À procura

304 50 2
                                    

Quando precisamos proteger os nossos, não há regra que não possa ser violada, não há crença que te cale e não há toque que acalme.

A adrenalina da deusa era visível, seu desespero em salvar a vida da ninfa preferida e amada por ela se convertia em tremores, sua mandíbula marcada bem rígida e a respiração falha. Tudo o que a arqueira precisava era encontrar um esconderijo.

Alguns galhos arranhando a sua pele suada proveniente do andar às pressas não ajudavam; caminhou em direção ao som do murmúrio das águas já que não pretendia se perder. Talvez seguindo ao lado do riacho encontrasse o local ideal para sua mãe escapar.

Ártemis estava acostumada com a sua rotina no bosque mais sagrado e balsâmico de Arcádia rodeada de sua irmandade de ninfas e foi apenas com a aparição da adversária de sua mãe que percebeu a necessidade de explorar mais os montes repletos de pinheiros das florestas que lhe cercavam.

- Mas que droga! Malditas sandálias.

Exclamou tropeçando em algumas pedras redondas, se sentou na maior e se livrou daquelas que impediam o calejar dos pés. A deusa encontrava-se tão cansada que estava prestes a suplicar a Zeus, o maior cúmplice de toda a bagunça para que construísse um abrigo.

- Vamos Ártemis, você consegue!

As florestas gregas em Arcádia não conheciam a solidão, havia desde habitantes divinos, animalescos quanto caçadores buscando sobrevivência e os de má índole. Alguns dos maus conseguiam escapar das consequências de suas atitudes por certo período, mas há quem ouse dizer que o que é plantado não será colhido. Aqui não.

Enquanto o fogo era ateado, os animais retraídos e as águas choravam pelo cintilar, a ira da superior e majestosa mãe natureza inflava. Ártemis não pôde escutar e evitar de ser pega, pois seu propósito era a única coisa que permeava seus sentidos. Não se demorou ali, lavou o rosto grudando alguns de seus fios negros nas bochechas, bebeu um pouco de água, secou as mãos em sua túnica não tão mais branca como estava e seguiu com as sandálias em mãos. A sua amiga celeste já insistia em aparecer, saudando sua caçadora predileta com sua graça etérea. Esta confidente só não lhe dissera que a partir daquela noite muito seria mudado, até mesmo o desejo de não ter alguém atrapalhando o seu caminho. Dando um sorriso sem jeito para querida lua sentiu suas forças retornarem e seguiu.

- Leto confia a sua vida em mim, não vou deixar que Hera a tire...

Ártemis avistou finalmente uma espécie de cabana próxima ao riacho, encostou sua mão na testa franzida e semicerrou os olhos para garantir o que via; a luz estava acesa, a deusa via os rajados saindo pelas frestas da janela repousando sobre alguns ásteres lilases.

- Se a sorte estiver ao meu lado poderei descansar ali.

Encantada com o que estava diante de si e questionando-se sobre quem a habitava se aproximou aos poucos, não apenas à cabana, mas o que a pegaria de surpresa no meio do trajeto.

A graciosa lua apenas permitiu que o grito de Ártemis ecoasse pela selva.

Flor da LuaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora