Capítulo 43

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{POV. Anna Elis}

- Precisa manter a respiração calma, firme e silenciosa, Anna Elis. - Kariênina sussurou e eu tentei me concentrar no alvo a minha frente, e não em seu corpo praticamente colado ao meu. - Braços firmes ou você irá errar. - Umas coordenadas e eu fiz o que ela pediu.

Soltei minha respiração pela boca em um assobio silencioso e com minhas mãos firmes apertei o gatilho, um estrondo soou mas era abafado por causa dos fones protetores em nossos ouvidos. Um sorriso leve me escapou quando vi a marca do tiro por pouco alcançar o centro do alvo.

- Bem, muito bem, Elis. Mais um pouco e esse tiro seria fatal. - Anna Kariênina tirando os enormes fones de seus ouvidos e em seguida pegou a arma de minhas mãos.
- Mas já é alguma coisa, né? - Sugeri enquanto tirava os meus fones.
- Mais ou menos, você atingiu apenas o baço.
- E? - Pedi a continuidade.
- Se sobrevive com sem o baço, Anna Elis, estamos falando de golpes...
- Fatais. - Completei revirando os olhos.

Alguns dias já se passaram e sempre que as aulas com facas acabava, Anna Kariênina me ensinava tiro. E admito que até que estou indo bem, apesar de não gostar muito desse tipo de violência, mas também até que me concentrar no tiro me ajudou com pouco. Me concentrar apenas naquela bala para acertar o mais perto do alvo, tendo que esvaziar minha mente caótica e focar apenas em algumas coisas, foi algo intenso e... novo.
Todas as armas tem silenciadores por isso estamos treinando ainda na área externa, sem incomodar nenhum vizinho.

- Você está indo bem, Anna. Ainda não vi ninguém aprender coisas tão fáceis, ainda mais cedo uma pintora, com essa tua vibe "Faça amor, não faça guerra". - Anna Kariênina brincou e eu sorri.
- Ah, cala a boca. Apenas estou empenhada. - Sorrimos mas passos vindo de nossa casa nos interromperam.
- Senhoras. - Lúcia apareceu. - Há um homem na sala, querendo falar com vocês. - Ela explicou e nós concordamos.
- Está esperando alguém? - Perguntei curiosa a Anna.
- Não. - Ela também parecia confusa.

Anna Kariênina segurou minha mão e quando entramos na sala encontramos um homem de cabelos loiros quase grisalhos, roupas sociais e olhos verdes. Ele era muito bonito e parecia ter apenas uns 3 anos mais velhos que Anna.

- Anna Kariênina, Anna Elis, que bom vê-lás. - O homem nos cumprimenta apertando nossas mãos e vejo Anna semicerrar os olhos por um momento.
- Diego? Diego Coven? - Ela perguntou e o homem abriu um largo sozinho. - Oh meu Deus, quanto tempo, homem! - Ela exclamou e me impressionei quando ela largou minha mão para o abraçar.
- Estava em Las Vegas, voltei a pouco tempo a pedido de meu pai para me juntar aos negócios. - Ele explicou.
- Ah que bom, então agora é oficialmente um mafioso? - Ela perguntou.
- Assassino.
- Oh céus! - Anna levou as mãos a boca surpresa e eu estava me sentindo totalmente um peixe fora d'água. - Então você seguiu mesmo a profissão de assassino?
- Os assassinos da Vegas me treinaram e meu pai ficou contente em saber que ia ter seu assassino participar de graça. - Ele revirou seus olhos verdes e Anna sorriu. - E você se tornou a maior assassina profissional de San Diego, mas ai casou e agora é viúva, e está namorando a sua ex entendiada? - Ele perguntou parecendo confuso.
- Minha vida nunca foi fácil de se explicar, né? - Anna colocou uma mecha solta de seu cabelo para atrás da orelha.
- Você não é uma pessoa fácil de se explicar, Anna Kariênina. - Ele soltou e Anna corou. Espera, Anna corou? Acho que isso chega pra mim.
- Com licença, mas eu tenho que ir tomar banho. - Tentei sair mas o Diego me interrompeu.
- Ah não, preciso falar com você também, Anna Elis. Afinal, você também é uma das herdeiras dos Ralph. - Fiquei curiosa. - Meu pai irá dar uma festa amanhã para todos mafiosos, uma reunião, na verdade, mas ele também irá comemorar minha chegada. Agora que Paul se foi todos tem que saber quem está no comando da 2° maior máfia da cidade e o que será feito do posto de assassino profissional dos mafiosos. - Ele explicou e Anna passou as mãos no rosto.
- Nem acredito que tenho que ir para essa festa. - Suspirei.
- Por favor venham, pode até ser divertido. - Diego sugeriu com os olhos brilhando.
- Acho difícil. - As palavras pularam de minha boca.
- Nós iremos, Diego. Diga o lugar e horário que iremos. - Anna Kariênina sorriu e eu já estava fumaçando por dentro.

Então dessa vez sai sem avisar previamente.
Quem é esse cara? E por que essa intimidade toda com minha... com Anna Kariênina?
Que merda, eu estou morrendo de ciúmes.
[...]

Eu encarava a tela branca mas nada vinha em minha mente, logo secariam as tintas sobre a paleta redonda que eu segurava em mãos, Bufei frustrada e as joguei sobre a mesa ao lado, para não secarem e eu tenho prejuízo. Há dias eu venho tentando pintar algo mas há uma confusão de sentimentos dentro de mim, que com certeza sairia alguma tão mais abstrata que os quadros de Picasso.
Depois que tomei meu banho, corri para cá para não me deparar com Kariênina, ainda estava intrigada sobre o tal Diego. Intrigada é uma maneira de camuflar a verdade de que estou morrendo de ciúmes.
Batidas na porta me alertam e nem preciso virar-me para descobrir que se tratava do cheiro amadeirado de Kariênina, um calor me invade quando sinto ela se aproximar.

- O que houve? Saiu tão rápido da sala. - Ela tentou segurar meus ombros mas me debati um pouco, e ela me largou.
- Quem é ele? - Perguntei ainda encarando a tela branca.
- Quem? Diego? - Ela sorriu. - Diego Coven, é filho de Luiz Coven, um dos fornecedores mais importantes da máfia. Há anos que não o vejo desde que se mudou para Las Vegas com a mãe que se separou de Luiz.
- Como se conheceram? - Um olhar meu acabou escapando e acho que Kariênina entendeu o que se passava.
- Espera, você está com ciúmes de Diego? - Anna Kariênina gargalhou e eu me encolhi coragem. - Diego e eu nos conhecemos quando eu tinha acabado de completar 15 anos e meu pai havia morrido a pouco tempo, Luiz mandou Diego para treinar comigo e os Borges com Lucker, mas ele ficou pouco tempo pois logo a mãe se separou e eles se mudaram. Diego e eu éramos apenas colegas de treinamento, apenas isso, Anna Elis. - Ela sorriu outra vez.
- Você não é uma pessoa fácil de se explicar, Anna Kariênina. - Repeti as palavras de Diego com um certo desdém.
- Elis, pelo amor de Deus, Diego é gay e na sala ele me contou que está namorando com o garoto de Las Vegas, que infelizmente ainda não pode vir com ele para cá. - Anna Kariênina quase se acabou de gargalhar e eu gruni sorrindo da minha própria burrice.
- Que papel de idiota que eu fiz. - Resmunguei cobrindo o rosto com as duas mãos e Anna Kariênina as pagou.
- Você só fez o papel de uma mimada do caralho. - Ela me puxou para um beijo rápido. - Mas é bom saber que você tem ciúmes de mim. - Ela piscou.
- Idiota arrogante. - Revirei os olhos.
- Então o que está pintando? - Anna mudou de assunto começando a andar pelo meu ateliê.
- Não sei, estou sem inspiração. - Suspirei.

Fiquei em silêncio observando a tela branca, frustrada comigo mesma.

- E esses daqui? Ainda não os tinha visto. - Anna soou e então percebi que ela olhava em um pasta de antigos desenhos mesmo, alguns de quando eu era ainda criança.

Anna andou até mim com um desenho em mãos, e eu o identifiquei. Era um desenho muito antigo de quando eu tinha 9 anos, tinha uma vibe meio inferno em tons quentes que de vermeljo, laranja e amarelo. Acima na página tinha um nuvem enorme vermelha de fogo em amarelo e laranja, com um monstro vermelho com chifres e uma boca aberta coberta por dentes pontiagudos. Me arrepiei ao olhar o desenho quando percebi em baixo, no chão do desenho um pontinho preto minúsculo no chão, era uma figura preta e pequena mas dava para saber que era uma pequena menina com cabeças cacheados curtos.

- Eu desenhei ele quando tinha 9 anos, dois anos depois que minha mãe faleceu. Eu tinha muitos pesadelos com ela as noites e foi quando Paul comprou telas e tintas pra mim, mas eu continuei nos papéis e lápis por esta acostumada, eu desenhei ela como eu a via em meus pesadelos, lembrando de tudo que ela me fez passar, então depois disso eu comecei a pintar e os pesadelos acabaram. - Contei suspirando.
- Nem mesmo a fotografia conseguiu acabar com meus pesadelos... - Os olhos verdes de Anna Kariênina saíram do desenho, para encontrar os meus. - Mas você sim. - Meus olhos marejam por um instante até que Anna deixou o desenho de lado e me puxou pelo braço. - Então que tal treinarmos agora para a festa amanhã?
- O que? - Sorri ficando de pé e ela se afastou indo para o som que havia em meu ateliê.

I Just Want To Make Love To You - Etta James tocou pelas paredes do cômodo e eu sorri quando Anna Kariênina deu um giro de 360°, em seguida ela segurou minha mão e unimos nossos corpos em uma dança animada, Anna Kariênina segurou minha mão sobre minha cabeça e eu dei um giro, uniu nossos corpos novamente e sorrimos uma para a outra.
Ofegantes, sua mão pousou sobre meu rosto e as palavras pararam na ponta da minha língua, os olhos verdes de Anna Kariênina brilharam como se ela também quisesse falar. Entretanto, nada foi dito. Seus dedos apenas encantaram as raízes de meus cabelos e me puxou para um beijo intenso e quente.
Naquela tarde, naquele ateliê não houve palavras, apenas gestos. Não houve uma transa, Anna Elis e eu fizemos amor. Um amor não dito, mas existente.
[...]

Continua...

Corpos em Chamas: A vingança de Anna Kariênina (Romance Lésbico)Where stories live. Discover now