V. Sensações Irreversíveis

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#ÉPascal

Fomos hoje para a casa de Yoongi ensaiar. Afinal, ja fazia um bom tempo que eu não visitava o lar do branquelo. Agradeço às barbas do caldeirão pela senhora Min, avó dele, estar viajando com os filhos. Dessa forma eu consegui me manter sóbrio, sem as baboseiras que a velha insiste em alertar. Me causa arrepios as encaradas dela, inclusive, a idosa diz que eu sou um fantasma vagando pelo mundo. Diz que eu sou um tipo de metamorfo ambulante. Quando digo, enraivecido, que sou apenas um jovem de dezoito anos, a avó de Yoongi lança os sapatos velhos dela na minha face.

Ela é doida.

Confesso que às vezes sinto medo. A careta de espanto dela ocasiona várias estripulias no meu interior, como o fato dela também pronunciar com todas as sílabas que eu morri anos atrás.

A verdade é que eu não vivencio a emoção de ser um cadáver. Poderia considerar as falas dela, porém sinto-me vivo.

Extremamente vivo.

Não é o que ocorre com o Jeon. Ele assemelha ser um cadáver no corpo de um humano, e disso não há dúvidas pertinentes.

Conforme ando para casa, saindo do lar de Yoongi, um arrepio atinge minha coluna vertebral, gerando calafrios entre os dedos. É a floresta. Ela me chama todas as vezes em que ouso pisar na calçada cheia de plantas, fala de um jeito claro que precisa de mim. E eu não sou capaz de decifrar; é perigoso. Qualquer passo em falso, pode ser o meu último dia na terra, e tudo que espero é conseguir me graduar na UNB. Mesmo lutando contra os meus demônios internos para não atravessar a linha, um vulto chama a minha atenção entre as árvores.

Há uma pessoa lá.

Uma pessoa forte, pois as folhas secas denunciam as passadas de pernas atingindo o chão.

Meu corpo todo se mantém em ebulição, causando-me temores de incertezas. As pontadas de curiosidade fazem com que os meus pés caminhem para dentro da floresta, e ela é bastante bela aos meus olhos. As corujas cantam sincronizadas enquanto as folhas secas dos galhos caem.

Eu estou dentro da floresta. E é de noite.

Minha pulsação acelera quando experimento um vento quente batendo contra a nuca. Restando somente pavor no meu físico, peço:

Que Lilith guarde-me nas garras infernais, que seu sangue abasteça a minha coragem. Que o inferno dilacere minha alma.

Neima — sussurro.

Soltei o oxigênio preso, fechando os olhos com força. Droga, eu não deveria ter entrado. Não deveria ter desobedecido Jean.

— Sua mãe esqueceu de te ensinar que ir atrás de estranhos pode te colocar em enrascadas? — A pessoa murmura. Meus tímpanos quase derretem.

É o Cigarrento.

— Jeon...

— O que faz aqui à essa hora?

Ele está impaciente. Com o que ele está impaciente? Eu interrompi algo que faria?

— Eu só entrei na floresta, nada demais — digo, coçando a nuca. Lilith que me acuda. — E o que você faz aqui?

Um pigarro é ressoado no pé de meu ouvido, e vejo-me obrigado a endireitar as costas. Bem, transparecer um pouco de segurança nessa situação é a melhor coisa.

— Vim para admirar a floresta — fala simplista, rouco. — Você não tem medo, Chapeuzinho?

— Eu já lhe disse para parar de me chamar assim! E por que eu teria medo?

Nova Salém | pjm + jjkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora