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- : notas : -

Tw: negligência infantil, abuso físico, violência doméstica.

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Takemichi a conheceu numa situação muito peculiar.

Estava escuro e frio naquela noite, ela se viu obrigada a usar um grande casaco que provavelmente pertencia a seu pai enquanto caminha para o pequeno mercado onde trabalhava.

 Outra vez, o dinheiro enviado por seus pais havia acabado rapidamente, porque eles enviavam menos a cada mês que passava, portanto ela se viu tendo que encontrar pequenos bicos e empregos de meio período para poder comprar mais do que apenas macarrão instantâneo e algumas frutas.

Normalmente, os vizinhos tinham pena dela e sempre a deixavam fazer pequenos serviços, como jogar o lixo fora ou limpar as calhas, principalmente porque muitos deles eram idosos. Eles pagavam bem, geralmente ela sempre poderia comprar carne no fim da semana com a ajuda deles. Mas era impossível que as calhas ficassem eternamente sujas, portanto, nem sempre seus vizinhos podiam ser sua rota de fuga. 

Alguns quarteirões de sua casa, havia um pequeno mercado noturno comandado por uma senhora que já era velha demais para lidar com tudo sozinha. Ela foi generosa o suficiente para não fazer perguntas sobre os pais de Takemichi e deixá-la trabalhar sem problemas adicionais, mas desconfiada demais para permitir que Takemichi tomasse conta do caixa, assim, ela passou suas noites movendo caixas e organizando prateleiras. 

Não era um problema, honestamente. Takemichi era péssima com contas, então não estar no caixa provavelmente era uma benção. Além disso, Takemichi muitas vezes poderia interceptar algumas crianças que tentavam roubar guloseimas sob suas blusas se estivesse nos corredores. Isso significava alguns ienes a mais em seu pagamento no fim da noite, uma recompensa silenciosa.  

Naquela noite, uma garota entrou na loja. Ela era pequena, sua altura ultrapassa Takemichi por muito pouco e apesar de suas roupas serem largas, a manga de seu moletom era um pouco curta, revelando pulsos finos e magros. Isso, em retrospecto, já era uma bandeira vermelha por si só.

O moletom da garota era de um tom desbotado de rosa, com algumas manchas aqui e ali. O capuz estava sobre sua cabeça, que era mantida baixa. Os ombros da garota estavam tensos e seu andar era estranhamente silencioso, mesmo que ela estivesse usando botas de combate. Takemichi a seguiu com o olhar por um par de segundos antes de voltar sua concentração às latas de missô, empilhando-as silenciosamente. 

A garota vagou por algum tempo, olhando em volta, antes de sumir atrás da prateleira onde Takemichi estava trabalhando. Em breve, o som do plástico sendo amassado pelo toque ressoou na loja silenciosa. Alguns segundos depois, a garota surgiu outra vez, saindo da área das prateleiras, com as mãos enfiadas nos bolsos e nenhum pacote à vista.

Takemichi estava nela sem nem mesmo pensar nisso, dando longos passos para entrar na frente da garota, que congelou, embora ainda olhasse para baixo. Ela ouviu a garota engolir em seco e dar um passo atrás.

 "Eu...eu não peguei nada." Sua voz era tão baixa e suave, que Takemichi poderia ter confundido com mansidão se não conhecesse aquele tom. Era medo, mas não tom trêmulo e covarde de medo que Takemichi costumava apresentar, era vulnerável e frágil, como se a qualquer momento ela fosse quebrar. Ansioso, como se ela fosse chorar caso alguém levantasse a voz. Em pânico, como se ela temesse que Takemichi tentasse bater nela.

Essa foi a terceira bandeira vermelha.

Takemichi sabia que ela não tinha pegado nada, haviam espelhos nas paredes, permitindo que ela tivesse uma visão geral de tudo o que acontecia na loja, com pouquíssimos pontos cegos. Todos quais Takemichi sabia onde estavam, mas apenas depois de Akashi-san informar a ela mais de uma vez onde todos eles estavam. 

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