Acontece que May não tinha apenas minha tutela, ela era amiga dos meus pais antes de tudo, do acidente deles. Sempre a tive por perto desde que me conheço por gente, me perguntava como meus pais não perceberam com que tipo de coisa ela se metia. 

— Ele não queria apenas uma das minhas virgindades, May. — Minha voz saiu embargada.

— Que se dane, Jade! — Aperto os olhos temendo um tapa. — Terá que dar ao cliente o que ele quiser aqui dentro. Jamais iremos encontrar um homem tão rico quanto ele. E a nossa reputação?

Não diria que uma boate clandestina tivesse uma boa reputação, mas para May era sua vida.

— Você disse que eu iria apenas cantar, foi esse nosso acordo. — Alego.

Apesar da pouca iluminação e a fumaça dentro daquele cômodo vermelho, eu vi a expressão de ira que formou no rosto de May.

— Não importa mais o que combinamos antes de vir para cá, agora é um das outras, e sugiro que se enquadre como tal! — Rosnou.

Meu peito se enche de raiva, por ter acreditado nas suas palavras antes de viajar para cá. May me prometeu o mundo, disse que eu seria uma cantora famosa, que todos os cantores começam cantando em bares pelo mundo.
Fui ingênua.
Caí feito um patinho, achei que seria paga apenas pela minha voz não pelo meu corpo.
Uma tremenda idiota.

— Não tem como acabar com a reputação de um lugar sem ao menos ter uma. — Murmurei.

O tapa veio, tão forte que me fez cair no chão, ela deveria estar cansada da surra que me deu mais cedo, pois esse foi um dos que menos doeu.
Levo a mão até o lugar, minha bochecha ardia, provavelmente estava vermelha.
Subo o olhar até ela que me encarava de cima com o nariz de pé, como alguém soberana a mim.

— Achou que sua vida está ruim agora? — May segura meu queixo a ponta do dedo indicador — vai piorar, será um inferno. Desejará sua morte todos os dias.

May me chutou para fora do seu escritório. Vicent que me esperava do lado de fora, segurou em meus braços e me arrastou até o quarto, depois trancou a porta como de costume.
As meninas estavam proibidas de falar comigo, nenhuma delas foi atenciosa como Ethan, simplesmente ignoraram minha presença. Naquela noite tive que dormir no chão como forma de castigo.

•  •  •

Além dos olhos verdes herdei de minha mãe a vocação para cantar. Eu não me considerava boa em nada, mas sabia manusear minha voz. Cantar me fazia esquecer a minha realidade, me levava à um lugar onde era somente eu e a música.
Cantei durante todos esses anos que passei aqui, antes das meninas fazerem seu show, pular no colo de homens ricos e encantar eles com seus belos pares de seios eu os encantava com minha voz. Estava dando certo, até alguns deles quererem além disso.

May entregou a mim um vestido preto cheio de brilho, com as mangas longas para esconder as feridas, Maria fez uma maquiagem para cobrir os hematomas em meu rosto, com a sombra escura mal era possível ver meu olho roxo de tanto chorar.
Cantei Skyfall da Adele — uma das minhas músicas favoritas —, com os olhos fechados, não queria olhar para a minha plateia cheia de homens nojentos.
As lágrimas rolavam em meu rosto.
Após o fim da minha apresentação, eles me aplaudiram, não pareciam querer me devorar.

Desci do palco indo direto para os bastidores chorar. No centro da boate começou a tocar uma música sensual e as meninas saíram usando lingeries e máscaras.
Me encosto na parede e levo as mãos até o rosto, com medo do que possa acontecer.
Ethan aparece no corredor, vem na minha direção rapidamente e puxa delicadamente para seus braços. Caso Vicent, May ou qualquer um que trabalhasse na boate nos visse, estaríamos perdidos, mas Ethan não tinha medo. A essa altura eu não me importava mais em apanhar, minhas costas pareciam dormentes.

— Por favor, não chore... — sussurou ele em meio aos meus cabelos.

— Não posso mais fazer nada, ela vai arrumar alguém para mim, Ethan.

— Vai dar tudo certo. — Ele olha para meu rosto e passa a costa da sua mão sobre minha bochecha enxugando minhas lágrimas — estarei do lado de fora caso isso aconteça, está bem?

Fiz que sim com a cabeça. Ele deu um beijo na minha tempora.
Algumas meninas passaram por lá, Ethan me largou de seus braços, só depois notei que ele me tocou.
Não gostava de ver as coisas que aconteciam depois da minha apresentação, então fui para o quarto.
Sentei no chão esperando qualquer sinal, com o coração acelerado. Minutos depois Vicent apareceu, ele era branco, careca, alto e forte, também era esposo da May e gerente dos seguranças da boate, com certeza qualquer teria medo das tatuagens tribais em seus braços fortes.

— Venha comigo. — Ordenou.

Eu o segui, temendo pelo que pudesse acontecer. Passei por algumas meninas, dentre elas Maria agarrou rapidamente minha mão e disse:

— Depois da primeira vez fica mais fácil.

Senti pena e nojo.
Como poderia achar aquela situação normal? Venderam meu corpo seu meu consentimento, eu deveria engolir isso calada ou morrer. nessa situaçao, provavelmente morrer.
Caminhamos até os corredores onde ficavam os quartos, onde minha vida acabaria ou eu enfiaria uma faca em alguém.
Vicent abriu a porta e me empurrou para dentro de um quarto qualquer.

— Vou ficar na porta para garantir que não vai fugir, canarinho.

Ele fechou a porta. Eu apontei o dedo do meio logo em seguida, como se fosse adiantar alguma coisa.
O quarto era escuro, na cama tinha corações e ao lado um frigobar, avistei preservativos espalhados pelos armários. Engoli a seco.
Levanto do chão sentando na borda da cama, levo as mãos até a face e me pergunto se minha primeira vez realmente seria assim, com um homem que pagou por ela.
De uma porta no quarto saiu um homem, tão nojento quanto o último que enfiei um lápis na perna. Ele usava um roupão, acho que somente o roupão, pensar nessa possibilidade fez meu estômago embrulhar. Na cabeça havia poucos cabelos, e um sorriso o acopanhava ele até mim.

— Tire suas roupas, quero vê-la. — Pelo seu sotaque eu sabia que ele era britânico.

Hesitei, porém ele gritou mais uma vez.
Levantei da cama de costas para ele, puxei o zíper atrás do vestido, tirei uma manga primeiro, depois a outra e o vestido escorregou pelo resto do meu corpo magricelo, assim como a lágrimas dos meus olhos. Colocoquei as mãos em frente aos seios e virei para encará-lo. Para a minha surpresa, ele me olhava com nojo e desprezo.

— Eu paguei por você completamente limpa, e agora está nojenta, cheia de feridas! — Gritou. — Aquela vadia pensa que pode me enganar... quero meu dinheiro de volta.

Ele passa por mim e abre a porta, do lado de fora começa a discutir com Vicent.

— Não quero ela!

Tentei disfarçar meu sorriso de felicidade.

Perverso Where stories live. Discover now