O amanhecer de um funeral é uma experiência de profunda melancolia. O coração se comprime diante do imenso silêncio que agora permeia a casa, antes repleta de alvoroço, e da ausência que se faz presente na cama. As palavras reconfortantes, outrora tão doces, minguaram no vácuo da perda. Enfrentar tal dor em solidão era uma experiência intensa e exaustiva, e Gilbert Blythe se via imerso em um abismo de desolação e desorientação.
Naquela manhã, o céu se apresentava excepcionalmente nublado, com previsão de uma nevasca iminente ao entardecer. Olivia Kingsleigh repousava em sua cama, envolta em um tecido felpudo, imersa em um turbilhão de pensamentos. O principal deles era a ideia de visitar Gilbert naquele momento, porém o receio de ser ignorada e agravar a situação do rapaz sobrepujava o desejo de revê-lo. Afinal, não eram amigos íntimos, pensou Olivia.
Encontrava-se em um dilema interno entre permanecer em casa e visitar o jovem, mas o desejo de vê-lo prevaleceu. Olivia dirigiu-se ao imponente armário de madeira branca com detalhes dourados, entre uma variedade de vestidos, a Kingsleigh escolheu um vestido de cetim azul escuro, junto com seu casaco e cachecol. Em menos de 30 minutos, já estava sentada na carruagem a caminho da residência de Blythe. O senhor Finn admirou a gentileza da jovem, percebendo seu nervosismo diante da ideia de vê-lo, mas ela tentava manter pensamentos positivos. Não demorou para a carruagem parar a alguns metros da antiga casa coberta pela neve. Olivia desceu e dispensou o cocheiro, optando por caminhar para casa. Com a ordem dada, Isaac retornou à residência Kingsleigh.
▬▬▬ Tudo bem, é só ir até a casa e bater na porta, uma tarefa fácil para seus neurônios, Olivia. ▬▬▬ Falou consigo mesma.
Apesar de seus pensamentos insistirem para que caminhasse até a casa, o corpo da morena permanecia imóvel como se fosse de pedra.
▬▬▬ Vamos pés, porque não me obedecem? ▬▬▬ resmungou Olivia em voz baixa.
A morena contemplou mais uma vez a residência, observando uma agitação incomum. Duas silhuetas familiares emergiram da casa, acompanhadas pelo jovem órfão. Este não era o plano de Olivia, que esperava encontrar-se a sós com o rapaz. Agora teria de lidar com mais duas pessoas. Ela estava claramente incomodada com a situação, mas não desistiria da verdadeira razão de estar ali. Reunindo coragem inexistente, caminhou em direção à casa, preparando-se mentalmente para cumprimentar as duas garotas de sua escola.
▬▬▬ Bom dia meninas. Que prazer vê-las. ▬▬▬ Disse Olivia, esboçando o seu melhor sorriso.
▬▬▬ Ah, olá Olivia. ▬▬▬ Diana Barry cumprimentou curiosa, a loira Gillis não fez questão de dizer algo.
Um silêncio desconfortável pairou no ar. Gilbert parecia considerar a ideia de fechar a porta e deixá-las do lado de fora da casa, mas estava curioso com a presença da morena e queria saber o que a trouxera até ali.
▬▬▬ Eu agradeço pela torta e pelas palavras reconfortantes, ▬▬▬ disse o garoto.
▬▬▬ Esperamos que isso conforte seu coração, ▬▬▬ disse Ruby sorridente, recebendo um sorriso amarelo de Gilbert.
▬▬▬ Vamos, Ruby, ▬▬▬ disse Barry, segurando o braço da loira. ▬▬▬ Até logo, Olivia.
Kingsleigh acenou gentilmente em resposta
▬▬▬ O que fez você vir até aqui, Kingsleigh? ▬▬▬ indagou curioso.
▬▬▬ Ah, eu… ▬▬▬, respondeu ela, olhando para trás e percebendo que as duas garotas os observavam enquanto caminhavam. ▬▬▬ Eu vim ver como você estava.
▬▬▬ Agradeço a preocupação.
▬▬▬ Quer dizer, eu vim ver como você, sabe, como você estava lidando com tudo ▬▬▬, colocou a mão na testa. ▬▬▬ Oh, desculpe-me.
▬▬▬ Você quer entrar? Creio que o frio esteja te incomodando, sei como você odeia o frio. ▬▬▬ Disse o rapaz, tentando transparecer gentileza.
Olivia sorriu em resposta e dirigiu-se para dentro da casa, sendo seguida pelo moreno, que puxou uma cadeira para que ela se sentasse. A casa estava gélida, tanto visualmente como climaticamente. Ela tirou o casaco e colocou apoiado na cadeira ao lado.
▬▬▬ Então, o que pretende fazer agora? ▬▬▬ tentou iniciar uma conversa.
▬▬▬ Que pergunta hein ▬▬▬, respondeu ele, massageou a nuca sem saber oque dizer.
▬▬▬ Sinto muito, fui invasiva demais.
▬▬▬ Não, não, tudo bem. Eu estou planejando fazer o'que pai queria ▬▬▬, disse ele ajeitando a postura na cadeira e observando a expressão curiosa da garota. ▬▬▬ Pretendo viajar e talvez trabalhar em algum navio.
▬▬▬ Nossa, estou realmente surpresa com essa ideia ▬▬▬, disss ela, arrumando o cabelo atrás da orelha. ▬▬▬ Será uma grande aventura.
▬▬▬ Assim eu espero ▬▬▬ murmurou ele.
O silêncio novamente pairou no ar.
▬▬▬ Por que veio aqui?
▬▬▬ Eu já respondi essa pergunta, Blythe.
▬▬▬ Quero ouvir novamente, gravarei na minha mente que a Srta.Kingsleigh estava preocupada com o meu bem estar. ▬▬▬ Retrucou o moreno com sarcástico.
▬▬▬ Meu senhor amado, eu apenas quis saber como você estava, ao contrário de outras que vieram aqui com segundas intenções. ▬▬▬ Olivia afirmou, apoiando as mãos sobre a mesa.
▬▬▬ Devo agradecê-la por isso? ▬▬▬, disse sorrindo para a mesma, enquanto observava a expressão franzinda de Olivia. ▬▬▬ Desculpe, mas te irritar faz o meu dia ser muito mais divertido.
Olivia encolheu os ombros, ciente das artimanhas de Gilbert e da nocividade que isso representava para sua paz interior. Disfarçar suas verdadeiras emoções por meio de sarcasmo era um hábito arraigado em Olivia, e ela reconhecia prontamente quando alguém recorria a esse artifício.
Minutos escassos se passaram, e Olivia determinou que o momento de sua partida havia chegado. Gilbert agradeceu a visita da garota e manifestou o desejo de tê-la recebido em outras circunstâncias. Ao fechar a porta atrás de si, o sorriso que antes adornada seu rosto se fechou, devolvendo à residência o seu estado inicial, com o imenso silêncio permanecendo entre as quatros paredes e um teto.
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॰ 𝆬 ⚝ MY GIRL, GILBERT BLYTHE
FanfictionGilbert Blythe fanfiction! Os Kingsleigh, uma família renomada que se mudou para a pequena e pacata cidade da ilha do Príncipe Eduardo chamada Avonlea, com o objetivo fugir do transtorno e dos holofotes da movimentada cidade de Londres. Como uma fam...