- Como assim? – pergunto, abismado.

- Eles queriam meu corpo – ela responde, e percebo que ela soca o chão, repetidamente. – Snow me oferecia, como se eu fosse uma carne de açougue. Um pedaço de pão. Algo para ser comido. Mas ele achava mesmo que eu ia ceder assim? Ele estava completamente enganado.

Ela começa a socar o chão com mais força. E dá uma risada amarga.

- Um velho asqueroso pagou uma grande quantia para Snow afim de passar uma noite comigo. Uma equipe estúpida trabalhou em mim o dia todo. Até minha pele pintaram de prata, pois era uma exigência do retardado...

Ela volta a ficar em silencio.

- Johanna... – murmuro, e seguro sua mão, fazendo-a parar de esmurrar o chão.

- Eu o matei – ela diz, e me olha nos olhos, de uma maneira penetrante. – Eu o amarrei na cama da casa dele, fingindo ser algo sensual, depois peguei um pequeno estilete que eu havia escondido em minhas botas, e o cortei, todo o seu corpo, até ele morrer. E sabe o que é pior, Peeta? Eu me senti feliz por fazer isso.

Seguro mais firme sua mão, e vejo pequenas lágrimas brotando em seus olhos castanhos.

- Eu fiquei feliz, porque aquele velho não ia usar meu corpo – ela diz, e suspira, sustentando meu aperto em sua mão. – Eu estava preparada para sofrer as consequências. Mas eles não fizeram nada comigo. Apenas me levaram para casa.

Agora as lágrimas escorrem por sua face, abrindo caminho pela sujeira em seu rosto, pingando no chão.

- Dois dias depois, eu, minha mãe, meu pai e meu irmão, estávamos derrubando árvores. Não era para eu estar lá, mas eles não se importavam por eu trabalhar mesmo sendo uma vencedora. Um pacificador veio me chamar, e eu o segui, achando que iam por fim, me impedir de trabalhar. Se eu soubesse que aquela seria a última vez que os veria vivos...

Ignoro minhas dores, e me arrasto para mais perto dela, e a envolvo num abraço, desconfortável, devido as algemas. Mas eu não importo. Johanna pousa a cabeça em meu peito, e ali fica. Suas lágrimas quentes molham a camiseta esfarrapada que vestiram em mim. Deixo minha cabeça repousar na dela, o que faz meu rosto pinicar agora que seus cabelos começaram a nascer. Ela toma folego, e se afasta apenas um pouco, com seu rosto ficando a centímetros do meu.

 - Houve uma explosão – ela diz, em meio aos soluços – uma droga de caminhão explodiu... Eles estavam... nós estávamos ao lado do caminhão. Eu vi seus corpos sendo despedaçados... Pegando fogo. Me tiraram de lá, para eu vê-los morrer, para me punir, pelo que fiz com o velho escroto.

Ela volta a se aninhar em meu corpo, e então eu percebo como ela é frágil. Beijo sua testa.

- Depois de toda essa merda, eu fui morar na casa de uma amiga da minha mãe – ela continua, mais calma, ainda com a cabeça colada em meu peito. – Não foi um gesto caridoso, ela estava apenas de olho no dinheiro e comida que eu poderia oferecer. Ela tinha um filho... Um ano mais velho que eu.

Como se estivesse encabulada, ela se afasta do meu abraço. E volta a fitar o chão.

- Klaine e eu nos apaixonamos. Fizemos juras de amor. Prometemos um ao outro que um dia faríamos de Panem um lugar melhor para nossos filhos, um lugar onde não existissem esses malditos jogos. Snow até tentou me vender outras vezes, mas eu me recusei, e disse que mataria quem quer que fosse seu cliente... E então, Klaine foi sorteado na colheita – ao dizer isso, ela fecha os olhos, como se não quisesse ver. – Eu realmente achei que ele poderia vencer. Mas no primeiro dia, ele foi emboscado por um bando de bestantes... Ele lutou tanto. Mas acabou morrendo, sendo devorado por aquelas coisas. Mas ao menos estou tentando contribuir, para cumprir a promessa que fiz a ele.

- Eu sinto muito Johanna – digo, percebendo que meu rosto está molhado por lágrimas.

Ela me ignora.

- A mãe dele morreu em seguida, num suposto atropelamento ... A mulher do açougueiro que fazia sopa para mim também morreu – ela começa a gritar – todos que fizeram algo bom para mim, estão mortos.

Silencio.

- Porque está me contando tudo isso?

- Porque eu confio em você.

Eu a olho confuso.

- O jeito como você olha Katniss, me lembra o jeito como Klaine me olhava... Tudo o que você fez por ela... Não tinha como você ser uma má pessoa.

Ela dá de ombros.

- Vamos ficar juntos até o fim... Eu juro, que não vou deixar que mais nada de mal te aconteça – digo a abraçando novamente.

Ela me abraça ainda mais forte.

- Não se preocupe comigo. Se preocupe com você! Todo mundo que importa para mim, está morto. Não quero você nessa longa lista também!

Nesse momento, um bip ecoa, e a porta se abre. Thread adentra a cela, batendo palmas, e sorridente como eu nunca havia o visto antes.

- Emocionante – ele cantarola – muito emocionante.

Abraço Johanna ainda mais forte, para protege-la.

- Está na hora das punições de vocês! E adivinhem o que eu escolhi hoje?

Ele mostra, um chicote, com ganchos enormes nas pontas. Estremeço.

- Dê a punição de Johanna em mim – quase suplico.

Thread gargalha, enquanto Johanna protesta, chorando.

- Com imenso prazer – Thread diz, enquanto me puxa para longe de Johanna e me chicoteia ferozmente.

Tento não olhar para a expressão de pavor dela, e ignorar seus gritos. Mas enquanto o chicote rasga minha pele, provocando dores cada vez mais terríveis, me pego com um pensamento absurdo. Eu faria isso por Katniss também. Mesmo a odiando, por tudo o que aconteceu graças a ela, eu não suportaria vê-la sofrer assim.

A Esperança - Peeta MellarkOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz