A Pecadora (Concluído)

Vinte: Pecado original

Música tema da Lisie para vocês :3

É final da tarde e o sol está brilhando como nunca, parece que até mesmo a natureza está feliz pelo nosso sucesso em evitar que Danna retornasse. As estrelas começam a aparecer timidamente no céu, logo a lua lhes fará companhia.

Eu estou em um vasto campo verdejante, embaixo de um único e solitário carvalho, que parece ser muito velho, o tronco é levemente retorcido e as raízes grossas saem do chão. Se não fosse pelas inúmeras lápides de granito, preenchidas com vários nomes de pessoas que já deixaram esse mundo e foram esquecidas, denunciando a presença dos corpos e ossos enterrados a sete palmos, eu diria que esse lugar quase parece um lindo campo de cenário para filmes românticos. Quase.

Nas mãos, eu tenho uma urna preta simples, eu a abro, ainda contemplando a visão bonita do pôr-do-sol, rezo uma rápida prece, apesar de não ser muito religiosa, e viro a urna, deixando a leve brisa levar as cinzas de Darion Nyati para onde quiser.

- Que você encontre a paz, Darion. Sinto muito por não ter conseguido te salvar.

Eu murmuro para o vento, que rapidamente carrega as cinzas, não sobrando mais nenhum resquício físico do bruxo nesse mundo. Agora, apenas a minha memória será a responsável por manter um pequeno fragmento de Darion presente. Mas é isso o que significa a vida neste mundo: ser lembrado por algumas décadas por aqueles a quem já fomos importantes, até o momento em que a hora dessas pessoas também chega e não sobre nada mais da nossa essência nesse planeta.

Não importa quem você foi ou o que você fez em vida, no final, isso é tudo o que nos restará: nossas vidas e nossos espíritos serão levados pelo vento eternamente. E talvez, apenas em alguns casos, a única coisa que sobrará da nossa memória será o nosso legado aqui, bom ou mau.

- Ah, sempre tão nobre, sempre tão honrosa. - a voz ecoa novamente na minha cabeça. - Gostaria que os seus amigos soubessem da grande mentirosa que você é. Você gosta de mostrar para todos que é alguém bom mas, no fundo, você é igual a mim: alguém puramente feita de trevas. E sabe o que é o melhor? Você prefere assim, você quer que seja assim.

- Você não precisava ter matado o bruxo, Tenshikami. - eu suspiro, ignorando as palavras do demônio. Afinal, eu escuto esse tipo de acusações há dez anos, já estou mais do que acostumada às suas provocações. Deus é testemunha de que ele já tentou me enlouquecer muitas vezes com a sua língua bifurcada e palavras venenosas. - Ele estava apenas sendo controlado pela própria irmã.

- Controlado? - o demônio gargalha, eu escuto a sua risada como se ele estivesse do meu lado, apesar de eu estar sozinha no cemitério. - Todos somos controlados por alguma coisa, Lisie. Eu, pelo nosso contrato; aquele vampiro, pela sede insaciável e infinita de sangue; o seu amigo humano, pela falsa perspectiva de ser o seu cavaleiro de armadura reluzente em um cavalo branco. Outros são controlados por coisas menores, como dinheiro, luxúria e poder. Mas você... Você é a pior de todos, você é controlada pela sua moral e suas convicções como se só existisse isso no seu mundo. Como se somente isso importasse.

- Mas essas são as únicas coisas que me importam, não sobrou mais nada para mim. São as minhas morais e convicções que me mantém de pé dia após dia.

- Não, sou eu quem mantém essa sua forma medíocre de pé todos os malditos dias! - o demônio falou, exaltado. - Esqueceu de quantas vezes você já tentou dar um fim a essa miserável existência sua? E eu te salvei todas as vezes, independente do método que você usava para os seus propósitos. Você deve esse seu maldito pescoço a mim! Você deve a sua maldita vida a mim!