0.8

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Any Gabrielly

Assim que fui avisada que o menino Ethan havia nascido, deixei Eva com Sabi, pois hospital não é lugar pra criança e ela nem poderia ficar nessa ala e então vim para cá.

Não nego que chorei um pouco ao saber que Sav faleceu, no fundo eu tinha esperança de que ela pudesse ao menos ficar um pouquinho com o filho, mas, infelizmente, não foi assim que aconteceu.

Josh parece não ter lidado muito bem e está medicado em um dos quartos, pois passou mal. Ethan nasceu prematuro então estou na área do neonatal, não que eu tenha muito o que fazer por aqui, mas é o meu trabalho né.

Ethan é lindo, com o cabelinho todo loirinho, bochechas gordinhas, pequenos pezinhos, o menino é uma gracinha.

Ele está na incubadora e, vez ou outra, ofereço o meu indicador para que ele agarre com as pequenas mãozinhas, aparentemente, isso, de certa forma, o conforta.

Como irei amamentá-lo, permitiram a minha entrada mesmo não sendo da família. Nesses primeiros dias, ele será alimentado com o banco de leite materno, pois o leite secretado pós-parto é mais reforçado e é disso que o pequeno precisa.

Depois, aos pouquinhos, vou começar a oferecer o peito.

Ethan dormia tranquilo então decidi mexer no meu celular para me distrair.

De repente, um cara loiro se aproxima do banco que eu dividia com Joalin... com uma cara nada boa, roubando a atenção de todos por perto, ao lado dele, estava Sina, que transparecia nervosismo.

Acho que é o meu chefe.

— Any, esse é o meu irmão, Josh, pai do Ethan – diz nervosamente.

— Bom enfim te conhecer, senhor – estendo a minha mão e ele permanece imóvel – sou a babá do menino Ethan... – abaixo a mão tensa.

— Como assim? Que história é essa? – pergunta furioso olhando seriamente para a irmã.

— O senhor não sabia? Foi a Sav que me contratou... – engulo seco.

— Eu não preciso de você, dispensada.

— Senhor, eu... – me interrompe.

— Eu não quero saber de você na minha casa com o meu filho! Então fique quieta que o assunto nada tem a ver com você.

— Que palhaçada é essa? Vocês duas estavam sabendo? – o loiro pergunta enfurecido às duas loiras e elas assentem.

— Eu não acredito... como puderam esconder isso de mim?

— Pensei que soubesse, Josh – Sina explica.

— Se eu soubesse nunca teria concordado... Uma qualquer cuidando do meu filho...

— Seja lá o que você combinou com a minha mulher, pode esquecer – diz grosseiramente para mim.

Agora tudo fez sentido... Savannah me contratou às escondidas... o que ela esperava que acontecesse?

Esse cara não parece voltar atrás em nada.

Aliás, ele está sendo um tremendo de um babaca, como se eu tivesse culpa nessa merda toda.

Se o próprio pai não quer, não posso fazer nada não é.

Mas a situação é delicada, eu entendo o que ele está sentindo e, mesmo que a minha vontade seja de gritar com ele, vou manter a calma por respeito.

Por respeito ao luto, vou engolir e ficar quieta.

— Sendo assim, eu vou indo...

— Melhor coisa que você faz.

— Josh, não seja mal-educado! – Sina reclama – Any não leve a mal... vamos conversar com ele... Josh vai mudar de ideia.

— Esqueça, Sina, não se meta nos meus assuntos.

— Acho difícil... – digo sincera – mando os papéis da demissão amanhã.

— Não faz isso, Any... – Sina diz triste.

— Espera, Any... Savannah deixou algo pra você... o último pedido dela em vida... – Joalin diz e retira da bolsa dois envelopes – Tem uma pra você também, Josh...

O loiro encara o papel confuso e logo vejo seus olhos marejarem.

Pego o meu envelope e logo o abro. Vejo ser uma carta e me afasto para poder ler com calma... Sav me colocou numa confusão... como é que ela não avisa pro pai da criança que contratou uma babá?

Any,
Me perdoe por ter omitido esse pequeno detalhe de você... meu marido não quer uma babá, ele tem umas questões do passado... e, de alguma forma, ele acha que dará conta de tudo sozinho, mas eu sei que não... sei que ele está em pedaços e quer esconder de todos a todo custo... ele precisa de ajuda, mesmo que negue até o fim, então eu te peço paciência e que não desista do meu menino, afinal, todo meu esforço teria sido em vão.
Eu só quero que o meu filho fique bem, é pedir demais? A minha mãe me abandonou quando eu era apenas um bebê então eu nunca soube como era ter uma e eu nunca deixaria o meu Ethan passar pelo mesmo... eu queria de certa forma ser uma mãe para Ethan melhor que a que tive, mas a vida nem sempre é como a gente quer. Eu te peço que seja, ao menos, uma ideia de mãe para ele... sei o quanto isso te assusta, mas deixe que o seu coração te guie e você verá que não há nada de errado nisso. Sofri tanto na infância por não ter aquele abraço de mãe... vi como você cuida bem da sua Eva e como eu gostaria de ter isso com o meu filho, mas a vida é cheia de surpresas, não? Talvez esse não fosse o meu propósito... o abrace por mim.
Confio em você, sei que é uma boa pessoa, já até chequei os seus antecedentes criminais! Josh pode dificultar as coisas e eu sei que não será nada encorajador... Dizem que o primeiro mês de vida do bebê é o mais desafiador, eu não estarei aí para viver essa fase, mas creio eu que seja verdade, então te desejo toda a força do mundo... Cuide de Ethan como se fosse seu, estarei olhando por vocês, pode ter certeza.
Com amor, Sav.

Uau... essas palavras me desmontaram... Sinto falta da minha mãe mais que tudo... sinto falta de todo o amor que ela fazia questão de demonstrar diariamente... de todas as receitinhas que fazia só para me animar... do colo e conforto que sempre oferecia nos dias difíceis... Sinto falta também do meu pai, meu melhor amigo, eu tinha uma conexão fora do comum com ele, contava de tudo, era incrível como nos dávamos bem, éramos parceiros... ele foi quem me ensinou tudo... a andar de bicicleta, nadar, dirigir... e sempre me incentivava a perseguir os meus sonhos... Eu os amava com todo o meu coração e agora só restaram as lembranças e a saudade.

Sinto falta da minha antiga vida ao mesmo tempo que amo a vida que tenho hoje com a minha Eva, ela é a minha joia, meu maior presente. Já estou com saudade da minha baixinha e não tem mais que algumas horas que a deixei na Sabina. Amor de mãe não se explica mesmo, foi algo que eu só conheci vivendo... amo a minha filha numa intensidade inexplicável e eu cometeria as maiores insanidades por ela.

Por mais que essa ideia da Savannah pareça louca, ao meu ver, é fruto do amor de mãe... eu faria exatamente o mesmo por Eva, eu teria exatamente as mesmas preocupações... então eu não vou desistir fácil desse emprego, pois isso se trata de muito mais que um simples trabalho.

Ela confiou a joia dela a mim.

Esse é o curioso sobre o afeto, não é sobre tempo, nem eu entendo o porquê me esforçar tanto por uma estranha... não há laços entre nós, eu, simplesmente, não sei explicar.

Eu só sinto que devo cuidar do Ethan como ela pediu.

E lá vou eu aguentar aquele bruto por sei lá quanto tempo.

Volteiiii :)

12 LETTERS | BEAUANY STORYWhere stories live. Discover now