Capítulo 08 - Preto, Brando & Cor-de-Rosa

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O que acontece com o livre arbítrio? O que acontece comigo quando eu quero ser feliz e não posso por causa dos outros que acham que isso não está correto? O que acontece com minha vida, minha liberdade de escolha, quando quero ser quem eu sou e gostar de todas as coisas que gosto, mas não sou permitido fazer isso sem me achar um monstro, só porque os outros acham que isso não pode ser?


Eduardo saiu do cursinho feito barata tonta.

Por sorte seu ônibus passou bem na hora em que chegou ao ponto, pois senão tomaria o primeiro que aparecesse por ali, sem ao menos se dar conta do que fazia. Estava atarantado demais para raciocinar as coisas triviais e básicas, que todos racionalizam em circunstâncias parecidas. Acontece que a cabeça do garoto estava em Vênus.

Não, não. Para falar a verdade, não estava em Vênus, estava de maneira inegável em Rodrigo...

Rodrigo de pele macia.

Rodrigo de hálito doce.

Rodrigo de vida alegre.

Rodrigo de lábios rubis.

Rodrigo...

Rodrigo...

Sentia que algo passava feito um ciclone dentro de si. Mas nem a mais tênue brisa lhe pareceria calma neste instante. Queria conversar com alguém sobre isso. Queria poder contar para Fábio...

Oras! Que ideia é essa? É claro que você pode contar comigo!

E Eddie desejou que fosse tão fácil quanto parecia ser.

Assim que desceu do ônibus pisou num chão incerto, um chão que quase lhe faltou. Estaria ele vivendo em um mundo paralelo? Levava um fora das circunstâncias cada vez que elas se apresentavam. Essa busca incessante de uma certeza abria e fechava tantas portas. Abria e fechava.

"Quando um ganha, outro perde" a voz da namorada ecoava em sua cabeça e ele peneirava o que podia. As coisas iam fazendo sentido pouco a pouco, bem de leve, como uma pintura ia ganhando vida a cada pincelada.

Tantos matizes para formar um quadro.

Tantas percepções para formar um caráter.

Ficou parado no ponto enquanto o ônibus se afastava.

Hesitou sobre que direção tomar. Poderia ir para casa ou poderia ir se esconder no Farol do Saber que tinha ali por perto. Adquirira este hábito desde que colocaram o Farol no bairro. Sempre que se sentia meio "estranho", era lá que ia se refugiar durante algum tempo. Voltava para casa com um livro e esta era sua terapia.

Decidiu ir para casa.

Ao descer a rua e passar na frente da casa de Rodrigo, estranhou a paz.

Fred já não existia e não mais o perturbaria. Era como se um pesadelo tivesse terminado. O foda era que Eduardo não sabia ao certo se outro pesadelo pior ainda estivesse começando...

Sônia preparava a mesa para servir o almoço quando Eduardo chegou em casa.

- Oi mãe! – disse o menino chegando-se perto da pia e encostando-se na geladeira. Fazia isso como se estivesse muito cansado e precisando de um pouco de alento. Toda a confusão que sentia tinha que ser muito bem escondida, feito poeira varrida para debaixo do tapete.

- Oi Dú! – respondeu a mulher, que amassava batatas para fazer purê – O que vai fazer hoje de tarde?

Sem pestanejar o garoto respondeu:

A Casa do Começo da Rua (romance gay)Where stories live. Discover now