O garoto da casa ao lado.

007 - Azul é a cor mais quente.

Odeio depender dos meus amigos. Não me leve a mal, mas eles não podem ser meu porto seguro: eu preciso ser o deles. Itachi tem depressão, Obito transtorno de bipolaridade e Hidan tem TOC. Sim, esse grupo é meio problemático, mas todos fazemos tratamento. Minha ansiedade é o menor dos problemas, mas eles acham que é como um ciclone. Meus ataques são mais fáceis de controlar, eu que deveria os ajudar, não o contrário. Ataques de pânico também estão presentes em minha vida. Eles haviam diminuído porém... parece que voltaram.

Itachi me levou para um lugar mais afastado. Sentamos em um banco de madeira, lado a lado, sua mão ainda segurando a minha. Não sei como fui ter uma crise agora, não sei mesmo. Fazia tempo que não acontecia... Droga, agora eu nunca vou encontrar o Sasori.

— Dei, respira, vai, me acompanha. - Itachi olha bem nos meus olhos e eu tento acompanhar sua respiração. É muita sorte minha ser amigo dele, mesmo que eu nunca vá dizer isso em voz alta. Itachi sabe como lidar com meus ataques de pânico e ele é o mais calmo do grupo, o que facilita muito.

Hidan e Obito vieram atrás da gente, mas não sentaram no banco, ficaram afastados até que meu ataque passasse. É melhor assim, quanto menos pessoas perto, melhor.

Eu estou mais calmo, mas ainda posso sentir que meu coração poderia explodir. Mesmo assim, com todo o meu senso de "porto seguro", vejo que Hidan está coçando as mãos de forma compulsiva. Eles nunca iriam falar seus problemas assim de cara para mim, mas eu tenho uma espécie de super poder.

— Hidan, vá lavar as mãos - digo depois de conseguir respirar normalmente.

— Não há torneiras por aqui e os banheiros são o último lugar que eu me arriscaria a ir - ele nem sequer tenta negar, não adianta.

— Eu cuido desse aqui, fique com Itachi e nós vamos nos encontrar na entrada do festival - Obito diz segurando Hidan pelos ombros o levando para algum lugar limpo.

Passados 20 minutos, eu e Itachi fomos até a entrada do festival onde encontramos os dois idiotas dos nossos amigos problemáticos e mais 4 pessoas.

Ele estava lá. Bem na minha frente. Meu coração provavelmente nunca vai se acostumar com a ideia de o sentir. Perfeito, como sempre. Mas, dessa vez, ele não estava completamente de preto. Céus, eu não estava preparado. Para contrastar com minha calça jeans e blusa branca, ele estava de azul. Era azul. Minha cor favorita. Azul é realmente a cor mais quente. Mesmo assim, sua calça era preta, como se preto tivesse de existir em sua vida.

Juro que não sabia exatamente o que pensar dele. Nosso primeiro contato foi o pior possível porém olhando para ele agora e vendo todo nosso progresso... Merda. É definitivo. Eu gosto de Sasori No Akasuna. Isso não é um treinamento.

Heaven and Back, Chase Atlantic, está tocando. Já está no finalzinho quando a percebo. É mágico olhar para a pessoa que você gosta enquanto ela está usando sua cor favorita e uma música que você ama está tocando. O que está acontecendo comigo, quando fiquei tão mole?

— Itachi, podemos só não nos aproximar mais e ir embora?

— O quê? - Itachi responde em confusão. Não me leve a mal, eu não estou com muita cabeça para aguentar essa noite. Está tudo muito confuso na minha mente e não quero trocar palavras com a pessoa que eu acabei de confessar, mentalmente, meu amor. Eu acabei de perceber que gosto de Sasori! Como vou o encarar agora?

— Por favor... vou esperar perto do carro, chame Hidan e Obito - digo já indo para onde o carro do moreno mais velho estava. Essa noite foi a pior e a melhor ao mesmo tempo.

Já estou em casa, meus amigos também devem estar em casa agora. Eles insistiram em ficar mas eu os expulsei daqui e os mandei descansarem. Hoje foi um dia esquisito. Estou na cama agora, quero ver se consigo esquecer hoje, reiniciar tudo. Infelizmente, tenho problemas com insônia.

Desço até a cozinha e faço um leite quente para mim. Deve ajudar. Vou até a varanda, são 21:00, não está tão tarde. Minha mãe está dormindo, então não vou incomodá-la se vier para cá. Estou usando um conjunto de moletom cinza, que combina com o céu da noite, frio e acinzentado. Está frio e a bebida que seguro é como um porto seguro para meu corpo gelado, mesmo coberto por um tecido grosso. Reflito.

A melhor memória da minha vida é de quando eu tinha 10 anos e fui para Veneza, na Itália. Éramos eu, minha mãe e meus tios, Minato e Kushina, que estava grávida do pequeno Naruto. Lembro que estava correndo um morro acima, o vento no meu rosto... Quando cheguei lá em cima, tive a melhor visão da minha vida. Eu estava sorrindo, eu estava feliz. Aquele foi com certeza o melhor dia da minha vida. Me pego sorrindo enquanto lembro.

— Você tem um sorriso bonito.