Soltei sem pensar, como se o álcool me fizesse dizer coisas do fundo do coração.

- Opa, além de gata, ainda é filósofa. - O loiro ao lado de James comentou e todos caímos na gargalhada.
- Então me diz aí, Elis, quem quebrou teu coração? - Eliot perguntou atrás de mim.

Ela.
Aquela babaca arrogante.
Anna Kariênina.

- Ninguém. - Dei de ombros pegando o copo de Whisky que James colocou sobre o balcão.
- Opa, que tal pegarmos um pouco de ar antes, hein? - Eliot interferiu tirando o copo da minha mão e dando a James.
- Isso mesmo, leva ela pra tirar um pouco desse álcool. Porque eu acabei de ver a garota que eu estava interessada, ir ao banheiro, acho que vou fazer daquele lugar um motel hoje. - Elena comentou maliciosa e eu gargalhei.
- Sua safada! - Gargalhei mais antes de Eliot começar a me puxar por meio das pessoas.

  Minha pele arrepiou-se um pouco quando senti seus dedos em meu cotovelo e depois em minha cintura, me guiando para fora da casa. Atravessamos o jardim cheio de pessoas e embalagens de bebidas pelo chão, até chegarmos debaixo de uma árvore perto de um arbusto, que deixava tudo um pouco escuro e mais reservado.

- Acho que aqui está bom. - Eliot disse e eu me suspirei ao sentir uma brisa gelada que surgiu de repente, balançando levemente meus cabelos.
- Acho que eu estava mesmo precisando de um pouco de ar, obrigada. - Sorri levemente me encostando na parede do muro da casa.
- Acho que Elena irá sair daquele banheiro casada. - Eliot comentou como se tentasse puxar assunto.
- Provavelmente, ela tem uma paixão a cada 15 dias. - Sorrimos.

  Um silêncio breve e eu fechei os olhos por um momento sentindo outra brisa gelada, quando voltei a enxergar corei um pouco ao perceber que Eliot estava perto de mim, e me olhando fixamente com seus olhos castanhos.

- Você está linda hoje. - Ele disse. - Quer dizer, você está linda sempre, mas hoje está incrivel. - Ele se corrigiu atrapalhado e eu sorri.
- Obrigada.
- Sabe, Elis... - Eliot sussurrou se aproximando e eu continuei neutra, sem sentir nada, apenas entendendo o que ele queria dizer.
- Sim, eu sei. - Sussurrei de volta e ele me olhou entendendo. Ele entendeu que eu sabia que ele tinha interesse em mim, e não tinha protesto contra isso.

  Eliot já estava tão próximo que eu podia sentir sua respiração, então eu mesma agi, tentando achar algo para me apegar, e não pensar em um passado recente.
  Segurei o rosto de Eliot com minhas mãos e o beijei, ele agiu com rapidez apertando minha cintura, unindo mais nossos corpos me chocando ainda mais a parede. Suspirei entre o beijo, mas não foi algo tão prazeroso e sim por causa do impacto com a parede. Eliot deu passagem a minha língua e o beijo se intensificou, mas ainda assim eu sentia o meu ao redor frio, eu me sentia fria.
  Aquela faísca não se acendeu dentro de mim, aquela chama que me fazia suspirar só de pensar em fazer coisas sozinha, que jamais tinha feito. O beijo era bom, mas não encaixou, não me acendeu.
  Não era ela.

- Mas que porra é essa?!

  Ouço um grito e assim que nos afastamos, meus olhos se arregalam ao dar de cara com Anna Kariênina, como se eu tivesse lhe teletransportado pelo meu pensamento. Seus olhos estavam furiosos e havia aquela sombra negra sobre o verde, foi quando seu olhar saiu de mim e olhou diretamente para Eliot, engoli seco e só pensei uma coisa: Fodeu!
  Anna Kariênina avançou tão rápido contra Eliot que ele se assustou, sem tempo para protestar, ela lhe deu um soco no rosto, que o fez cair sobre a grama.

- Seu filho da mãe, nunca mais põem as mãos nela! - Anna Kariênina gritou se pondo sobre ele, e coloquei as mãos na boca assustada ao lhe ver depositar vários socos no rosto dele, Eliot não conseguia sequer ter tempo para reagir.
- Anna, chega! Anna, para com isso! - Gritei tentando intervir de alguma forma, e nesse momento várias pessoas já estavam a observar tudo assustadas e com curiosidade. - Anna, para com isso, porra! - Gritei com força e ódio, e então Anna levantou de repente, tão rápido, se pondo a minha frente, que fiquei paralisada.

  Anna Kariênina não disse nada quando puxou a pistola da cintura e apontou para Eliot no chão.

- Você vai aprender que não se pega o que é de Anna Kariênina. - Sua voz saiu rasgada, se tornando a própria morte diante de Eliot, apavorado no chão, com o rosto todo ensanguentado.
- Não faz isso, Anna. Olha a merda que você está fazendo. - Falei entre dentes tentando ficar calma, e evitar que essa idiota fizesse uma loucura.

  Então tiro soou e fechei os olhos com força enquanto todos gritaram assustados.
  Entretanto, quando olhei novamente para Eliot ele ainda estava intacto, o tiro havia acertado a grama logo ao lado de sua cabeça.

- O próximo não será um erro. - Anna Kariênina guardou a arma na cintura.
- Quem você acha que é pra dizer que eu sou tua, sua idiota do caralho? Poderia ter matado ele! - Bati em seu peito lhe empurrando.
- Ele estava te agarrando! - Anna Kariênina rebateu como se aquilo justificasse tudo, e eu não me importava mais para quem assistia nosso espetáculo horroroso.
- Quem estava se agarrando era você e aquele biscate de quinta, sua traíra. Eu que beijei, Eliot. Eu. - Enfatizei continuando a lhe empurrar.
- Para de ser mimada, você ficou com ele só pra me atingir! - Anna rebateu e eu soltei um sorriso com desdém.
- O mundo não gira ao seu redor, sua babaca arrogante! Eu não me importo mais com você! - Gritei enfática. - Aliás, que porra, você está fazendo aqui?! - Lhe empurrei novamente, mas dessa vez Anna segurou minhas mãos com firmeza.
- Porque o teu pai está morrendo, caramba! - Ela gritou.

  Então foi como se meu mundo tivesse caído.

- O que? - Minha voz foi um sussurro incrédulo e doloroso.
[...]

Continua...

Corpos em Chamas: A vingança de Anna Kariênina (Romance Lésbico)Where stories live. Discover now