesmo quando ia cantar.

Nós finalmente chegamos na sala. Os mordomos andavam apressados com alguns pratos nas mãos, parecia um jantar real.
Cruzei os braços enquanto Marília conversava com uma empregada em outro idioma, pareciam discutir sobre o cardápio ou algo parecido. Durante breves minutos eu vi a porta da frente se aberta pela primeira vez enquanto um homem — aparentemente mais um mordomo — entrava. Ele deixou a porta aberta.
Olhei para Marília, ela se afastava cada vez mais de mim.
Meu corpo vibrou quando eu saí em disparada para o lado de fora. Corri mesmo ouvindo gritos atrás de mim.
Dei de cara com um chafariz de anjos no meio do caminho que espirrava água para cima cercado por um jardim de flores.
Corri. Corri muito.
Minha boca tinha gosto de sangue.
Larguei os malditos sapatos no chão, a trança que Marília fez desmanchava a medida que eu corria.
Não me importei com o frio, pois a adrenalina me fazia suar o corpo inteiro.

Chegando no portão preto com duas gárgulas de cada lado, a minha única opção seria pular, mesmo que ele fosse três vezes mais alto que eu. Agarrei nas grades e posicionei o pé em outra, assim fui escalando até chegar em cima. Olhei para trás, tinha pessoas atrás de mim. Voltei minha atenção para o chão, a queda seria dolorosa, mas seria, talvez, minha única oportunidade de fugir.
Pulei.
Pensei que cairia de pé, porém pisei em falso, acabei caindo em cima  do meu tornozelo com toda minha força corporal. A dor me fez gritar.
Olhei para trás eles já estavam muito perto.
Levantei do chão com dificuldade, tentei usar o pé, mas doía, parecia que eu não tinha mais força ali. Mesmo assim tentei voltar a correr, mesmo mancando. Eu olhava para os lados, via apenas os pinheiros, a casa era em um local completamente deserto, então eu me desesperei ainda. Era um local perfeito para desovar um corpo.

Corria com a dor aumentando cada vez mais, meus dentes batiam um no outro com força enquanto atravessava o vendo, meu corpo tremia, coloquei as mãos nos braços e continuei andando pelo acostamento.
Enquanto eu corria, uma luz forte irradiou na estrada, à medida que se aproximava eu percebi ser um farol. Voltei para o meio da rua e comecei a acenar, gritar e implorar por socorro. O carro — um conversível preto — parou bem em frente a mim. Um alívio percorreu meu corpo. Eu finalmente sairia daquele inferno, só que não. Sebastian saiu do carro batendo a porta com força, tentei correr na direção oposta, mas ele me alcançou e agarrou na minha cintura por trás me levantando do chão.

— Me larga, seu verme! — Continuei me debatendo. — Socorro!

— Pode gritar a vontade, ninguém vai te ouvir! — Respondeu ele num tom de pura raiva.

— Me solta. Você é maluco!

Ele me coloca sentada no capô do carro, segura firme minha bochecha me forçando a olhar para ele enquanto o outro braço apertava minha cintura contra seu corpo.
Ainda não vira ele com tanta raiva.

— Eu estou a polegadas de atirar na sua cabeça, porra!

— Atira. Vai ser o único favor que vai estar me fazendo. — Falei com dificuldade, pois sua mão ainda apertava meu rosto.

De repente Sebastian saca um revólver do bolso de sua calça, encosta o cano na minha cabeça.
Seus olhos ainda fitavam os meus com tanta ira que fez um arrepio subir na minha espinha.

— É isso que você quer, não é? Os seus malditos miolos espalhados pelo asfalto. — Rosnou. Seu hálito foi de encontro com meu rosto.

Engoli a seco quando ouvi a arma sendo engatilhada.

— Sabe o porquê da minha casa ser tão distante? — Perguntou, seus olhos pareciam os de alguém que estava disposto a fazer qualquer merda. Não ousei responder. — Pra ninguém ouvir seus gritos. Jade, eu estava realmente disposto a fazer as coisas serem mais fáceis, porém você quer o pior de mim, quer me ver dessa maneira, com uma arma na sua cabeça.

— Faça isso de uma vez, seu frouxo — Esbravejo.

Ele sorri sarcasticamente.

— Você é esperta. — Sua mão aperta na minha bochecha puxando meu rosto para perto, ele gruda sua cabeça na lateral da minha, encostando os lábios na minha orelha. O toque de seu lábio no lóbulo da minha orelha quase me fez gritar. — A morte será sua recompensa. Ainda quero te fazer sofrer um pouco mais.

Ele me larga e caminha em direção a porta do motorista.
Eu não tinha mais para onde correr. Enxuguei minhas lágrimas e pulei no chão, foi quando lembrei que torci o tornozelo. Caí no chão apertando o local e reclamando de dor, a adrenalina passou, só restava a dor.
Vejo Sebastian sair do carro mais uma vez e olhar-me como se eu fosse uma barata, ele passa seus braços no meu corpo me erguendo do chão, passei meus braços ao redor do pescoço dele por reflexo. O corpo dele era quente, parecia estar pegando fogo, seu peito descia e subia exasperado e o cheiro de perfume caro invadiu minhas narinas.

— Espero mesmo que tenha quebrado. — Disse olhando para meu pé.

Respirei fundo e olhei para o outro lado. Era humilhante demais.
Ele me colocou no banco do carona e entrou em seguida dando partida de volta para a mansão.

Perverso Where stories live. Discover now