Epílogo

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O ar estava gélido naquela manhã francesa. Não se ouvia os passarinhos que cantavam há uns meses atrás e se você olhasse para fora, era só neve. Não era muito típico ter neve, acontecia uma ou duas vezes no inverno, mas já teve anos que não nevou.

De todo modo, muitas coisas tinham mudado, a decisão de cursar moda foi muito fácil assim que coloquei os pés em Paris há cinco anos atrás junto com meu pai e Eve. Ela havia finalmente inaugurando seu restaurante enquanto Denis tocava o seu estúdio de tatuagem como um dos maiores desenhistas pela cidade.

Ainda colocando algumas roupas na mala, pensei o quanto a minha vida tinha mudado. Olhando no espelho relembrei meu último corte de cabelo no pescoço e agora as tatuagens que cobriam um de meus braços: uma Barbie pequena, a constelação do meu signo, a carinha da Lilith — que estava no Brasil — e uma garota, onde cobria os olhos com uma das mãos e a outra mão segurava uma rosa simples, todas muito significativas.

Cantarolando uma música qualquer, desci as escadas do apartamento onde morava com meu pai e Eve, não encontrando-os por ali, mas sentindo o cheiro maravilhoso do almoço que Eric estava preparando.

Cheguei por trás dele e deixei um beijo em seu ombro, abraçando seu corpo em seguida. Eu tinha tanto carinho por ele, que era incapaz de descrever.

Nos conhecemos pouco tempo depois de que cheguei do Brasil a França e nos tornamos amigos assim que me matriculei na faculdade. Era uma delícia poder estar com ele, me tirava de momentos de angústia e solidão e meses depois estávamos ficando. As coisas simplesmente aconteceram de uma forma que eu não conseguia imaginar e lá estava eu, namorando um cara bacana que me adorava. Meu pai adorava ele, tinham uma bela amizade construída com várias tatuagens.

Ainda não morávamos juntos oficialmente, mas já fazia um tempo que ele quase não saía da nossa casa, ainda mais que seus pais morassem no interior e ele semi dividia um apartamento com um colega da faculdade.

Não tinha como as coisas darem errado mais. Ainda que mami pedisse várias vezes para eu voltar, não sentia que deveria; Paris pareceu ser realmente o meu lugar. Para falar a verdade, me encontrei aqui e não, eu não queria mais morar aonde eu morava antes.

De toda forma, o natal estava chegando e depois de tanta insistência, iria finalmente visita-la. Depois de quase cinco anos que não a via além de vídeos e fotos, estava ansiosa para nosso reencontro e também que ela conhecesse Eric pessoalmente. Se por vídeos ele a conquistou, pessoalmente não seria diferente. Ele era realmente um amor.

— O que você está fazendo de tão bom? — perguntei.

— Aquela comida brasileira que você tanto ama com creme... Não lembro o nome — ele era a coisa mais graciosa falando em francês, eu não podia estar mais apaixonada.

— Strogonoff? — disse espiando a panela que ele tanto mexia.

— Isso, amor — beijou minha bochecha, desligando o fogo. Ele virou-se para mim e segurando-me pela cintura. — Acho que estou ansioso para viajar com você.

— Faltam poucas horas! — abracei seu pescoço, colando nosso nariz. — Está animado para conhecer pessoalmente minha mãe?

— Sim — falou tranquilo. — O Nico também. Acho que suas amigas e amigos brasileiros também.

Íamos viajar para São Paulo e passar o natal com a minha mãe, conhecendo a cidade que nasci e depois combinamos de ir para o Rio de Janeiro com meus amigos curtir o Réveillon em Copacabana. Queria mostrar para ele a mágica cidade maravilhosa, já que em Paris ele me apresentou.

Ainda assim, estava um pouco nervosa. Fazia tanto tempo que eu não me reunia com meus amigos; não sei se passar a noite bebendo como era de costume na adolescência seria tão interessante, esperava que eles tivessem mudado tanto quanto eu para conseguirmos bater um papo e falar sobre tantas mudanças que tinham acontecido de quase cinco anos pra cá.

Declínios de Uma Adolescente Rica [COMPLETA]Where stories live. Discover now