Meus olhos escorreram até chegarem no chão. Gisele tinha razão, já fazia um ano que eu e Ethan éramos amigos, ele já me viu em tantas situações que o mínimo seria um fora.
Gisele pigarreia.

— Tenho que preparar o show de hoje. Pense no que eu disse.

Continuei no terraço até a casa começar a encher de gente. Hoje não cantei, por isso fiquei no bar observando o movimento. Ethan olhava-me do outro lado do salão, eu revirava o copo com água que o barman me serviu. Não saberia como dizer a ele meus sentimentos, parecia tolice em meio ao que vivemos, tantas coisas ruins, o menos esperado seria ele saber sobre os sentimentos de uma garota.
Quase tive um ataque cardíaco quando senti a respiração pesada dele atrás de mim, em seguida sentou ao meu lado ainda observando a apresentação da Gisele.

— Por que sinto como se estivesse me evitando?

Virei o copo de água nos lábios para disfarçar minha vergonha.

— N-não estou...

Sua boca se curvou em um pequeno sorriso que logo se desfez.

— Gisele engordou, não acha?

Engasguei com a água, ele me olhou preocupado.

— Está bem? — Segurou meu braço.

— Sim, estou. — Passo a costa da mão nos lábios. — Não deveria sair por aí dizendo isso.

— Não foi apenas eu, May comentou isso hoje.

Arregalei meus olhos quase engasgando com a água novamente. Por sorte já avistei o médico que faria o procedimento, pedi aos céus que Gisele finalizasse logo sua apresentação.

— Você está estranha essa semana inteira, tem algo acontecendo?

Balanço a cabeça.

— É por eu te beijar? — Perguntou direto.

— Q-quê? Não, Ethan...

— Caso seja desconfortável para você me diga.

Viro para a mesa do bar tentando esconder minhas bochechas vermelhas.

— Pode ter certeza que não é desconfortável. — Suspiro — tem tantas coisas acontecendo na minha cabeça.

Sinto ele se aproximar.

— Se eu pudesse a beijaria agora, isso te acalmaria?

Engulo a seco.
Afirmo com a cabeça e ele sorrir.
Gisele sai do palco indo direto para o colo dos homens, percebo em sua expressão que ela parecia nervosa, senti necessidade de apertar sua mão e dizer que ficaria tudo bem, mas nem eu tinha certeza disso.

•  •  •

O médico — um homem calvo, baixo de pele parda — esperava impaciente pela Gisele, o vi tomar suas margaritas enquanto ignorava as meninas sentando em seu colo. Monitorei todos os seus passos, para ter certeza que ele não iria embora. Provavelmente seria o último cliente da Gisele hoje.
Olhava para a porta que Gisele entrou há quase meia hora e de relance para ele. Minha respiração apertou quando eu o vi pegar sua maleta e levantar. Corro até ele.

— Não pode ir agora. — Peço.

— Já estou aqui há horas, sua amiga não parece estar tão interessada. — Respondeu ele bravo.

Seguro seu braço, ele olha para a minha mão com o cenho franzido.

— Por favor, não vai demorar mais, eu prometo.

Vemos ela dobrando a esquina vindo na nossa direção com uma expressão nada boa.

— Ali está ela! — Aponto em sua direção.

Perverso Where stories live. Discover now