⚜04⚜ A SUCCUBUS (KAIRON)

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A vida no monastério era bem diferente do que eu imaginava. Pelo menos no meu.

Depois de perder o medo de morrer, o único medo que sobrou foi o de morrer virgem. Amice era a única menina por quem eu me interessei. Também não havia muitas próximas da minha idade, ou eram bem mais velhas ou da faixa etária de Laysla, crianças.

Na noite em que completei 20 anos, saí em uma missão. Disseram que uma banshee assolava um vilarejo, deveríamos fazê-la se calar. Seu choro era alto, insuportável, representava o presságio da morte de alguém.

Segui os caçadores por dentro da floresta a cavalo, não havia um som sequer. Avistei uma tenda vermelha, iluminada por dentro. Uma silhueta se destacava, porém bastante duvidosa.

— Entra lá, Kairon — falou um dos sete monges. Olhei para eles, intrigado. Desci do animal e desembainhei a espada. — Não vai precisar disso não, garoto — debochou.

— É só ficar calmo que dará tudo certo — disse outro. Caminhei lentamente, encucado.

— Seja rápido — gargalharam. Bufei.

— Com certeza ele será...

Quando entrei na tenda, me deparei com uma mulher linda seminua, me esperava com poucas peças de roupa púrpura. Não sou preconceituoso, entretanto, duas coisas enormes me chamaram atenção: suas asas e seus chifres.

— O que é você? — indaguei, nervoso. Deveria caçá-la? Analisei o entorno, que parecia maior do lado de dentro do que de fora, e reparei nas correntes presas a seus dois tornozelos. Então finalmente a encarei.

— Não vou te fazer mal, pobre menino... Vou te fazer homem — sussurrou em meu ouvido. Fechei os meus olhos e me deixei ser levado pelos seus beijos, enquanto desamarrava o cíngulo. Contraditório, a corda representava justamente um voto de castidade. Eu sabia disso, mas não tinha concordado com o ritual. Nem meus amigos.

A mulher retirava, vagarosamente, minha túnica marrom. Quando fui exposto, confesso que fiquei tímido. Não sei se agradava a ela.

— Eu... Eu nunca fiz... — gaguejei, sem olhá-la, desconcertado. Engoli em seco.

— Não se preocupe. Eu te conduzirei.

O momento poderia ter sido mais interessante se eu me recordasse de tudo. Lembro-me da agitação ao meu redor. Os monges me sacudindo, tentando me reanimar, da succubus na floresta levantando voo e de Hawise, meu amigo, usar sua famosa besta. A mulher caiu e foi novamente abatida.

— Você é maluco? — gritavam comigo.

Voltamos para o monastério, os sete monges e uma succubus. Teoricamente, a demônia não precisaria nem estar solta para atacar alguém. Se ela cismasse com um homem, se faria presente em seus pesadelos, roubaria sua energia até não existir mais vida.

Enfileirados no claustro, o pátio interno, fomos interrogados.

— De quem foi a ideia? — indagou meu tutor. Quatro dos monges arteiros eram seus aprendizes. Os seis choravam feito crianças. Havia sido castigado várias vezes. Minha adaptação foi difícil.

Já disse sobre meu temperamento explosivo?

— Foi minha — respondi sem hesitar. De algum modo, toda aquela loucura na floresta me trazia coragem. Eu havia me deitado com uma criatura maligna, não era nada natural.

— Pois bem... Serás açoitado. Os demais, retornem aos seus aposentos.

Respirei fundo, ainda estava fraco.

Enquanto me domesticavam pela oitava vez em menos de dois anos, outras cenas vieram em minha mente. "Te encontrarei em outras épocas, meu bem", dissera ela, arfante. Deveria me preocupar? Talvez.

MEU CAÇADOR E EU Onde histórias criam vida. Descubra agora