Capítulo 2

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   Acordei com o avião pousando, era como se algo muito forte me empurrasse para fora, acordei em um sobressalto olhando para os lados, a aeromoça me perguntou se eu estava bem, sim estava, fisicamente, porque mentalmente eu estava acabada.
   O sonho havia sido horrível, as memórias daquele sonho vinham e iam ao passar dos segundos, era mais como um aviso, minha mãe deitada na cama do hospital com todos os aparelhos ligados, ela sorria para mim apesar do olhar de tristeza, minha tia não estava presente, nem os médicos apenas nós duas.
   Ela esticou o braço e pegou minha mão me trazendo para perto do seu corpo gelado, ela me abraçou e ouvi seu coração parar de bater, foi como ouvir uma música que você deseja que nunca acabe, ela me tirou do abraço e sorriu novamente, segurou meu rosto com as duas mãos.
    - Não confie na sua tia. – ela disse, em seguida ela se transformava em algo horrendo.
   Sua pele ficou preta e asquerosa, me afastei rapidamente, mas foi em vão, algo como uma corda prendeu meu corpo e me puxou para dentro da coisa, me engolindo, fazendo com que eu enxergasse apenas o escuro do seu interior e ficasse sem ar.
   Então eu acordo. Fiz o check-in e sai do aeroporto com a mochila nas costas, quando fiz o check-in a atendente me deu uma chave e falou que a minha moto estaria na estacionamento, ela me indicou aonde ficava, fui para lá, tendo a sensação de que alguém me seguia, olhei sobre o ombro e percebi que o segurança do lugar me seguia, apertei os passos e cheguei no estacionamento, comecei a procurar a moto pelo lugar, o achei no canto direito perto da saída.
   Um homem velho apareceu na minha frente, com um sorriso e a roupa de segurança.
    - Posso ver o papel de documentação da moto. – ele percebeu que eu encarava a moto, peguei os documentos e o papel que a atendente havia me entregado e entreguei para ele, que saiu com os papéis na mão, o segui até a uma bancada onde continha papéis, capacete e a chave.
    - Algum problema? – perguntei olhando para os papéis a sua mão.
   Ele negou com a cabeça e colocou o papel da atendente sobre a mesa e uma caneta.
    - Assine aqui, confirmando que veio pegar a moto. – ele indicou para uma linha no final do papel.
   Peguei a caneta, assinei a onde ele havia indicado e me deu um capacete.
    - Obrigado! – ele agradeceu.
   Agradeci de volta, me virei para sair, dei alguns passos para a frente e me virei para a moto, em seguida voltei em sua direção.
    - Precisa de alguma coisa? – perguntou ele com outro sorriso nos lábios.
    - Sim – confirmei colocando a mão com a chave sobre a bancada, joguei minha mochila para o lado e peguei um papel com um endereço. – Sabe a onde fica esse local? – perguntei colocando o papel sobre a pancada olhando para ele.
   Ele colocou o dedo indicador na minha frente e pediu que eu esperasse, ele voltou com um mapa na mão e esticou sobre a bancada, pegou o papel com o endereço e começou a procurar no mapa, segundos depois parou sobre um local e me indicou.
    - Você está aqui – ele indicou ao aeroporto que ficava do outro lado da cidade. – A onde você quer ir fica aqui.
   Olhei a distância e quase tive vontade de comprar outra passagem e voltar para casa.
    - Pode fazer o caminho com uma caneta? – perguntei.
   Ele pegou uma caneta vermelha e fez o caminho.
    - Posso tirar foto? – perguntei.
    - A vontade.  – ele falou.
    - Valeu. – agradeci pegando o celular no bolso de trás e tirando foto.
   Peguei minhas coisas e fui em direção a moto, parecia que ela sorria para mim, me aproximei passando a mão no banco de couro. Um Ducati Scrambler Icon não era tão fácil de achar, mas minha mãe com suas habilidades comprou assim que terminou de tirar a carteira.
   Montei na moto, coloquei o capacete, liguei e senti o motor roncar por baixo do meu corpo, acelerei mais uma vez, sai do lugar indo em direção a saída, passei pelo senhor, buzinei e sai do aeroporto, segui em frente, parei na esquina decorando as próximas ruas que eu devia passar, guardei o celular dentro da jaqueta de couro e voltei a andar pela cidade.
   Olhando cada paisagem, cada local, para que quando eu voltasse para casa, pudesse finalmente dizer que eu estive em São Francisco.
   Cada casa, cada prédio, precisa os mesmos, mais era um negócio do seu estilo e forma, os bondes passavam entre os veículos sem preocupação.
   Meu celular apitou no bolso da jaqueta, estacionei a moto, peguei o celular e olhei a notificação, o local que eu estava procurando estava bem na minha frente. Olhei para o apartamento médio, de alguns andares, desliguei a moto e desci, olhei para os lados e atravessei, parei de frente ao prédio, retirei o capacete e o segurei na mão direita, com a mochila nas costas, e na outra mão o envelope com o pedido da minha mãe.
   Uma mulher jovem e bela sai do apartamento, aproveitei e entrei, sem precisar apertar a companhia, uma senhora, sentado em uma cadeira de balanço sorriu para mim com o leque na mão esquerda.
    - Com licença - falei me aproximando e chamando a sua atenção. - Sabe qual é o número do apartamento do Eddie Brock?
   Ela sorriu e se levantou, passou por mim e parou no pé da escada apontando o quinto andar e falou que era a última porta a direita no fim do corredor.
   Agradeci e comecei a subir as escadas olhando para cima, a escada era por andar, a cada um andar, mais um lance de degraus, passei por apartamentos, muitos em silêncio, comecei a torcer para que ele estivesse lá em cima para segundos depois torcer para que ele não estivesse.
   Senti minha respiração ficar pesada, olhei para a parede leste, o número do andar estava enorme sobre a virada da escada, terceiro andar, revelava que faltava mais dois andares, apoiei meu corpo na parede, mais me recusei a sentar, pois se eu sentasse, só me levantaria quando fosse de noite.
   Continue a subir, desejando que aquilo acabasse logo, depois de mais alguns lances de escadas cheguei no quinto andar, comecei a recuperar o ar que eu havia perdido, segui pelo corredor até parar de frente a uma janela e olhar para a porta.
   Respirei fundo, mais agora não era mais por causa da falta de ar e sim pois estava nervosa, não sabia como ele iria reagir, fechei a mão em punho, ergui meu braço e bati três vezes na porta, o silêncio pairou no ar, ninguém respondeu, bati mais algumas vezes, nada.
    - Ele não está aí. - falou um homem atrás de mim, saindo do apartamento.
   Me virei para olha-lo, ele virou para trancar a porta e depois virou para sair.
    - Sabe que horas ele chega? - perguntei olhando para a porta.
   Voltei a olhar para o homem, de cabelos e barba longo, camiseta larga escura e uma calça larga.
    - Depende do dia - ele falou encolhendo o ombro. - Normalmente ele chega antes das 23:30 ou mais tarde. - ele saiu andando.
    - Valeu! - gritei antes que ele sumisse pela escada.
   Olhei para a porta, em seguida para a janela, olhei para fora, o sol começou a sumir entre os prédios, desci as escadas correndo, assim que cheguei no primeiro andar, a mulher de idade estava sentada no mesmo lugar que antes.
    - Oi, assim que o Eddie chegar, diga que uma menina procurou ele e fale que era muito importante - falei. - Diga que eu volta ainda hoje mais a noite.
   Ela concordou, sai andando, mais antes mesmo de chegar na porta, virei para ela e voltei novamente trás.
    - Você conhece alguém que conheça o Eddie melhor que ninguém? - perguntei batendo as mãos uma na outra.
    - A uma mulher que era noiva dele, acho que ela mora mais perto do centro - ela olhou para o teto pensativa. - O nome dela é Anne Weying se eu não me engano. - ela disse olhando para mim novamente.
    - Agradeço. - falei pegando meu celular que agora estava no bolso da calça.
   Joguei no Google o nome da mulher, indicava que ela morava num apartamento não muito longe dali, ela era uma advogada, isso me ajudaria muito na hora de transferir a moto para o Eddie.
   Atravessei a rua e montei na moto, liguei a moto e sai do lugar sentindo o vento bater em mim.
   Passei por quatro ruas, em seguida virei a direita, desci o morro lentamente, olhando cada casa, achei a casa dela, as janelas estava fechadas, consegui estacionar a moto na frente do apartamento dela, desci da moto, tirei o capacete e arrumei o cabelo.
   Parei de frente ao apartamento e bati várias vezes de vagar, som de passos veio de dentro, depois a tranca se abrindo, uma linda mulher de cabelos loiros e olhos azuis apareceu na porta me olhando.
   Ela olhou em volta de mim e eu sorri.
    - Desculpa, posso te ajudar? - ela perguntou.
    - Acho que sim - falei. - Eu estou precisando achar um amigo chamado Eddie Brock e me disseram que talvez você pudesse me ajudar.
   Ela não ficou surpresa, mais fez uma cara de como se eu na verdade tivesse falando um nome que não devesse ser pronunciado.
    - Venha! - ela me chamou acenando com a cabeça e dando passagem para que eu e entrasse. - Entre.
   Passei por ela e entrei, admirada com o apartamento, ela pediu para que eu a seguisse e foi o que eu fiz, subi um lance de escadas chegando no andar de cima, coloquei minha bolsa no sofá, ela seguiu até a cozinha.
    - Aceita alguma coisa para beber? - ela gritou.
   Observando a casa, prestando atenção em cada detalhe levei um tempo para responder.
    - Um copo de água já basta. - falei.
   Passei pela sala e cheguei a cozinha, a casa estava totalmente arrumada, um gato apareceu na bancada, ele passou por mim, me permitindo fazer carinho em seu pelo.
   Ela colocou o copo na minha frente, bebi um pouco de água e percebi que ela me observava encostada na pia.
    - Então, de onde você conhece o Eddie? - perguntou ela.
   A examinei, em seguida voltei a olhar para o gato e a massageá-lo.
    - Na verdade ele conhecia minha mãe, eu nunca o vi na vida, mais ela me pediu um favor. - menti.
   Ela me olhou cruzando os braços.
    - E eu posso saber que favor ou é algo que tem que ser com ele? - ela perguntou.
   Não tinha o porque menti, mais por algum motivo, pelo jeito que ela me perguntou era como se ela estivesse preocupada com ele.
    - Não, só com ele. - menti sorrindo, olhando para ela.
    - Nesse exato momento eu não sei a onde ele está, mais a noite ele volta para casa as 23h ou um pouco mais tarde - ela falou vindo na minha direção. - Tem a onde ficar? - perguntou parando na minha frente.
   Neguei com a cabeça. Ela sorriu e apontou para o sofá.
    - Pode passar a noite aqui, posso ligar para ele para vir aqui falar com você. - ela se ofereceu mais eu a interrompi.
    - Prefiro falar com ele a sós, no apartamento dele - falei. - E eu já pedi para avisar que eu ia voltar lá mais a noite.
   Ela concordou com a cabeça.
    - Se precisar de alguma coisa, eu vou estar naquela sala. - ela apontou para um quarto no final do corredor.
    - Obrigada. - agradeci.
   Ela saiu da cozinha me deixando sozinha com seu gato.

Venom: A Filha (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now