01

133K 4.7K 5.2K
                                    

Helena Scott.

A voz da aeromoça soou pelo local anunciando que em pouco tempo o avião iria pousar.

Eu não estou ansiosa pra conhecer minha mãe, eu tô ansiosa pra conhecer a Califórnia.

Na verdade, se não fosse a Califórnia eu estaria odiando a ideia de estar aqui.

O avião pousou e em alguns minutos eu desci dele.

Espero minhas malas naquele negócio lá, só espero que apareça.

Imagina, eu estou num lugar que eu vim forçada, pra conhecer uma mulher que deve me odiar e as minhas malas não aparecem.

Pensado bem, é até um ótimo motivo pra me matar.

Quando eu fizer minha autobiografia, vai estar lá: motivos para se matar.

Meus planos vão por água abaixo quando minhas malas aparecem, eu revirei os olhos e fui pegá-las.

Me sentei em uma cadeira esperando alguém aparecer e falar: senhorita, vamos voltar para o Brasil, onde a senhora vai morar sozinha numa casa e vai ter paz eterna, ou: senhorita, vamos direto para a toca dos infernos, mais conhecido como casa da sua mãe.

Vocês ainda não entendem o motivo de eu não querer nem pensar em olhar pra minha mãe, mas acreditem, é um ótimo motivo.

- Helena Scott?- um moço perguntou com um papelzinho na mão.

Ele parecia ter uns 45 anos, tinha cabelo castanho, olhos da mesma cor, era alto e parecia uma vareta de tão magro.

Se bater um vento aqui ele voa.

- Não, não fui eu que fiz tráfico de doces escondido numa festa infantil.- eu disse me cobrindo com o capuz e o moço riu.

- Acho que é a senhora mesmo, venha. Sua mãe te espera em casa.- ele disse estendendo o braço e eu me levantei.

Espero que não seja um sequestro, mas se for também, foda-se.

É até bom, não vou ter que conversar com aquela mulher.

O moço dá espaço pra eu entrar no carro e ele logo se senta no banco do motorista.

- Eu sou Colin, mordomo da dona Maria Clara e da dona Isis.- ele disse.

- Isis? Quem diabos é Isis?- eu perguntei confusa.

- A esposa da sua mãe.- ele disse e eu arregalei os olhos.

- Sem noção e sem visão, porque pra casar com aquela demônia só se for cega.- eu disse em português.

- O que disse senhora?- ele perguntou.

- Nada.- eu respondi e ele assentiu voltando a olhar a estrada.

Eu prestei atenção no lugar, afinal não é todo dia que se vem pra Califórnia.

O Brasil também é lindo, mas dá pra notar uma grande diferença.

Eu passei grande parte da minha vida num colégio interno, mas eu lembro que quando eu era criança meu pai me levava pra passear e eu adorava ver as ruas.

Tinha dias que ele só me levava pra ver ruas e ele fazia questão de passar pelas mais bonitas, ele sabia que eu amava aquilo.

Ele faz muita falta.

Agora passando por essas ruas, eu só consigo me lembrar do meu pai e dos dois "i's" que foram tirados de mim: Infância e inocência.

O carro foi parando na frente de uma casa muito bonita e grande, uma das casas mais bonita que eu já vi por aqui.

Você é o ÚnicoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora