Capítulo 119

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- Renan Narrando -

Eu passei a noite no hospital com a Alice, ela dormiu a noite inteira e só tirei um cochilo, no dia seguinte à família dela veio visitar e eu percebi que ela estava um pouco estranha. Quando eles foram embora e ela tomou o café da manhã foi até o banheiro e voltou depois de um tempo.

- Se eu soubesse que iria precisar operar o nariz teria planejado logo colocar um silicone - falou e eu acabei rindo baixo

- Eu sei que você que tem que gostar - falei dando uma pausa - Mas posso te garantir que está perfeito

- Menos mal - falou e se sentou na cama - Meus pais tão demorando

- A Holanda é longe - falei óbvio

- Vou ligar pra minha vó e pedir pra ela vir - falou e eu percebi que ela estava estranha

- Tem 20 minutos que a sua família foi embora - falei e ela ficou quieta - Tá sentido algo?

- Não - falou baixo e pegou o celular, digitou rápido e vi quando ela ia iniciar uma ligação

- Me dá aqui - peguei o celular e encerrei, li o nome do visor e neguei com a cabeça - A sua tia acabou de sair daqui, Alice

- Renan, por favor - tentou pegar o celular mas eu não deixei

- O que está acontecendo? - perguntei sério

- Eu não gosto de hospitais - falou baixo e os olhos dela se encheram de lágrimas, na hora me toquei o motivo - Minha adolescência se resumiu a hospital e emergências

- Eu tô aqui, vida - me sentei na cama e ela limpou o rosto

- Tá, Renan? - perguntou e eu não entendi

- Lógico que eu tô - falei firme

- Eu nunca fiz nada de propósito pra tentar te deixar desconfortável com o meu padrão de vida - falou e aí eu me liguei - Nem você e nem ninguém

- Eu sei disso - falei dando de ombros

- Sabe mesmo? - fungou

- Lógico que eu sei - falei e ela começou a chorar - O que foi, Alice? - colocou as pernas em cima da cama e escondeu o rosto nas pernas

- O que foi, Alice? - perguntei desesperado quando o choro aumentou

- Eu quero os meus pais - soluçou e eu abracei ela na hora

- Eu tô aqui - falei baixinho e fiz carinho no cabelo dela, ela me apertou no abraço e o choro aumentava

- Me tira daqui - pediu em meio ao choro

- Alice, calma - senti as mãos dela tremerem e ela me soltou, na hora vi que estava começando a sangrar o nariz - O seu nariz

- Me leva embora, amor, por favor - tentei levantar da cama porém ela me segurou - Não me deixa aqui sozinha

- Ei, calma - falei firme - Eu só vou pegar algo pra limpar

- Renan - sussurrou em meio ao choro e fui até a cômoda e peguei um pano, entrei no banheiro e rapidamente molhei

- Voltei - assim que voltei para o quarto vi a Alice deitada na cama em posição fetal e se tremendo, corri até a maçã e vi que ela estava com os olhos arregalados e as lágrimas desciam sem parar, tinha a respiração ofegante e o nariz não parava de sangrar - Caralho - consegui senta-lá na cama e com cuidado comecei a limpar o sangramento

- Me tira daqui - falou baixinho - Por favor

- Nós vamos embora - tentei limpar o rosto com todo cuidado - Mas preciso limpar o sangue

- Não demora - fungou e apertou a minha perna, eu apertei o botão no quarto pra emergência e em 10 segundos entrou uma enfermeira correndo

- O que aconteceu? - perguntou séria

- Acho que uma crise de ansiedade - falei confuso e me levantei da cama, ela apertou o botão e começou a entrar outros enfermeiros

- Chama o doutor Moraes - mandou e uma mulher saiu correndo da sala - O senhor precisa sair daqui, nós vamos cuidar dela

- Renan, não - gritou e o nariz voltou a sangrar

- Não vou sair - falei sério olhando pra enfermeira e me aproximei da cama de um jeito que não desse pra atrapalhar os cuidados - Eu tô aqui, amor - falei e ela balançou a cabeça

- Sai todo mundo que não é necessário - escutei uma voz alta e quando olhei era o médico dela, na hora um monte de gente começou a sair e só ficou aquela enfermeira - O que aconteceu?

- Ela - a enfermeira começou a falar mas eu tomei a frente

- Ela começou a chorar e quanto mais se agitava o sangramento aumentava - expliquei e ele colocou as luvas

- Eu não disse sem fortes emoções, mocinha? - falou calmo mas a Alice não respondeu - Está sentindo dor?

- Responde, amor - falei baixo e ela apertou a minha mão

- Não - sussurrou e o médico tirou o curativo - Eu só quero ir embora

- Eu garanti aos seus pais que lhe daria alta hoje de manhã - contou e a enfermeira foi entregando as coisas pra ele que de forma rápida e delicada trocava o curativo

- Eu posso ir embora? - perguntou esperançosa

- Por sorte os pontos estão intactos - falou sorrindo e eu fiz carinho na mão dela - E o seu nariz continuará lindo

- Tá bom - balançou a cabeça - Tá doendo

- O que? - o médico perguntou e tirou as luvas assim que terminou

- A minha cabeça, o meu nariz - explicou - A minha cara toda

- Imagino - se levantou da cama e jogou as luvas no lixo - Vou te dar um remédio pra resolver isso

- E a minha alta? - perguntou e a enfermeira saiu do quarto

- Depois do medicamento - falou e ela assentiu - Me acompanha, senhor?

- Já volto - beijei a testa dela e saí com ele - Ela pode mesmo ir? - perguntei direto

- Ela pode receber a alta sim - confirmou - Ontem ao acessar a ficha médica dela eu vi o histórico dela e os pais me ligaram explicando que ela iria reagir mal - falou explicando - E eu já estava vindo para avaliar e libera-la

- Ela vai ficar bem? - perguntei preocupado

- Vai sim - balançou a cabeça - Só precisa de repouso para não abrir os pontos e nem pra sentir dor

- Tudo bem - suspirei

Meu Ébano Onde as histórias ganham vida. Descobre agora