Dádiva dourada

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Alguns anos atrás...


Quando a paz habitava o Olimpo as danças eram sinceras honrando a felicidade, as damas rodopiavam ao som de líricas compactuando com o regozijo da rainha. Zeus a tomava pela mão para mais uma dança lhe prometendo honra e sinceridade.

— Que vivam os noivos!

A amiga mais próxima aparecia zombando e despertando Hera dos seus pensamentos, segurando uma taça de vinho na mão. Muitos convidados já haviam partido, Zeus jantava sossegado enquanto a recém esposa se permitia vagar pelo jardim fora do templo.

— Ah, é você querida.

Gaia poderia notar qualquer resquício de preocupação na voz da deusa da fidelidade. Sentou-se próximo a fonte de água rochosa, apoiando as mãos ali e direcionando o olhar para as pupilas azuladas e perdidas.

— Não queria tocar nesse assunto novamente, mas não confio nesse deus e sei que você também. Sabemos de sua reputação e só vim para te honrar, não apoiar.

Terminado seus murmúrios a única reposta que obteve foi uma deusa virando a bebida de vez.

— Mas quero te dar um presente antes de ir embora.

Isso foi o suficiente para que ganhasse sua atenção e ambas sorrissem. Gaia levantou e andou em direção a terra nutrida e úmida, seus olhos se fecharam em prol de concentração e aos poucos uma linda macieira brotou diante delas. Hera admirava cada feito da amiga dedicada em preservar a natureza, era incrível o que fazia. De seus galhos nasciam maçãs douradas, como ouro.

— Lembro de perguntar-me como alcançar juventude eterna, a resposta está aí e tem um gosto divino.

Dizia sorrindo para rainha, recebendo um abraço de gratidão em seus ombros e planejamentos animados.

 São tão belas quanto você! Irei plantar várias com as sementes, será meu jardim das Hespérides, deusas do final da tarde.

* * * *

O amargo de alma inundou todo o solo do Olimpo, qualquer vestígio de benignidade desviava do caminho da mãe natureza. Pela primeira vez em anos seu enfurecimento era dirigido a alguém que já foi amada em sua vida.

Ártemis queria viver, se libertar das amarras de seu trajeto, aceitar na prática que as circunstâncias mudam, ter Gaia consigo e a dona dos olhos verdes sabia disso. Hera sabia que aquele tremor não era atoa, se sentia satisfeita em atingir a amiga antiga, pois tinha todo remorso guardado do seu acusado abandono e sabia que viria até ela. Queria ver seus olhos angustiados e desesperados, mas a mãe natureza carregava consigo um histórico cheio e diante de tantas situações vividas a sabedoria poderia ser seu segundo nome.

Antes que Apolo levasse a caçadora até o bosque um beijo casto foi deixado em sua testa, por quem sentia seu espírito querendo ficar e foi justamente o que Gaia planejou, uma transferência de formas. Sua encarnação seria conduzida pela deusa que mais lhe amava e só sabendo disso seu irmão gêmeo cessou os prantos.

— Não sei como te agradecer por isso.

A figura mais alta segurava firmemente a irmã pálida nos braços, pronto para partir.

— Apenas lembre de fazer o que falei, a coloque próximo do seu jardim preferido.

Foi consentido, virou as costas e saiu disparado após entrar na carruagem celeste, chamada por ele.

— Agora eu te derrubo, rainha mimada.

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