02_ O vendedor de drogas.

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Emma Hills

... Ele é o 27º encontro.

Eu tive poucos segundos pra surtar enquanto ele caminhava até mim.

Seria um desperdício de beleza ele ser tão idiota quanto os outros caras.

Mas por um lado, eu quero que ele seja um completo babaca, e assim, eu posso voltar pra casa, e falar pra Ella que eu avisei que isso não daria certo.

- Oi. - Ele cumprimentou se sentando.

- Olá. - Sorri, parecendo simpática. - Emma Hills. - Me apresentei.

- Caden. - Falou simples me encarando.

O seu olhar era penetrante e intenso, fazendo com que as minhas palavras saíssem com dificuldade.

- Bom, quantos anos você tem, Caden? - Fiz questão de pronunciar o nome dele.

- 19. - Respondeu ele desconfiado. - E você? Apenas por segurança. - Justificou.

- 18. - Sorri.

- Por que isso parece uma entrevista de emprego? - Questionou se ajeitando na cadeira.

Eu ri abaixando a cabeça.

- O que você faz da vida? - Perguntei.

- Na verdade, eu to só esperando ela acabar pra eu poder descansar no inferno. - Falou.

- Eu tava falando de trabalho... - Expliquei levemente assustada.

- Ah, eu vendo droga. - Sorriu.

- Quê? - Perguntei em choque.

- Eu vendo droga, e você?

- Eu... eu escrevo livros. - Respondi ainda em choque.

- Legal. Que tipo de livro você escreve?

- Terror e suspense. - Respondi, tentando processar as informações anteriores. - Desculpe, você o quê?

- Eu vendo drogas. - Respondeu ele desconfiado, como se aquilo fosse algo que eu já deveria saber.

A Ella acabou de me vender pra um traficante?

- Por quê? - Questionei sem pensar.

Depois dessa eu provavelmente vou levar uma bala na testa.

- Eu gosto de fazer más decisões, a vida é mais divertida desse jeito. - Sorriu. - E você, por que escrever livros?

- São livros. - Sorri e ele me encarou confuso. - É como entrar em um novo mundo e viver mil vidas em apenas uma só.

Ele continuou me encarando e eu dei de ombros.

- Ok, eu admito, eu só to lá pela putari...

- Você tá usando uma aliança. - Avisou me interrompendo.

Eu olhei para a minha mão em choque e confusa.

Eu tava.

Por que eu ainda não tirei essa maldita aliança?

Voltei a encarar o vendedor de drogas e ele sorriu divertido.

- Isso é um daqueles negócios que os casais maravilha fazem pra arranjar alguém para um ménage? - Perguntou se aproximando e eu arregalei os olhos. - Porque se for, eu aceito.

- O quê? Não! - Respondi rapidamente tentando tirar a aliança do meu dedo.

Ele percebendo o meu desespero por causa da aliança presa, puxou a minha mão com as suas duas mãos. As mãos dele estavam em uma temperatura agradável mas os anéis frios nos seus dedos fizeram arrepios percorrerem o meu corpo.

O Caden tocou a minha aliança e puxou com alguma dificuldade, mas ainda mantendo o rosto neutro e olhar focado na minha mão.

A sua mão do lado da minha fazia parecer que eu tinha a mão de uma criança ou apenas do tamanho do pinto do Bolsonaro.

Eu observava ele com atenção e quando ele terminou de tirar o pequeno problema, me encarou de volta.

O seu olhar foi acompanhado de um sorriso de canto.

- Pronto. - Falou me entregando a aliança com um sorriso encantador.

- E Ella realmente não te contou nada sobre isso daqui? - Perguntei lembrando que ele pensou que eu queria um ménage.

Talvez eu queira, se for com ele...

A sua mão lentamente se afastou da minha e ele colocou as suas costas contra a cadeira novamente.

- Não, pra ser sincero, eu pensei que era apenas sobre negócios. - Respondeu dando de ombros.

Negócios de xereca?

- Isso é um encontro. - Ri e ele fez uma careta confusa.

- Encontro? - Repetiu com os olhos apertados. A voz dele saiu arrastada, como se ele processasse a palavra.

- É o quinto encontro que eu tenho hoje, eu to simplesmente enlouquecendo. - Ri de nervoso passando as mãos pelo meu cabelo.

- Você tá procurando alguém pra uma ocasião especial? Eu posso fingir de namorado falso. - Provocou com um sorriso e eu ri imaginando a cena.

- Se eu precisar de um namorado falso, prometo te avisar. - Brinquei.

- Ah, seria um prazer ser seu namorado, nem que fosse de mentira. - Brincou de volta e eu ri.

E por um momento, nós ficamos apenas nos encarando, parecia uma competição.

Uma competição que eu não estava disposta a perder.

Alguns encontros, geram uma reação química tão forte, que permanecemos ligados um ao outro, mesmo quando os corpos se afastam.

Os seus olhos eram iluminados pela janela do café e fazia os mesmos brilharem, revelando um castanho mais claro. Os seus dedos brincavam com um dos anéis dele e então, finalmente, a sua boca se abriu para voltar a falar.

- Então você não vai querer comprar drogas? - Perguntou desconfiado.

[...]

*chamada*

- Um vendedor de drogas? Sério Ella? - Reclamei.

- Falaram que ele transa bem. - Justificou e e revirei os olhos frustrada.

- Eu não to tão desesperada, ao ponto de namorar um traficante. - Falei.

- Mas eu to! - Gritou.

Eu não respondi, e apenas olhei para a aliança que eu segurava agora na minha mão.

- E além do mais, você não precisa namorar ele. É só trocar saliva, dar uma bitoquinha, partilhar baba, um selinho, tascar um beijo... - Tentou me convencer.

- Todos os encontros foram um completo desastre. - Disse lembrando do cara que tentou enfiar uma vaca no café.

- Primeiro, o cara tinha gatos demais. É normal ter 22 gatos! - Defendeu.

- Ele tinha 27. - Corrigi.

- Segundo, o cara era baixinho demais. Você tá sendo anãofóbica, o povo já não pode ter 1,23 de altura?

- Você é completamente impossível, Ella. - Ri.

- Terceiro, o cara tinha estilo demais.

- Ele tava vestindo sacos de lixo. - Lembrei com uma careta de nojo.

- Sabe, eu te amo muito, mas as vezes, você me faz querer socar a tua cara. - Falou antes de desligar.

*chamada*

Eu ri desacreditada entrando em casa.

Bom, pelo menos essa semana não pode piorar.

continua...

O Vendedor De DrogasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora