┊𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐍𝐈𝐍𝐄

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A morte nunca teve um significado relevante para Olivia. Apesar de testemunhar seus colegas lidando com perdas recentes, a jovem nunca teve a infelicidade de perder alguém querido ou um animal de estimação. Pode-se considerá-la sortuda por esse fato, mas quando chegar a hora de alguém em particular, a garota de cabelos castanhos não reagirá pacificamente. Isso é um fato inegável.

Deitada no chão frio de sua sala de estar, Kingsleigh contemplava o teto com certo desinteresse em relação ao que estava acontecendo ao seu redor. A noite passada foi um caos completo; a morena estava tão exausta que nem percebeu a hora em que chegou em casa e imediatamente se jogou na cama para finalmente se entregar ao sono tão desejado.

Até aquele momento indeterminado, Olivia não compreendia plenamente o motivo de estar naquela posição atual. Havendo faltado à aula naquela manhã por puro capricho, algo incomum de ocorrer, parecia que a insignificância havia tomado residência em sua consciência, deixando-a completamente desorientada em relação ao próximo passo a ser dado. Era uma crise existencial clássica.

A jovem de cabelos castanhos notou uma figura imponente se aproximando rapidamente com passos apressados. Era Timothée, o rapaz havia retornado da escola. Ele largou a mochila que carregava e deitou-se ao lado da irmã, lançando-lhe um breve olhar e perguntando num sussurro:

▬▬▬ O que estamos fazendo?

Olivia, com uma expressão taciturna, respondeu:

▬▬▬ Estamos contemplando o vazio.

Timothée franziu o cenho.

▬▬▬ É impressionante como você fica depressiva só por faltar à aula.

▬▬▬ Você foi quem chegou aqui e interrompeu meu momento de tranquilidade ▬▬▬ retrucou a garota, levantando-se do chão e ajustando seu vestido de cetim azul.

▬▬▬ Esse seu momento de tranquilidade me lembra quando mamãe entrou em desespero depois de te encontrar exatamente assim em Londres ▬▬▬ Timothée chiou, sentando-se no chão.

▬▬▬ Eu simplesmente adormeci, não foi culpa minha.  ▬▬▬ Defendeu-se ela, observando o rosto do irmão se iluminar com a lembrança.

Olivia iria argumentar mais uma vez, porém Christopher apareceu no cômodo de braços cruzados.

▬▬▬ Vão se arrumar, e coloquem a melhor vestimenta preta que tiverem. ▬▬▬ O homem ordenou de repente, deixando os irmãos confusos com a informação.

Timothée se levantou rapidamente, e perguntou:

▬▬▬ Alguém morreu? ▬▬▬ Indagou curioso.

▬▬▬ O Sr.Blythe, iremos no funeral mostrar respeito e compaixão pelo filho. ▬▬▬ Disse se referindo ao Gilbert. ▬▬▬ Não demorem. ▬▬▬ Com essa informação, o Kingsleigh saiu da sala.

Até aquele momento, Olivia permanecia imóvel, sem acreditar que o pai de Gilbert havia falecido, não conseguia imaginar a dor que o garoto estava sentindo, e como poderia? Nunca conheceu tal sentimento. Timothée a tirou de seus pensamentos murmurando algo inaudível.

▬▬▬ Desculpe, disse algo? ▬▬▬ A garota perguntou confusa.

▬▬▬ Falei que deveríamos nos vestir, não quero que o pai se irrite.

A morena assentiu e dirigiu-se rapidamente ao seu quarto, seguida por Timothée, que pegou sua mochila. Ao adentrar o aposento, depararam-se com um vestido preto cuidadosamente disposto sobre a cama, providenciado por uma das empregadas.

Sem questionar, ela pegou o vestido com delicadeza, evitando qualquer amassado, e dirigiu-se para trás do biombo de madeira para trocar-se. Em menos de quarenta minutos, a jovem encontrava-se pronta, aguardando a família em frente ao imponente casarão. Seus olhos fixaram-se no Sr. Finn, que preparava os cavalos para a carruagem com certo nervosismo. Ela brincava com uma mecha de cabelo, atormentada pelos pensamentos sobre o funeral, o luto e, principalmente, a morte. Classificar tal ocasião era uma incógnita para a distinta Kingsleigh.

A morte, por acaso, é uma inevitabilidade, ou ela é meramente o fim?

A morte, por acaso, é uma inevitabilidade, ou ela é meramente o fim?

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▬▬▬ Olá, Olivia.

Dirigindo o olhar para cima, Olivia avistou Rachel Lynde, com um sorriso afetuoso estampado no rosto, portando uma bandeja de petiscos.

▬▬▬ Aceita um? ▬▬▬ indagou a mulher.

Olivia esboçou um sorriso discreto enquanto negava com a cabeça. A senhora fez um breve aceno e afastou-se da morena para servir as demais pessoas presentes na residência.

O funeral do Sr. Blythe transcorreu com notável celeridade, considerando os padrões habituais de tais cerimônias fúnebres. Muitos presentes optaram por não prolongar sua estada no local, talvez por remorso em relação ao ente querido ou simplesmente pelo desejo de encerrar um capítulo doloroso. A família Kingsleigh permaneceu, acompanhada por outros indivíduos da pequena cidade que conheciam o falecido.

A moça de madeixas castanhas encontrava-se assentada junto à janela, contemplando os flocos de neve que dançavam gracilmente do lado de foda. Na verdade, ela contemplava o jovem, cujo olhar se perdia na direção da residência com uma expressão distante, repleta de angústia e desamparo. Embora a neve o envolvesse, ele pouco se importava, pois a melancolia impregnava aquele momento. Sem hesitar, Olivia tomou seu casaco e adentrou o exterior, dirigindo-se ao jovem rapaz. Não havia planejado o que diria a ele, apenas seguirá os ditames de seu coração.

▬▬▬ Gilbert! ▬▬▬ chamou ela.

O rapaz voltou-se e avistou a figura conhecida, um suave sorriso se desenhou em seus lábios ao ver a garota diante dele. Antes que pudesse proferir qualquer palavra, Kingsleigh envolveu-o em um abraço, gesto prontamente retribuído pelo moreno. Ambos permaneceram naquele abraço por breves instantes, os quais, se dependesse de Gilbert, se estenderiam por horas a fio.

▬▬▬ Obrigado ▬▬▬, expressou ele, desvencilhando-se do abraço.

▬▬▬ Pelo quê? ▬▬▬indagou ela, confusa.

▬▬▬ Pelo silêncio ▬▬▬, respondeu ele.

A garota rapidamente entendeu o que o Blythe estava se referindo, às pessoas estavam mais ligadas nas palavras de conforto do que os gestos. Um abraço naquele momento valia mais que mil palavras.

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॰ 𝆬  ⚝ MY GIRL, GILBERT BLYTHEWhere stories live. Discover now