15. Adivinha quem vem para o jantar?

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Quando eu tinha cinco anos, eu tinha crises fortes de bronquite e asma. Vivia mais dentro do hospital do que em casa graças às pelúcias que eu comecei a colecionar ainda bebê. Mami teve que doar a maioria deles ou eu não poderia viver em uma casa um dia.

Quem mais ficava no hospital comigo enquanto eu estava internada era Gertrudes, porque mami estava terminando a graduação, mas todos os dias passava no hospital para me ver e vez ou outra dormia comigo. Acho que eu era uma criança muito compreensiva, afinal, quem gosta de hospital? Pior: sem os pais.

Papi por outro lado, tinha que continuar os negócios da empresa, mas ele ligava todos os dias quando estava em viagem e quando não estava viajando, passava a maior parte do tempo possível comigo, em sua maioria atendendo ligações de negócios.

Por mais que meus pais não tivessem tanto tempo para mim quanto eu gostaria que tivessem, eu sabia o quanto eles me amavam e faziam o possível para que eu ficasse bem logo, não era a toa que estava internada no hospital mais caro de São Paulo.

Minha infância foi muito boa, eles conseguiram mais tempo para passarmos juntos e fazermos algumas viagem de férias. Visitamos alguns lugares no Brasil e outros fora do país, como Disney, Paris, Nova Iorque e Londres. Eu tinha tudo e mais um pouco.

Minha adolescência até então era tranquila; voltaram a trabalhar mais, mami formada tinha o tempo razoável, pois trabalhava em minha escola alguns dias da semana e papi tentava fazer alguns trabalhos em casa para ficar mais tempo conosco.

— Babi, eu posso explicar — mami falou se aproximando, enquanto eu a olhava confusa.

Antes disso, ela havia pedido um momento e feito uma ligação. Sem entender e ainda próxima a Gael, tentava a todo custo entender o que estava acontecendo. Silenciosamente, observei seus machucados e me ofereci para limpar, mas ele se negou dizendo que eu precisava apenas ser forte.

— Eu nunca quis que você descobrisse dessa forma, mas acho que foi um erro enorme que eu cometi — fungou chorosa. — Seu pai biológico não é o Ângelo, na verdade o nome dele é Denis.

Primeiro eu ri achando graça nas suas palavras, só poderia ser uma brincadeira de muito mal gosto ou algo do tipo, mas quando olhei para mami, ela chorava copiosamente. Então senti como se uma bigorna tivesse caído sobre minha cabeça, como se estivesse realmente vivendo em um cartoon, porque aquela vida que eu estava naquele momento, não podia ser real. Não podia.

— Eu e seu pai, namorávamos desde o final do ensino médio. Descobri que estava grávida já no início da graduação, mas ele não soube disso, porque eu decidi mudar de cidade e era melhor que a gente ficasse separado. A vida que seu pai levava, não era das melhores e eu não ia deixar ele te envolver nisso tudo — suspirou fundo, tomando mais um gole de coragem. — E então saí de todas as redes sociais, perdemos completamente o contato. Porém, ele descobriu recentemente sobre você e vem tentando manter contato, mas nós estávamos arrumando a melhor forma de te passar essa notícia o mais saudável possível.

Suspirei confusa. Então tudo que eu tinha vivido até ali, era uma grande mentira? A pessoa que acostumei a chamar de pai, na verdade não era meu pai. Ele tinha outros filhos além de mim e Nico, mas não parecia dar a mínima para eles, diferente de nós que tínhamos o mundo aos meus pés! Eu vivia uma mentira!!!

— Você tomou todas essas decisões pensando em mim? — questionei completamente abalada. — Só que você tirou uma parte da minha vida e encaixou-me onde você queria!

— Babi, peço que entenda o que eu fiz — ela pediu se aproximando e me afastei, obviamente. Não queria contato algum com ela naquele momento.

— Nico é filho dele? — perguntei apontando Ângelo e ela concordou. Então Gael e Nico eram irmãos, mas eu era filha apenas dela. Como eu nunca percebi a semelhança entre eles? Eu era muito estúpida, fútil.

Declínios de Uma Adolescente Rica [COMPLETA]Where stories live. Discover now