[14] mercúrio retrógrado que se dane

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Não tem como negar.

Não existe possibilidade alguma disso acontecer.

Eu estou apavorado por dentro, confesso, mas acho que ninguém nunca se enroscou em mim desse jeito carinhoso, ou desejou tanto minha companhia como ele deseja.

Acho que é esquisito porque agora consigo começar a enxergar o lado carinhoso de Jimin, sua sutileza e doçura. É estranho porque nunca fomos assim, somos praticamente opostos e nunca nos tratamos com muita educação.

De repente, eu que sempre fui de tomar decisões estratégicas e sempre me mantive centrado em absolutamente tudo, encontro meu lado inquieto, birrento, cheio de uma marra difícil de lidar.

Eu não sei por qual razão quero acompanha-lo, mas meus pés me levam até a área interna da casa noturna.

Ele me manipulou tão fácil.

— Jungkook, veja! — Jimin diz alto o bastante para a rua inteira ouvir, mas tudo bem, afinal o som aqui dentro é realmente alto. — Veja! Luzes coloridas!

Ele diz assim, com a maior inocência do mundo.

O mesmo Park Jimin que me aterroriza todos os dias e se insinua à cada segundo é o responsável por dizer algo tão puro e adorável, deixando que seus olhos brilhem e suas pupilas dilatem quando as luzes coloridas cobrem seu corpo.

É lindo.

Os meus olhos parecem um pouco hipnotizados pela visão do seu corpo sob as cores que o pincelam feito uma pintura, e é por isso que travo logo de cara.

A dança esquisita que Park faz para acompanhar as luzes é exatamente o que me faz cair por ele, porque nenhuma outra pessoa desse lugar é assim.

Ele é birrento, teimoso, excêntrico e sem vergonha.

Mas agora é puro, alegre, sorridente e sonhador.

Talvez esse seja o lado que as pessoas nem mesmo tentam conhecer. Só enxergam o garoto-confusão, seu corpo enlouquecedor e sua marra irritante. Sei que isso acontece porque eu mesmo enxerguei Jimin dessa forma por tanto tempo.

O que me instiga é que sua própria família o trata assim. Vamos lá, o garoto simplesmente fugiu de casa para tentar a vida em Seul sem dinheiro no bolso, sem planejamento e com todos os cartões de crédito bloqueados. Seus pais não se preocupam nem um pouquinho? Eles não pensam em contata-lo às vezes pelo menos?

Eu sei que isso dói em Jimin. Eu já espiei pela fresta da porta do seu quarto — juro, sem querer — seu corpo sentado no chão, quietinho em um canto tentando ligar para os pais. Já ouvi diversos xingamentos baixos porque ninguém quis atende-lo, e certa noite que ele passou em claro no sofá da sala mandando áudios para sua mãe dizendo que sentia saudade. Ninguém nunca liga de volta pra ele.

Acho que eles ainda enxergam o Jimin encrenqueiro, mas o Jimin adorável poucos têm a chance de conhecer.

Eu estou conhecendo.

O Jimin adorável ensina Yoongi a dançar no fim do expediente, assim como já peguei no flagra pelo vidro da sorveteria antes de entrar. O Jimin adorável me traz chocolate de presente — e ele mesmo come porque está com raiva de mim, mas tudo bem. O Jimin adorável me limpou enquanto eu dormia depois de quase transarmos em uma festa aleatória e inesperada.

São atos pequenos, mas que pouco à pouco se tornam gigantescos.

— Você não pode beber, mas eu posso. — Ele diz em puro estado de animação. — Vai cuidar de mim, sugar?

— Se você não parar com esse apelido...

— Rude. — Agora ele se aproxima, praticamente se pendurando em meu pescoço, mas se afastando rapidamente assim que percebe que tocou no início da tatuagem feita horas atrás. — Desculpa. Eu te machuquei?

HELLISH • jjk x pjmWhere stories live. Discover now