Capítulo 2

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- Majestade?

Escuto me chamarem enquanto estou concentrada. Uma mão segurando a madeira firme, de encaixe perfeito e a outra segurando a corda e a flecha. Meus ombros estão devidamente alinhados, a corda perfeitamente esticada. Encosto minha bochecha em meu polegar e fecho meu olho.

Inspiro fundo antes de soltar a corda e observo a flecha acertar o centro do alvo.

- Sim?

- Há um cavalheiro solicitando uma audiência com a senhora.

Caminho até o alvo e retiro a flecha. Me distancio novamente e pego uma nova no alforje. Me posiciono para um novo tiro e quando acerto o círculo minúsculo novamente eu me viro para o servo.

- Avise ao cavalheiro para voltar amanhã, encerrei minha agenda por hoje.

Então me volto para o alvo novamente, antes que eu possa me preparar para continuar meu treino eu escuto um pigarro alto. Uma insolência vinda de qualquer pessoa que não seja minha irmã. Quem este servo pensa que é para tentar intimidar a rainha?

Mas assim que me viro, pronta para mandar o servo embora, me deparo com outro homem.

- Mil perdões, senhora. - o servo diz - Me encarregarei de conduzir o cavalheiro até a porta.

Analiso o homem misterioso. Pelas vestimentas eu diria que é filho de um dos Lordes do conselho. Ele é alto e suas roupas não são capazes de esconder os músculos e ombros largos, um porte bem diferente da maioria dos nobres que conheço. A pele dele tem um tom escuro e um bronzeado que só pode significar horas debaixo do sol.

Quando o servo aponta para trás, na intenção de levá-lo embora, levanto uma mão sem tirar os olhos do homem na minha minha frente.

- Já que o cavalheiro se encontra aqui, pode deixar.

O servo faz uma pequena reverência e vai embora. Este homem me intriga, ele se porta como um nobre mas tem a audácia de solicitar uma audiência comigo ao final do dia. Além de claramente entrar sem ser devidamente anunciado.

- Qual seu nome?

O homem, que observava o servo sobre o ombro, volta seu olhar para mim. Aguardo que ele responda minha pergunta e diga o motivo de estar aqui, mas quando seus olhos vão de mim até o alvo atrás, vejo que a audácia dele é ainda maior do que aparenta.

- Acredito que você esteja perto demais do alvo.

- Acredito que a distância entre mim e meu alvo não seja de sua conta.

Os olhos castanhos voltam a me fitar e aperto meu arco com mais força. Desde a morte de meu pai eu aprendi a me impor, muitos dos homens duvidavam que eu fosse capaz de governar. Alguns inclusive propuseram casamento para que eles mesmos tomassem conta de tudo por mim.

Ver este estranho questionar algo tão trivial quanto o posicionamento do meu alvo, desperta esse meu lado mais uma vez.

- Seu nome.

Desta vez não digo como uma pergunta e pelo leve levantar das sobrancelhas dele, imagino que tenha percebido minha mudança de humor.

- Me chamo Anthony, mas acredito que passarei a adotar o título de meu pai a partir de hoje. Lorde Ribeiro, majestade.

O filho bastardo e recentemente assumido.

- A que devo sua visita?

- Gostaria de agradecer pessoalmente por me conceder o título.

- Não foi nada demais.

Digo e lhe dou as costas, pegando outra flecha e a posicionando no arco. Puxo a corda e levanto os braços, no momento em que começo a encaixar a mira eu sinto as mãos de Lorde Ribeiro em mim. Uma na minha cintura e a outra no meu ombro.

Entre a chama e o geloWhere stories live. Discover now