three - she isn't human

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— Um azul, parecido com meus olhos.

Ainda tinha meus olhos azuis, por mais que meu cabelo já fosse castanho-dourado igual o de minhas irmãs. A cada dia percebia como aquela parte minha estava desaparecendo e, quando a noite chegava e eu podia deitar na minha cama, deixava as lágrimas escorrerem porque sabia que a imagem de meu pai e meu irmão estavam se apagando da minha mente e da história.

— Escutaram então — minha mãe diz, se dirigindo as costureiras. — Um vestido azul igual aos olhos da minha mini rainha.

Sorri com o elogio. Um olhar a minha mãe e vi que ela fazia o mesmo.

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Paro no corredor, a espera de Feyre, quando escuto uma conversa vindo do andar de baixo. Tento reconhecer as vozes, mas estavam extremamente baixas, o que significava que talvez já fosse hora de voltar a treinar meus poderes feéricos. Com um pouco de dificuldade, consegui perceber a voz de Tamlin e Lucien.

— Trouxe duas, talvez a chance de acabar com toda essa merda seja maior — era Lucien que falava, sua voz tinha mais sotaque que a do de cabelos dourados, mas ainda assim não entendi sobre o que exatamente falavam.

— Não — retruca Tamlin. — Só uma chance, na verdade. Seja o que for, a mais velha não é o que aparenta ser. Não é humana, pelo menos não completamente.

— Não sentiu nada que pudesse indicar o que ela é?

— Não. Nem no cheiro, nem com magia, o que quer que seja, ela sabe esconder.

— E ela foi bem clara quando disse humana — Lucien resmungou, mas sabia que, no momento que ele descobrisse, estaria orgulhoso.

Faço uma nota mental de não tirar a magia de transformação de mim, não podia arriscar deixar com que Tamlin visse meus olhos azuis, a cor de nascença do meu cabelo ou minhas orelha meio pontudas.

Antes que pudesse voltar a concentrar na conversa do andar de baixo, sinto mãos rodeando minha cintura. Poderia ter me assustado, se eu não reconhecesse aquele abraço mais que qualquer coisa. Me viro para abraçar Feyre também, que apenas afunda sua cabeça no meu peito.

— Tinha me esquecido do quão bonita você fica de vestido — sua voz sai abafada.

— Tinha me esquecido da sensação de usar um. Mas e você, por que não está usando um? — pergunto afastando um pouco sua cabeça, apenas para olhá-la nos olhos.

— Me senti mais confortável com a calça. Além do mais, faz tanto tempo que não usamos algo assim — ela segura um pouco de tecido do vestido — que ao menos lembro como é. Me acostumei com calças e túnicas.

— Uma pena, você sempre foi a mais bonita de nós quatro com aqueles vestidos.

— Dizer isso é um eufemismo — grunhiu. — Todo mundo sabe que você de longe era a mais bonita. Ainda é. Olhe só para isso! — ela se afasta mais, segurando minha mão e me girando no lugar.

— Não exagere, Fey.

— Não estou exagerando, é a verdade.

Quando acabamos a mini discussão de qual das irmãs ficavam mais bonitas em vestidos – Feyre me fez admitir que era eu – descemos em direção à sala de jantar. Onde Tamlin e Lucien já esperavam, o primeiro sentado na cabeceira da mesa enquanto o segundo estava a sua esquerda.

Eles pararam a conversa na hora que nos viram entrando na sala, se for porque não deveríamos escutar sobre o que conversavam ou se estavam terrivelmente surpresos, eu não saberia dizer. Percebendo claramente a diferença de minha irmã e eu – e não duvido que tentando farejar o que impedia o Grão-Senhor de afirmar que eu era tão humana quanto Feyre –, reparei que me esconder seria ainda mais difícil. Quando viram que não nos movemos ou falamos algo Tamlin decidiu se pronunciar:

Corte de Amores e Segredos - ReescrevendoOnde histórias criam vida. Descubra agora