Vê-la assim deixou Daniel extremamente desconfortável. Ele não queria vê-la abatida e incerta sobre o futuro. Precisava que sua luz brilhasse para que se sentisse completo.

– Mas por você – ele quebrou o silêncio – Por você eu vou tentar.

– Como é? – Ela o encarou já não podendo evitar o sorriso que brotava em sua face.

– Vou atrás deles, vou explicar o que aconteceu realmente e tentar manter um diálogo digno. Por você, por nossos filhos, pelo nosso futuro.

Bárbara não pôde conter o ímpeto que a tomou naquele instante e se jogou para cima de seu marido, derrubando-o de costas no gramado.

– Lindo, lindo, lindo – ela dizia enquanto o beijava – Você é meu coração, lindo da minha vida!

***

Suas pernas pesavam uma tonelada. Cada passo parecia um esforço imenso e por um momento ele teve que praticamente se apoiar em sua esposa para conseguir percorrer o caminho de paralelepípedos que dava até a entrada da casa de George.

Daniel não tinha apenas o segundo e terceiro nome herdados do pai. Tinha sobre as costas todo o peso do orgulho que era característico aos seus antepassados e um traço de DNA que passou impreterivelmente para cada geração.

Ir em direção a George para se desculpar e tentar esclarecer as coisas lhe parecia uma total insanidade. Não sabia por onde começar e muito menos onde terminar.

Havia até tentado convencer Bárbara de que seria melhor enviar uma um e-mail, uma carta, qualquer coisa que evitasse o contato direto mas falhou miseravelmente. Só lhe restava então aceitar que tinha que passar por isso e agir logo, pois quanto antes terminasse melhor.

Sentiu uma gota de suor frio escorrer por suas costas quando sua esposa tocou a campainha e segurou sua mão, em um gesto para garantir que ele não estava só.

A porta se abriu e o sorriso amável de sua mãe aliviou seu coração. Pelo menos até ouvir os passos pesados de seu pai cruzarem o corredor atrás dela.

– O que faz aqui? – A voz de George cortou o ar atingindo Daniel em cheio.

– George! Isso é maneira de receber nosso filho? Francamente. – sua mãe interviu – Que bom que trouxe sua esposa para conhecer nossa casa querido. Eu estava com tanta saudades! Venha, vamos entrar.

– Pois eu acho melhor que não passe da porta. A menos que você quiser entrar sem ele – virou-se para Bárbara – Você é bem-vinda aqui, ele não.

– Ora George, sempre tão impulsivo!– Liv tentou disfarçar o constrangimento evidente em suas palavras – Não liguem pra ele crianças. Entrem por favor.

– Tudo bem mamãe, fique tranquila, não estou aqui para brigar. – Daniel respondeu com ternura – Na verdade, estou aqui para falar com você. – Dirigiu-se a seu pai.

– Eu não tenho nada para falar com você. – Ele respondeu amargo.

Ninguém disse que seria fácil.

– Mas eu tenho. – Daniel respondeu após um longo suspiro – Estou aqui de McCain para McCain para resolver nossas desavenças, apagar o passado e construir um novo futuro. Esta família está dividida há tempo demais e as coisas não podem continuar assim.

– Esta família só está dividida por sua culpa, moleque insolente!

– Isso pode ser verdade em partes. Mas ao contrário do que diz, não sou mais um moleque, sou um homem. Um homem que sabe que alguém tem que dar o primeiro passo para que a mudança ocorra e que está aqui para dar esse passo. Estou aqui para dizer que eu lamento por ter lhe machucado. Que eu nunca, jamais faria isso e tudo não passou de um acidente provocado pelo excesso de bebida. Eu paguei o meu preço pela minha irresponsabilidade e sei o quanto errei em deixar o álcool me tirar o juízo. Mas eu mudei e quero pedir desculpas por todo mal que causei.

Bárbara e Liv, que assistiam em silêncio aquele diálogo pesado, gradativamente foram se afastando para o canto da varanda, saindo de cena para que pai e filho pudessem se entender.

– Acha que é simples assim? Acha que pode vir aqui depois de todo esse tempo e das coisas amargas que disse e fez e simplesmente pedir desculpas?

– O que mais quer que eu faça, pai? Eu não posso voltar no tempo e reviver aquela noite. Se eu pudesse, sem dúvidas o faria. Sei que depois daquilo falei muita coisa que não devia e que o desrespeitei de muitas maneiras, mas lamento e não quero mais que isso fique entre nós. Quero acabar com esse vazio em meu peito.

A expressão de George era impassível.

– Perdeu seu tempo. Você não é o poderoso bilionário? Compre algo para preencher esse vazio. – George virou-se após dizer essas palavras e deu três passos rumo ao interior da casa, quando palavras vindas de Daniel, ditas como um trovão, o fizeram parar.

– Não! Eu não sou! Eu sou apenas seu filho e estou aqui implorando para que volte a ser apenas meu pai. Quero voltar a ser o que eu era para você antes de tudo isso ocorrer, quando nosso relacionamento tinha beijos de boa noite e histórias antes de dormir. Quando me tornei um jovem inseguro e você me ensinou como ser forte. A sua fachada pode ser dura e severa mas eu conheço seu coração e sei que me ama. E eu lamento profundamente todo o tempo que demorei para te dizer isso, mas eu também o amo, pai.

George continuou de costas para ele, mas a maneira como fechou lentamente suas mãos até estar com os punhos cerrados deixava evidente a batalha interna que estava travando.

No entanto, o orgulho que sentia o impediu de ceder ao impulso de correr até seu filho e abraçá-lo, como tanto quis fazer desde que se afastou. Impediu-o também de dizer o quanto o admirava pelo homem que se tornou e que todos os dias, sem exceção, o tinha em seus pensamentos.

Por sorte, na vida o silêncio muitas vezes diz mais do que uma multidão de palavras poderia expressar e quando George finalmente se virou para encarar seu filho, Daniel soube que havia conseguido penetrar sua armadura.

Ainda assim, como o pai permaneceu em silêncio, ele se virou para Bárbara, que banhada em lágrimas assistia a cena.

– Vamos querida. Terminamos o que viemos fazer aqui.

Incapaz de contestar, ela apenas assentiu e aproximou-se do marido, quando silenciosamente começaram a percorrer o caminho de volta.

Foi então que a voz de George ecoou pelo jardim.

– Sua mãe faz questão de lhes servir um café. Entrem.

Bárbara e Daniel se entreolharam com um sorriso de satisfação, antes de virar-se e entrarem na casa.

Ambos sabiam exatamente o que aquela frase realmente significava.

"Senti sua falta, filho. Eu também amo você."

O Protetor - Série case-se comigo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora