Capítulo 37

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Cinco meses depois...

– Não é possível! – Bárbara esbravejava enquanto amassava a décima folha de papel em menos de meia hora – Arghhhhhhh! – Ela arremessou o rabisco que havia realizado, ou tentado realizar, no lixo.

Exaurida pelo esforço de pensar em alguma coisa que fizesse sentido para a nova campanha que estava desenvolvendo, deixou-se desabar sobre a confortável cadeira junto à mesa de seu escritório. Por mais que se recusasse a admitir, os últimos meses tiveram um impacto lamentável sobre ela. Ou seriam os últimos anos?

Logo ela, sempre tão colorida e cheia de energia, agora enxergava tudo em tons de cinza.

Desde o momento em que havia deixado a residência de seu ex-marido, tudo se transformou radicalmente. Foi como se, ao atravessar aquele portão, as cores da vida mudassem de neon para aquarela... Todo o seu vigor e otimismo foi diluído pelas lágrimas.

Mas ela tinha que continuar, precisava ir em frente. Por isso ao sair dali se hospedou em um quarto de hotel da cidade vizinha e lá permaneceu por duas semanas inteiras, repensando sua existência. Não falou com ninguém, não viu ninguém e a única comunicação com o mundo exterior que se permitiu ter, foi uma mensagem enviada para os pais, dizendo que passaria um tempo fora da cidade.

Ali, na clausura do quarto, por várias vezes sentiu como se olhos a observassem. Depois de tanto tempo sendo feita de marionete e tendo suas ações rastreadas, as paredes pareciam ter ouvidos e cada luz aleatória parecia um flash. Após uma meditação forçada de catorze dias, chegou a conclusão de que precisava tomar atitudes para recomeçar. Entrou em contato com Emily e pediu que acertasse tudo na agência para sua volta.

Não conseguiu contar para a amiga o que aconteceu, não conseguiu dizer a ninguém. Trazer à público sua situação não iria reconfortá-la, pensou. A solução era continuar sua rotina, do ponto exato onde ela foi tempestivamente interrompida por aquele homem.

Mais do que o peso de tudo o que passou, o que a afligia constantemente eram os sentimentos contraditórios que guerreavam dentro de seu coração. Em uma batalha homérica sua razão repreendia suas emoções constantemente, da hora que acordava a hora que tentava dormir. Tentava, porque dificilmente conseguia. As noites insones passaram a ser corriqueiras.

"É isso" – pensou.

As noites sem sono com certeza eram a razão de sua falta de criatividade.

Não era porque sentia falta dele.

Não era porque seu nome ecoava em seus pensamentos cada santo segundo do dia.

Não era porque sentia falta de seu cheiro no travesseiro.

Não era porque só de pensar no toque dele sua pele arrepiava e milhões de borboletas pareciam voar em seu estômago.

Não era. Não podia ser.

Bárbara possuía tantos talentos que era difícil contar. Mas quando se tratava de enganar os próprios anseios, ela falhava miseravelmente.

Com a alma transparente como a água límpida, ela nunca conseguiu se esconder atrás de disfarces. Autêntica como poucos tem coragem de ser, seu olhar sempre revelou seus sentimentos. E mesmo não tendo a menor capacidade de dissimular para outros, lá estava ela tentando enganar a si mesmo.

"Inútil" – disse com um suspiro, deixando os braços pender das laterais da cadeira.

Sabia que havia chegado ao ponto cego de um labirinto. Fugir da verdade, era absolutamente inútil.

Aquele homem que teve a ousadia de virar sua vida do avesso, já estava dentro dela.

Alojado, permanentemente, no canto mais profundo de seu coração.

Contra todo o bom-senso, contra todos os seus valores, contra tudo aquilo que ela acreditava, estava o sentimento mais forte e arrebatador que já sentiu na vida.

Como poderia ignorar isso?

Mas, voltar atrás seria anuir com tudo o que ele havia feito. Como o relacionamento dos dois sobreviveria a tantos anos de mentiras?

"Não, não pode dar certo" – Repetiu para si mesma negando veementemente a possibilidade e movimentando a cabeça de um lado para o outro, como se aquilo fosse tirá-lo de seus pensamentos.

Seu melhor amigo, durante uma década havia sido uma farsa inventada por ele. Sim, tinha de se apegar ao menos a isso para evitar que Daniel McCain invadisse sua vida novamente.

Mesmo assim, não conseguia odiá-lo.

As atitudes de Christopher haviam sido movidas pela mais absoluta ganância.

Já as de Daniel, foram causadas pelo amor que ele disse sentir.

O problema era a visão distorcida que ele tinha deste sentimento. Para ele amor significava fazer qualquer coisa para estar com a pessoa desejada, independentemente das consequências. Mas, Bárbara sabia que amor é justamente o contrário disso.

Amar, acima de tudo, significa respeitar.

E ela queria muito que ele tivesse respeitado suas escolhas e seus direitos, principalmente o direito de viver sua vida sem que alguém a manipulasse todo o tempo.

O direito a ter conversas, sem que elas fossem gravadas ou transmitidas. O direito a não ser fotografada sem consentimento. O direito de ter uma amizade sólida e verdadeira, conquistada por mera afinidade. O direito de escolher com quem e quando se casar.

Daniel havia interferido em todas essas coisas e muitas outras, mas agora ele já fazia parte de sua história, ela querendo ou não.

Já não era mais a mesma menina de antes. Se tornou mulher ao lado dele.

Como seguir em frente depois de conhecer sentimentos tão absolutos e brutais como os que os que ele lhe causava?

Lembrou-se que amar também significa superar. Mais do que isso, significa superar juntos.

Seria o amor recém-descoberto que sentia por Daniel, o suficiente para superar tudo o que havia acontecido?

Só havia um jeito de descobrir.

E se tomasse essa decisão, teria de enfrentar o risco de que ele fosse exatamente o monstro que um dia ela pensou que fosse.

Parecia perigoso.

Parecia incerto.

Mas, como o amor adora se ver em frente a incertezas, apenas para poder transpô-las e provar sua força, era isso o que ela faria.

Iria atrás de Daniel e proporia uma tentativa.

Faria isso por ela mesma.

Por ele.

Em nome do amor.

O Protetor - Série case-se comigo - Livro 1Where stories live. Discover now