Capítulo 1 - Amigos imaginários

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Quando crianças temos medo de particularmente muitas coisas, certo?

Medo de ficar sozinho em casa.

Medo do vento que suspira nas noites de inverno e outono.

Medo de certa senhora de aparência duvidosa que mora no final da rua.

Medo do escuro.

Mas principalmente dos monstros. Você sabe do que estou falando, me refiro àqueles monstros que se escondiam de baixo de nossas camas, dentro de nossos guarda-roupas, ou até mesmo, repito, até mesmo atrás cortinas e brinquedos.

Eu não fui diferente sem dúvida, sempre fui um grande covarde, mas essa história se trata de como medo se transformou em paixão pra não ser óbvio o suficiente. Essa é história de como me apaixonei pelo monstro dentro do meu armário.

Eu com meus dez anos era particularmente uma criança bem antissocial, não era porque eu queria, juro. Não era minha culpa se as pessoinhas de minha idade não gostavam de medrosos, sem falar que sempre fui um baita de um nerd, não me arrependia disso, sempre amei os estudos, mas por isso era difícil para outras crianças falarem comigo, já que meu vocabulário era mais apurado, e por minha vez não gostava de falar com pessoas que não entendiam a metade do que eu falava. Havia um garoto que sempre conversava comigo apesar de nunca me lembrar de seu nome. Não éramos amigos, colegas muito talvez, dava pra notar isso nos sorrisos falsos de ambas as partes.

É mais ou menos isso: Eu, Maxxie um americano qualquer que aos meus dez anos não tinha amigos ao não ser meus imaginários os quais sempre se mostraram muitos simpáticos, sendo eles: Emilly uma loira de olhos laranja que aparentava de sete a nove anos, tinha uma estatura baixa não me recordo exatamente seu tamanho ao certo, além de tudo era uma meio fada meio unicórnio, era um doce de garota.

Jack um garoto de cabelos pretos a estilo Elvis, continha um bronzeado não natural, um sorriso sacana, uns 1,80 de altura e olhos azuis, tinha seus 17, 18 anos, ele tinha uma moto que eu nunca aprendi a pronunciar o nome que de acordo com ele poderia de levar até a lua, satélite ou planeta de sua preferência, sem esquecer que ele sempre me fazia corar ao apertar minhas bochechas e dizer que eu era "bonitinho".

Manoel um português legitimo, já era bem idoso, acho que já passava da casa das dezenas, tinha uma longa barba grisalha que se arrastava pelo chão, o cabelo era curto e também branco, a pele já um pouco enrugada escondia os olhos castanhos, e ele sempre muita história pra contar, dos seus tempos como marinheiro até padeiro, sem duvida um ótimo senhor.

E por fim Davi um ex-aviador brasileiro, tinha a pele negra, o cabelo raspado, olhos castanhos escuros, tinha uma estatura alta – era maior que Jack pelo menos. Tinha seus 20 e poucos anos, e era em minha opinião muito simpático, mas não entendia muito do que ele dizia, mas me esforçava o máximo pra aprender português tanto por ele quanto por Manoel.

Eram eles que conversavam comigo em casa e apenas Emilly ia comigo a escola por ser pequena o suficiente para caber em minha mochila. Mas a noite eles iam embora, tinham coisas pra fazer onde moravam, era o que diziam.

Então ficava sozinho em meu quarto o qual sempre achei ser grande demais, talvez esse fosse um mal de ter pais ricos, e com pais não quero dizer meu pai e minha mãe, com pais quero dizer meus pais mesmo, ou seja, homoafetivo, eles me adotaram quando ainda tinha uns 2 anos, não que me lembre, e realmente os amo, Anwar e Pierre são a melhor família que qualquer um poderia pedir.

Anwar é desentende de mulçumanos e realmente tem um humor cativante, que combina com a pele morena e o cabelo e olhos pretos.

Pierre é mais sério em praticamente tudo sem falar em seu vício em limpeza. Ele é desentende de franceses e morou na frança em quase toda a sua via por isso ter um forte sotaque o qual realmente gosto, mas sempre riu ao ouvi-lo dizer "sacré bleu" com os lábios inclinando em um biquinho.
Tem cabelos loiros e olhos verdes e eu realmente acho que ele e meu outro pai ficam bonitos juntos.

Enfim, eles podem ser maravilhosos, mas estão quase sempre trabalhando.

Anwar em sua empresa de automóveis e Pierre como um Chef de cozinha em um restaurante francês.

Desta forma eles não me dão a atenção que queriam e eu até que tento disfarçar, mas ficar naquela casa enorme cercado de mordomos – Anwar detesta empregadas, não me pergunte o porquê – é um tanto quanto solitário.

Como eu dizia as noites são as piores, em que o vento e as sombras na parede gostam de brincar com meu psicológico. E quando da no relógio exata meia-noite meu guarda-roupa começa a chacoalhar e dar grunhidos, geralmente me encolho na cama até que pare ou simplesmente começava a chorar e chamar pelo nome de um dos meus pais, mas quando um dos mordomos aparecia o barulho sempre parava e eles reviravam os olhos ao me ouvir falar "tem um monstro no meu guarda roupa".

Passei inúmeras noites assim até fazer quatorze anos. Nessa idade Manoel e Davi simplesmente sumiram, me deixando só com Emilly – a qual não me acompanhava mais na escola pra sussurrar algo engraçado em meus ouvidos durante alguma aula entediante, "você já está grandinho pra isso" ela dizia – e também com Jack que agora apertava bem mais que minhas bochechas e já se assemelhava muito com um professor de matemática o qual eu tinha uma queda e não pense que isso é culpa de Anwar e Pierre, não sem duvida não era de hoje que eu me sentia atraído por garotos – outra ótima razão pras pessoas não gostarem de falar comigo, mais particularmente para meninos não falarem comigo.

Enfim, numa noite qualquer em que ouvia o meu guarda-roupa chacoalhar e os rugidos saírem como qualquer outra noite eu tremia no canto da cama, mas do nada o guarda-roupa se abriu, sinceramente do nada.

E de lá saiu um garoto, usava roupas com listras pretas e brancas, o cabelo era de coloração rosa assim como seus olhos, o que me fez realmente ficar assustado foi ver os chifres pequenos de cor azul-marinho em seu cabelo e as unhas desnecessariamente grandes. Meus olhos se arregalam, na verdade não conseguiria pensar em outra reação a não ser essa e também gritar. Gritos são excelentes.

O menino a minha frente fez o mesmo e logo após correu para de baixo da minha cama e a senti chacoalhar como se ele estivesse tremendo. Aquilo não fazia sentido, mas mesmo assim, olhei pra baixo da cama e não pode deixar de sorrir com o que vi.

"Que fofo" foi a única coisa que eu consegui pensar ao ver o corpo tremendo, e o rosto corado.

The Monster in my ClosetWhere stories live. Discover now