O tempo generoso

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Semanas se passaram desde então, Jungkook estava imerso na descoberta contínua daquele mundo tão desconhecido para ele. Sentia falta da TV e dos seus jogos, mas estar ao ar livre, distante do aroma urbano e do alvoroço, era gratificante.

As semanas com Kim foram verdadeiramente enriquecedoras para Jungkook. Estava desbravando mais profundamente aquele nobre. Taehyung revelava-se alguém espirituoso, ávido por conhecimento e, em outras palavras, um jovem cativante. Era impossível não perceber isso nele, e Jungkook admirava isso a cada momento compartilhado.

Todas as noites, Jungkook contemplava o firmamento, observando a fase lunar. E, como antecipado, finalmente chegara a semana da lua cheia, a primeira do Outono.

O senhor Choe alertara que ele dispunha apenas do prazo até o término da lua cheia para retornar ao seu mundo, o que inquietava Jungkook, pois ainda não desvendara o caminho de regresso. Mas havia ainda outra inquietação...

Naquela noite fria, Taehyung contemplava a abóbada celeste da varanda, focando na lua, cujo fulgor se destacava, cercada por um número infindável de estrelas. A semana revelava-se tensa para o jovem Kim. Seu avô o prevenira sobre o iminente casamento com a senhorita Yun, e tal perspectiva apenas o entristecia e afligia. Por quê? Porque Taehyung sempre almejara um amor à semelhança do de seus pais, um vínculo nascido do afeto genuíno e não de interesses financeiros. Contudo, o dilema residia no fato de que, se isso ocorresse, seria um amor próprio para o jovem nobre.

Quando tinha quatorze anos, Taehyung cultivara uma forte amizade com um grande amigo. Tinham uma conexão singular, mas com o tempo, aqueles sentimentos fraternos transmutaram-se em algo mais profundo. Taehyung não apenas percebera sua afeição, mas também seu amor por aquele amigo.

Sentimentos assim, direcionados a alguém do mesmo gênero, eram tachados de sujos e desonrosos. E para evitar tal estigma, Taehyung optara por manter em segredo. Como confessaria ao avô que se apaixonara por outro rapaz? Taehyung guardara esse segredo durante seis longos anos.

Ele frequentemente ouvia relatos e contos de casais que encontravam a felicidade no amor verdadeiro, como o próprio rei e sua rainha. Mas quem aceitaria alguém como ele? Taehyung não era um sodomita, mas se sua verdade fosse descoberta, seria rotulado como tal. Um estigma inaceitável.

Porém, a verdade era que Taehyung começara a nutrir sentimentos por Jungkook, o rapaz que parecia ter caído dos céus e se aproximara dele como um anjo sem asas.

Mas ele não era o único a ser consumido por tais pensamentos.

Taehyung dirigiu o olhar na direção do quarto onde Jungkook se encontrava. Levantou-se da cadeira de madeira em que estava assentado, decidido a abordar a questão. Eram quase nove e meia da noite, e ele sabia que Jeon não costumava dormir cedo. Era uma característica comum na sua cultura, toda Joseon estava praticamente adormecida. Taehyung dirigiu-se ao quarto e bateu na porta. Na primeira tentativa, não obteve resposta, mas na segunda foi recebido por Hoseok, que prontamente abriu a porta.

ㅡ Boa noite, jovem mestre ㅡ fez uma reverência formal.

ㅡ Onde está Jeongguk? ㅡ perguntou, notando a ausência do mais novo. Em seguida, avistou uma toalha na mão de Hoseok ㅡ E para que é essa toalha?

Taehyung fez duas perguntas ao servo. Hoseok hesitou em responder. O Kim o encarou, arqueando a sobrancelha. Jung não tinha alternativa.

ㅡ Ele foi até a pequena cascata para banhar-se, e pediu que não lhe dissesse nada, senão o senhor o repreenderia por ter ido até lá sozinho, e tão tarde. E agora estou indo levar-lhe esta toalha. Perdoe-me, jovem mestre! Perdoe-me!

ㅡ Me entregue isso, Hoseok ㅡ pegou a toalha das mãos do servo ㅡ eu irei até lá.

ㅡ Mas... sozinho?!

The Viajante ㅡ TaekookWhere stories live. Discover now