01_ João Clévis.

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Emma Hills

- Já chega! - Gritou a minha amiga arrombando a porta do meu quarto. - Eu arranjei um date pra você.

Do jeito que ela arrombou a minha porta, até eu me senti desbucetada.

Eu pulei da cama no susto e a minha pressão quase me fez cair de cara no chão.

- Você o quê? - Perguntei em choque.

- Você tá mofando nesse quarto. - Argumentou.

- Eu acabei de sair de um relacionamento. - Discuti de volta e a Ella me olhou com raiva.

- Fazem 9 meses, Emma.

- Só o tempo cura. - Falei.

- Se o tempo curasse, as farmácias venderiam relógios invés de medicamentos. - Me olhou com carinho.

Eu abaixei o olhar.

- E além do mais, era um relacionamento completamente tóxico. Aquele tal de Ruan ter te traído, foi uma benção. - Sorriu sem mostrar os dentes, e caminhou até o meu guarda roupas.

- "Tal de Ruan"? Eu namorei com ele por 3 anos. - Protestei.

- Ninguém liga para aquele corno. - Falou puxando vários vestidos do meu armário.

- Eu sou a corna.

- Você é linda e gostosa. Ninguém vai ver seu chifre. - Se virou com um sorriso pra mim e eu me sentei na cama.

Eu encarei a Ella com a minha cabeça levemente inclinada para o lado e ela deu de ombros.

- Ninguém, tirando eu. - Acrescentou. - Já to vendo você até bater os chifres na hora de passar pela porta.

- Ella...

- É só a gente decorar eles com luzes. Vai ficar lindo. - Sorriu animada.

- Você não tá ajudando. - Ri.

- Não é apenas um date... - Avisou.

- Eu nem concordei... - Tentei falar mas ela me interrompeu.

- São 27.

- O quê? - Gritei em choque.

- Mas a gente resolve isso rápido em uma semana, se você tiver em média 6 encontros por dia...

- Ella, nem que o meu tio surdo volte a escutar. - Dei a última palavra me deitando na cama ainda em choque.

27 encontros?

Nem o Bolsonaro consegue falar esse tanto de palavras sem fazer uma merda.

- Não sei se é uma boa hora pra te contar, mas eu peguei o seu tio escutando os áudios do grupo da família e xingando vocês, no churrasco que teve no domingo. - Confessou ela e eu sentei na cama com os olhos arregalados.

- Ele tá mentindo pra todo mundo faz 67 anos...

- Mas isso é uma boa coisa. - Falou a Ella tentando me animar.

- Como isso é uma boa coisa? Eu já dei do lado dele por pensar que ele era surdo e nem ia notar. - Lembrei em desespero.

- É uma boa coisa porque você vai para os 27 encontros. - Sorriu.

- Eu não vou para 27 encontros. - Avisei.

[...]

Eu to no 26º encontro.

- Olha, eu vou ser bem direto, deusa do Egipto. - Começou o cara.

O seu cabelo era lambido para o lado, e ele se recusava a tirar os óculos de sol amarelos mesmo estando dentro do café.

- Diga, João Clévis. - Me ajeitei na cadeira.

- Eu sou bem safado. Eu devo ser o cara mais safado do mundo. Até minha mãe me chamou de safado enquanto tacava o chinelo em mim ontem. - Riu como se fosse um charme.

Eu arregalei os olhos levemente, engolindo seco.

- Eu quero saber qual foi a maior loucura que você já fez na cama. - Me olhou mordendo o lábio inferior.

Eu nem sei se deveria chamar aquilo de "morder", parecia que ele tava engolindo o lábio.

- Levantar dela. - Respondi bebendo um pouco do meu café.

Eu assisti o seu sorriso safado diminuir e esperei ansiosamente pela sua decisão de ir embora.

- Sério? - Perguntou voltando a sorrir. - Eu já fiz malabarismo durante um ménage.

Eu vou dar um tapa na Ella por cada frase idiota que esse cara me disse.

Depois que ele finalmente saiu do café, eu suspirei pesadamente e peguei o meu celular, avisando para a minha amiga que ela podia mandar o outro cara aparecer.

Ela respondeu que já estava falando com ele.

Eu estranhei e levantei o meu olhar para a porta do café, bem no momento que um cara alto entrou.

O seu cabelo era castanho escuro, quase preto. Os seus olhos procuravam alguém e eu notei que eles também eram castanhos. O seu nariz era levemente empinado, enquanto a sua boca, tinha lábios grossos e avermelhados. O seu rosto estava tão sério que até parecia que ele estava bravo.

Notei que ele vestia tudo preto, enquanto eu usava um vestido branco de tecido leve.

A sua camiseta preta estava um pouco amassada, mas mesmo assim, ela me permitia ver algumas tatuagens. Algumas espalhadas pelos seus braços e outras escapando pelo seu pescoço.

As suas mãos eram grandes, tinham algumas veias saltadas, anéis, e pelo menos 3 tatuagens pequenas.

Enquanto eu estudava cada parte dele, vi ele se virar na minha direção.

Os nossos olhares se encontraram.

Eu apertei as pernas por baixo da mesa quando um sorriso fraco apareceu na boca dele.

Os seus olhos me encaravam com intensidade enquanto também me analisavam, e então, ele desviou o olhar.

- Obrigado, Ella Breganó, eu acho que já encontrei ela. - Ouvi ele dizer antes de desligar a chamada.

Ella?

Não...

Ele é o 27º encontro.

continua...

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sejam bem-vindos:)

O Vendedor De DrogasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora