Capítulo 31

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Observar Sebastian dormindo me trazia uma estranha sensação de paz, ele não parecia uma pessoa ruim com toda essa luz em seu rosto, na verdade, era muito belo, até mesmo com a barba por fazer e o rosto machucado.
Deitei minha cabeça sobre o braço, a ponta do meu dedo foi de encontro com o seu rosto, desenhando todas as curvas e parando em cima dos lábios aveludados.
Minha boca abre sozinha sem sequer uma palavra.

A noite anterior fora muito agitada, eu sentia meu coração pesado por tudo que ouvi. Sebastian sofreu e ainda sofre, acredito que enquanto guardar todo esse ódio, que já passou a ser um veneno, sua vida nunca irá mudar, mas eu mesma ainda tenho meus monstros do passado a enfrentar.
Olhei ao redor.
Aquela cor me fazia querer gofar, se tornava ainda mais triste com a luz do dia.

— Sinto muito pela noite anterior. — Sebastian disse ainda com os olhos fechados. Recolhi minha mão de imediato. — Nunca mais vou beber.

— Tudo bem.

Ele finalmente abre os olhos e deita de barriga para cima, fitando o teto com algo indecifrável no rosto.

— Você deve me achar ainda mais infeliz.

— É triste. — Admito.

Virou seu rosto de encontro com o meu.

— Não sinta pena.

— Não sinto.

— Certo.

Levantei da cama o deixando, andei até a garrafa de vodca estilhaçada no chão, o líquido já havia evaporado deixando apenas uma mancha marrom no carpete. Agachei e comecei  juntar os cacos na minha mão, não queria que alguém se acidentasse com aquele vidro.

— Essas coisas vermelhas servem de algo na sua vingança? — Pergunto. — Me perguntei isso a noite inteira, não acredito que seja coincidência.

— Pensei que você seria a pessoa mais sensível em relação a isso. — Ouço a cama ranger.

— Eu também já sofri, e ninguém nunca foi sensível a respeito disso. — Rebato.

Ouço ele sorrir atrás de mim.
Colocando um dos cacos em cima da minha mão acabei me machucando, o sangue rapidamente misturou-se com os vidros.
Engoli o ar pelos dentes.
Sebastian caminhou na minha direção puxando minha mão para cima, analisando o ferimento.

— Não precisava limpar. — Ele rola os olhos até os meus. — Vamos lavar isso.

Fomos até o banheiro, a água fez arder ainda mais, porém me mantive rígida, pois meu corpo inteiro parecia quente próximo dele.
Ele limpava o ferimento com o dedo, sem piedade, fazendo o sangue ser levado para o ralo e sumir.

— Eu te faço lembrar dela?

Suspirou.

— Não deve se preocupar com isso.

— Por que estou aqui se tudo que lhe trago é dor? Não faz sentido.

Sinto ele apertar com mais força o ferimento, então der repente para e coloca a toalha de rosto em cima da minha mão.

— Desde que vi você naquele terraço senti algo estranho, algo que nunca senti por ninguém, urgência em proteger. Não parei de pensar em você desde aquele dia. — Encostou suas costas na parede a polegadas de mim. — Então tirei a conclusão de que talvez fosse porque você me lembra minha mãe, na aparência não, mas na maneira de agir. Você me faz lembrar do motivo que aqueles malditos me deixaram vivos, me faz querer matar um por um.

Pisco algumas vezes olhando para a toalha já manchada de sangue.

— Está me usando como combustível para essa a sua vingança? — Meu peito desce e sobe a medida que o silêncio entre nós aumenta, o "sim" que não saiu de seus lábios parecia cada vez mais aparente. — Foi erro meu pensar que você queria apenas realizar o último desejo do seu pai. Eu acreditei fielmente nisso, assim como acreditei que me libertaria.

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