Capítulo 41

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Enquanto Bárbara corria vagarosamente a navalha pelos ângulos agora tão marcados da face de seu marido, a quilômetros de distância dali, um Ian desesperado dava ordens afoitas aos empregados da mansão McCain.

– Onde estão as coisas da dispensa que pedi para separar? – Perguntou quase gritando.

– Acalme-se Ian, já separamos tudo e já estamos levando para os carros e... – Lauren, uma das novas empregadas da casa tentou lhe responder, sendo interrompida abruptamente.

– Carros? Não, não, não! Não temos tempo para carros! Não disse para levarem nada para os carros! Preciso de um helicóptero agora! – Respondeu Ian enquanto corria para o telefone.

– Mas onde conseguiremos um helicóptero? – Lauren questionou.

Naquele momento Ian puxou das profundezas de sua alma toda a força interior que conseguiu juntar, para não responder grosseiramente à pergunta ingênua.

– Minha cara, você agora trabalha para um dos homens mais ricos deste país. Obviamente que um bilionário como o Senhor McCain dispõe de helicópteros com facilidade. Queira me dar licença, vou ligar para a McCain Corp.

– Ah.... – Respondeu ela, finalmente entendendo.

***

– Onde iremos pousar Ian? – Perguntou Jeremy enquanto ajudava a carregar o helicóptero com as malas preparadas pelos empregados.

– A senhora Bárbara disse que a casa do avô do Senhor McCain possui uma grande área verde nos fundos, ao lado de um lago, podemos pousar nela.

– Ok então. Tudo pronto? Podemos ir?

– Sim, precisamos nos apressar, meu senhor precisa de suprimentos.

– Fique tranquilo, chegaremos rápido.

***

Bárbara ficou muito agradecida por ainda estar guardado na casa um estojo com utensílios de barbear, uma navalha e tesouras antigas, mas ainda bem afiadas.

Com delicadeza, ela ensaboou o rosto do marido, dando atenção a cada pequeno pedaço da barba espessa. Mesmo sem tratamento, os pelos ainda eram macios ao toque e ela não pôde resistir a correr os dedos carinhosamente por toda sua extensão, enquanto depositava pequenos beijos em sua face.

Aquele cuidado era tão terno e tão bem vindo que Daniel não pôde conter as lágrimas silenciosas que corriam pelo canto de seus olhos.

Prendendo a respiração para evitar movimentos bruscos, Bárbara deslizou a navalha com paciência, exibindo aos poucos as linhas firmes daquele rosto que tanto amava.

Quando terminou de barbeá-lo, aparou as pontas de seu cabelo, que obviamente precisaria de um corte profissional mais tarde, mas cujo resultado ficou bem satisfatório. Ela sorriu ao se dar conta de que não precisava de muita coisa para que aqueles fios sedosos de ondas perfeitas ficassem impecáveis. Era realmente lindo o seu marido.

A banheira que ficava no quarto principal da casa era de modelo antigo, clássico e bem bonito. Sob protestos Daniel aceitou ficar deitado nela por meia hora após ter se banhado, apenas "relaxando", como insistiu sua esposa. Ele particularmente achou "relaxar" bastante estressante, já que odiava ficar parado sem fazer nada e agora que recuperara seu motivo de viver, seu cérebro já emitia inúmeras sinapses praticamente implorando pra que ele retomasse seu ritmo incansável. Mas por ela, se obrigou a tentar.

Quando ainda estava de olhos fechados sentindo o calor da água esmaecer aos poucos, ouviu um barulho de hélices que lhe era bem familiar. Certamente, Bárbara pedira reforços para cuidar dele. Sorriu e afundou sua cabeça na água, apaixonando-se pela milésima vez por ela nas últimas horas.

***

Com a agilidade e concentração de quem leva suprimentos para um campo de batalha, Ian e Jeremy descarregavam as inúmeras malas e caixas que haviam trazido, quando Bárbara saiu correndo pela porta e começou a ajudar no transporte.

– Obrigada por terem vindo tão rápido! – Ela agradeceu.

– Não precisa agradecer senhora! Sou eu que agradeço por ter encontrado o Senhor Daniel! – respondeu Ian feliz e empolgado como ela jamais havia visto – Onde ele está? Deseja que eu leve as roupas que trouxe para ele?

– Sim, Ian, por favor. Ele está no andar de cima, ajude-o a se vestir enquanto preparo algo para que coma... – a voz de Bárbara falhou – Ah Ian... Ele não se alimenta direito há muito tempo!

Rugas de preocupação franziram a testa do mordomo, mas rapidamente ele se recompôs e agarrou uma valise que havia sido colocada junto à porta.

– Trouxe os suplementos que ele toma, vão lhe fazer bem. – e entrou com passos rápidos rumo ao andar superior, quando parou no primeiro degrau da escada para dirigir-se à sua patroa – Embora tudo o que ele mais precisava, era de você. – Completou olhando-a ternamente com um sorriso no rosto.

Ao entrar no quarto que imaginou ser o principal, Ian deparou-se com Daniel sentado na cama de costas para a porta, apenas com uma toalha envolvendo seu quadril. Ver a magreza que agora prejudicava os contornos de seu corpo, sempre tão bem cuidados, lhe deu um aperto tão grande que ele não pode evitar as lágrimas que correram por sua face. Queria seu patrão como a um filho e por muito tempo, ver o rumo que suas ações tomavam lhe perturbou profundamente. Ansiava que ele se apercebesse de seus erros, mas jamais havia esperado encontrá-lo em uma condição tão abatida.

Percebendo sua presença, Daniel virou-se e o encarou.

– Ian...

– Senhor McCain. – O mordomo cumprimentou-o assentindo com a cabeça.

Daniel sorriu. Jamais havia imaginado que sentiria tanta falta daquele homem. Sim, porque na ausência de sua relação paterna, Ian fora como um pai pra ele, aconselhando-o com sinceridade quando qualquer outro não teria coragem de fazê-lo, cuidando para que todas as suas necessidades fossem atendidas e fazendo sempre mais do que suas atribuições requeriam. E em contrapartida ele havia sido sempre a mesma pedra de gelo.

– Me chame de Daniel. – Disse com um sorriso, levantando-se.

– Agradeço senhor, mas creio que não conseguiria ser assim tão informal. – Ele respondeu encabulado.

– Ok. Então me chame de Senhor Daniel se prefere assim. Mas quero que use meu primeiro nome de hoje em diante, está bem?

– Sim, senhor... Senhor Daniel. – Completou acanhado.

– Melhor assim. Agora porque não vem aqui e me dá um abraço? A menos que não se sinta confortável em abraçar um homem usando apenas uma toalha. – Seu patrão completou divertido.

– Não me importo. – Ian respondeu secando uma lágrima do canto do olho, enquanto tentava sorrir, movimento que não passou despercebido por McCain.

– Vem cá. – Ele disse esticando os braços e abraçando forte o mordomo.

A batalha de Ian contra as lágrimas foi perdida naquele momento e ele desabou sobre os ombros de Daniel.

– Pensei...pensei que...ah eu nem sei o que pensei Senhor Daniel, estive tão preocupado!

– Eu sei, me desculpe por isso. Você sempre cuidou de mim como um filho, jamais deveria ter lhe deixado no escuro quanto ao meu paradeiro, mas eu não conseguia pensar direito, me perdoe Ian.

– Não precisa se desculpar meu senhor. Vê-lo são e com quem mais deseja na vida lá embaixo, já é recompensa suficiente por tudo.

– Obrigado meu querido. Estou muito feliz. Tanto que nem consigo explicar. Quando Bárbara me deixou, foi como se minha alma se estilhaçasse em mil pedaços. Isso foi horrível, mas agora vejo que foi muito bom também. Eu realmente precisava ser quebrado para que meus pedaços se encaixassem no local certo dessa vez. Peço que tenha paciência comigo, pois estou aprendendo sobre esse negócio de reciprocidade. Mas vou me esforçar, lhe dou minha palavra.

– Sei que vai. Tenho certeza de que o senhor jamais será o mesmo homem. Ela o estilhaçou, mas agora está aqui para colar cada pedacinho, e isso é o que importa.


O Protetor - Série case-se comigo - Livro 1Where stories live. Discover now