Capítulo 2 - Anrie

1K 115 13
                                    

O observei mais um pouco e sorri e com isso ele parou de tremer, o que me faz sorrir novamente. Observei seu corpo de cima a baixo. Ele era magro, mas parecia saudável, a pele era extremamente branca, tinha cílios longos, sobrancelhas pequenas, o lábio superior era fino, mas o inferior já se mostrava mais carnudo.

Por impulso acabei por lamber os próprios lábios por ansiedade e ele imitou. Ri com aquilo. Ele pareceu repetir o ato me deixando ver os caninos afiados. Isso me fez lembrar.

Ele estava dentro do meu armário não estava? Como isso poderia ser normal? Eu estava contemplando aquele que me fez passar inúmeras noites mal dormidas?

– Quem é você? – perguntei me sentindo um pouco tonto já que meu sangue estava indo para a cabeça.

– Quem é você? – repetiu minha pergunta se aproximando do meu rosto, sua voz é fina como a de uma pequena criança.

– Eu perguntei primeiro – falei em resposta.

– Tem razão – disse levando o indicador ao queixo parecendo concordar com meu ponto de vista.

– Não vai me dizer seu nome? – perguntei descendo da cama e me pondo embaixo dela com ele, não antes de bater a cabeça no teto da cama.

– Eu não sei o que isso quer dizer – deu com os ombros, arrastou as longas unhas no chão, o barulho me causou um arrepio.

Vamos lá não é hora de ser medroso.

– Não sabe o que quer dizer o que? – perguntei inclinando a cabeça pro lado e o corpo pra trás, menos contato físico melhor.

–“Nome” – disse repetindo meu ato com a cabeça o corpo vai pra frente, unhas batendo no chão.

– É como as pessoas te chamam quando precisam falar com você, por exemplo: meu nome é Maxie e o seu?

– Não tenho algo assim – deu com os ombros ossudos, unhas na boca – não tem algo do que me chamem.

–Então... – me aproximei dele, não parecia digno de meu medo, está tudo bem, se fosse me machucar já o teria feito – posso dar-lhe um nome?

– Sim – disse com um sorriso, unhas entre os dentes, parecendo fortes como mármore.

– Que tal... Anrie? – falei em um lapso de criatividade.

– Anrie? Qual o significado? – unhas passando pelo tecido da camisa.

– Nenhum. É só a mistura do nome dos meus pais, Anwar e Pierre – disse num sorriso – eles são as pessoas que eu mais amo no mundo – comecei a observar minhas próprias unhas, não são nem a metade das dele.

– Entendi – disse imitando meus gestos novamente.

– Porque estava dentro do meu guarda-roupa? – perguntei um tanto quanto receoso com a resposta.

– Eu moro lá – respondeu dando com os ombros, sua clavícula faz um movimento engraçado.

– Não mora não. De manhã quando eu abro não tem ninguém.

– De manhã eu saio, porque não a perigo. Você sabe, tem humanos fora da minha casa – disse tremendo ligeiramente e depois voltando a postura e a inexpressividade.

– Mas eu sou humano.

–Isso é um humano? – disse se aproximando do meu rosto, e acariciando minha bochecha com a palma da mão direita – todos são macios e rosas como você? Não foi assim que me contaram.

– Você também não é exatamente o que eu esperava. – disse tentando em vão não ruborizar por ele ter dito que me achava macio, mesmo não sabendo se é exatamente um elogio.

– Por que diz isso? – pergunta inclinando a cabeça para o lado.

–Porque você é um monstro?

–Monstro – repetiu, a palavra parece amarga em sua boa – é uma coisa ruim?

–No seu caso eu acho que não – disse inclinado a cabeça de lado, o imitando.

Ele engatinhou até onde eu estava e segurou minhas mãos. O olhei sem entender, mas não queria que as mãos geladas dele me soltassem, pareciam refrescantes e aterrorizantes. Ele inclinou o rosto para perto do meu e logo senti os lábios rosados e ressecados sendo pressionados contra minha bochecha.

–É assim que se cumprimenta por aqui não é? – disse com um sorriso.

Tentei levantar, mas bati a cabeça na parte de baixo da cama. Engatinhei e sai de baixo dela.

Ele faz um barulho que me assusta.

Saio às pressas do quarto e acho Anwar de roupão com um copo de café na mão.

– Pai eu tive meu primeiro beijo – dizia aos gritos não sabia se era ansiedade ou desespero.

–O que? Quando? Com quem? Menino ou menina? Ah por favor, que tenha sido com um menino!

–Respira pai, fui eu que beijei não o senhor. E foi com um menino, e foi agora a pouco, na minha bochecha.

–Ah orgulho do pai – disse me pegando nos braços.

Anwar sempre quis que eu fosse gay, diferente de Pierre que dizia que eu poderia ser o que eu quisesse. Desde que eu já era mais novo o moreno me fazia ver animes ou ler mangás de yaoi, para não sei, me sentir estimulado a fazê-los?

Eu ainda não havia contado para eles que era gay ou que descobri a senha para ver pornô na televisão. Também não pretendia contar – principalmente a parte da senha – logo que sei que qualquer namorado que eu tenha vai ser enchido de perguntas até a morte.

Anwar gosta dos detalhes sórdidos desde “ Quem fica embaixo e quem fica encima?” ou “como é exatamente a relação de vocês na cama?” , já Pierre fazia mais o estilo “O que você quer com nosso filho? Já tem emprego? Fuma? Tem um carro? Já está pensando em casamento?” E eu sei disso porque da última vez que trouxe aquele menino aqui – aquele que nunca consigo me recordar o nome – eles fizeram as mesmas perguntas. O garoto ficou com um pouco de medo, mas parece não ter sido abalado, logo que ainda fala comigo.

– Espera você disse agora pouco? – pergunta meu pai me soltando do abraço apertado.

– Sim.

–Quem você encontrou a essa hora? Já é mais que meia noite.

–Foi o garoto no meu quarto – disse vendo Anwar se dirigir até meu quarto preocupado e abrir a porta.

Ele olha tudo desde embaixo a cama e atrás das cortinas.

–Não tem nenhum garoto aqui, Maxie.

The Monster in my ClosetWhere stories live. Discover now