Capítulo 1

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- Não quero saber, Ana é nova demais. Não vou submeter minha irmã a um casamento. Muito menos se for para ela se casar com um velho asqueroso como Lorde Janssen.

Meus conselheiros insistem em dizer que  uma rainha jovem não é respeitada, que um casamento seria a resposta para possíveis problemas. Há anos eles falam isso, mas sempre deixei bem claro que meu foco era o reino. Enquanto meus súditos não virem problema em ter uma rainha jovem e solteira, não irei me casar.

Isso os levou à brilhante ideia de que minha irmã de 15 anos seria a solução. Ter um cunhado com título e poder garantiria que eu tenha influência dentre os outros nobres, como se ser sua rainha não fosse suficiente.

- Lorde Janssen é um candidato perfeito, ele cuida muito bem dos filhos e certamente cuidaria bem de sua irmã.

Olho para Carlos e imagino que analogia perfeita ele utilizou, Ana poderia ser filha de Janssen. Eu poderia afirmar novamente que esse casamento nunca vai acontecer, mas sei que isso só daria mais corda para que ele falasse e arrumasse cada vez mais argumentos para tentar me convencer.

Estou acordada desde cedo tentando resolver problemas de distribuição de alimentos e tenho reuniões fora do castelo, não tenho tempo nem disposição para mais discussões. Me recosto em minha cadeira e levanto meu queixo.

- Pensarei no assunto.

- Garanto que o conselho se preocupa com a princesa, houveram pretendes piores.

Não quero continuar esta conversa, então só balanço minha cabeça e volto meus olhos para os papéis em minha mesa. Um claro sinal de que acabamos por aqui. Carlos então murmura um 'com licença majestade' e faz uma reverência antes de sair de meu escritório.

Assim que escuto a porta se fechar largo os papéis novamente, os relatórios começaram a parecer escritos em outro idioma. Preciso de uma pausa. Me levanto e vou até a janela onde há um banco bem em baixo dele, de modo que eu possa me sentar e apreciar a luz do sol e os campos que cercam o castelo.

Em pensar que há apenas 4 anos eu costumava correr pelos corredores sem preocupações. Descanso meus braços no parapeito e apoio meu queixo. Papai nunca me forçou a assumir deveres reais, sempre me permitindo tomar minhas próprias decisões. Boa parte da postura dele se dava pelo fato dele ter que criar eu e Ana sozinho.

Hoje sinto que deveria ter aproveitado mais a presença dele, passado mais tempo em reuniões. Por mais entediantes que fossem.

Escuto um barulho na porta e já me preparo para brigar com quem quer que tenha entrado em meu escritório sem ser anunciado primeiro, mas assim que me viro vejo minha irmã e um leve sorriso se abre.

- Ouvi um de seus conselheiros falando o quão frustrado ele se sente, por ter que servir uma rainha cabeça dura.

Já imagino quem tenha dito isso. Chego para o lado, abrindo espaço para minha irmã se sentar e dou leves tapinhas no assento. Ela se senta e descansa a cabeça em meu ombro.

- Isso significa que não terei que me casar?

- Você terá que se casar um dia, Ana. - ela grunhe e eu riu - Mas significa que não terá que se casar à força. Você se casará com quem quiser e quando quiser, te prometo isso.

Ela levanta a cabeça e percebo que seus olhos estão cheios de lágrimas não derramadas.

- Obrigada, Camila.

- Papai não teria forçado nenhuma de nós a se casar, não irei fazer algo que ele não aprovaria.

Ela assente e volta a apoiar a cabeça em meu ombro.

Entre a chama e o geloWhere stories live. Discover now