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Sophia

Vamos começar dizendo que estou atrasada para a primeira aula da manhã. É um segundo a mais que estou fora da sala de aula e já consigo imaginar a raiva do professor Pietro. Tudo seria tão belo e mais fácil se eu simplesmente não tivesse escutado Mila ontem e tivesse ido dormir cedo, ao invés de ter ficado até madrugada maratonando Gray's Anatomy.

Pro inferno com essa série. Nem sei como fui parar no 10° episódio da 5° temporada em apenas três dias. Eu sempre jurei com todas as forças que odiava aquela porcaria. Com mil diabos, é uma série sobre médicos! A adolescente fã de fantasia e mundos irreais estava gritando dentro de mim dizendo: "largue essa droga agora e vá assistir um Teen Wolf!"

Mas lá estava eu, viciada como se estivesse ingerindo algum tipo de droga alucinógena, focada na televisão, praticamente hipnotizada. Quando dei por mim, já era 3 da madrugada de uma segunda-feira e eu teria que levantar cedo para ir até a faculdade fazer o que eu realmente deveria estar focada em fazer: estudar.

Preciso arrumar uma nova bolha de amigos. Os meus são o meu total oposto. Todos vivem me dizendo "Sophia, pare de ser tão sem graça e viva um pouco a vida". Mas ninguém entende em como eu só penso no meu futuro em primeiro lugar. E pode me chamar de maluca, mas eu gosto de passar horas estudando. Talvez a rotina fazendo isso me fez entrar em uma zona de conforto, mas sinto que gosto. Mas claro, nenhum deles entenderia isso.

Paro na frente da porta da sala — que já está fechada — ouvindo a voz do professor abafada vindo lá de dentro. Sinto o constrangimento antes mesmo de entrar. Já posso imaginar a turma voltando a atenção para mim e o olhar de decepção do senhor Pietro ao me ver chegar uma hora dessas.

Seria mais fácil pular essa aula e entrar apenas na próxima, pensei. Eu era uma covarde às vezes. Quase sempre.

Tive um sobressalto ao sentir braços ao redor da minha barriga. Alguém estava me abraçando por trás, e eu já sabia quem era.

Senti o cheiro de banho recém tomado do meu melhor amigo pairar ao meu redor. Igor estava com os cachos molhados, com certeza.

Ele me abraçou forte e resmungou alguma coisa enquanto eu ainda encarava a porta tendo minha crise de decisão.

— O que disse?

— Estou morrendo de sono — Ele repetiu.

Não era para menos. Eu conhecia meu melhor amigo muito bem e sabia que no mínimo, ele deve ter ficado até altas horas em alguma festa de domingo, bebendo e se divertindo. Às vezes tenho inveja dele. Tudo parece tão fácil de sua perspectiva.

— Esteve fora até tarde ontem?

— Hum. Sim.

— Bom, pelo menos tomou um banho antes de vir. Você está cheirando bem.

Ele me soltou e me virei para ele, percebendo que ele tinha um meio sorriso nós lábios.

— Estou usando perfume também. Sei como você gosta desse cheiro. — Ele levou a mão até a ponta do meu nariz e o cutucou. — O que está fazendo aqui, parada?

Suspirei. Ele me lembrou do meu impasse de entrar e encarar meus problemas ou simplesmente fugir para o banheiro feminino.

for the first time; sophigor Where stories live. Discover now