Capítulo 13

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Capítulo treze


Rosabel

Sentei-me na cama e encarei aqueles lindos olhos azuis e o dono deles encostado ao batente da porta. Martin parecia cansado. Depois de tudo eu devia ficar com medo, mas não era o sentimento no momento.

— Chegou? Achei que fosse ficar lá torturando aquele homem. — Puxei a coberta para me cobrir, como se ele já não tivesse visto tudo em mim.

— Primeiro que não torturo ninguém que não mereça e segundo que aquele homem merecia. Tinha péssima intenção conosco quando nos vigiou na casa noturna e antes que fosse eu ou você sentado naquela cadeira e alguém nos apontando uma arma, optei que fosse ele e fiz o que pude para mantê-la a salvo.

— Inclusive gritar comigo e me deixar sozinha.

— Inclusive e especialmente isso. Já que você não entende o significado de sem perguntas ou de me espera que já volto.

Martin falava calmamente, mas seu rosto era tão sério quanto lindo e eu sentia um misto de desejos que iam desde estapeá-lo a beijá-lo e reviver os momentos da noite anterior. Exceto os das brigas.

Encarou-me esperando que eu dissesse algo, mas eu não fiz e também fiquei esperando que ele dissesse alguma coisa, já que era ele quem devia se explicar.

— O que foi?

— Você consegue me tirar do sério. Quando eu quero que pergunte tudo que se passa na sua cabeça em relação a mim, você fica em silêncio e quando eu falo para não perguntar, você pergunta a cada segundo.

— Tenho medo de perguntar e saber a verdade.

— Medo?

— Sim, medo.

— Eu não te faria mal.

— Eu sei.

— Então do que tem medo?

— De me decepcionar ainda mais. — O ar parecia estar faltando para mim e ele parecia envergonhado ao mesmo tempo em que eu notava seu esforço para manter seu olhar altivo e intimidador.

— Pergunta.

— Sua empresa de entretenimento... é aquele... salão onde fomos?

— Sim. — Assentiu e tinha os braços cruzados no peito que evidenciavam seus músculos do braço e sua posição defensiva.

— Sua mãe sabe?

Balançou a cabeça em negativo.

— Ela me mataria.

— Se eu estou quase te matando, imagine ela.

Riu sem vontade.

— Por que entrou nisso?

— Dinheiro. Fácil e em grande quantidade.

Balancei a cabeça em negativo como se fosse uma grande bobagem e fiz outra pergunta:

— Já pensou em sair?

— Muitas vezes.

— Você mentiu sobre ser sequestrado na noite do convento?

— Não. Fui mesmo, só que eu não sou tão inocente quanto uma vítima comum. — Fez uma pausa como se ponderasse se me contava ou não. — Pelo negócio ilícito que sou dono tenho que lidar com muitas pessoas perigosas, influentes e com dinheiro... Tenho investidores que se mantém no anonimato e que muitas vezes têm mais medo de serem descobertos do que de perderem seus lucros. Com isso, corro vários riscos inclusive de morte. Só que desde aquela noite no convento em que entrei no seu quarto para me esconder, que meu pessoal está tentando saber quem é que está por trás de movimentos suspeitos que andam me cercando, mas até agora só descobriram que a mandante é uma mulher.

Assenti e pensei que era tudo mais complicado do que eu imaginava e só conseguia pensar em me afastar.

— Aquele homem... Você o matou?

— Não.

— E o Edson, o matou?

— Também não.

Fiquei em silêncio e ele falou:

— Não quero que fique com medo de mim ou algo assim. Não faço mal a ninguém que não me faça primeiro.

— Entendi.

— Não preciso nem dizer que não pode contar nada para a minha mãe, ?

— Claro que não, não daria esse desgosto a ela.

Vi que o que falei o atingiu em cheio, fiquei com pena do seu olhar arrependido e ele balançou a cabeça em positivo como se eu estivesse certa.

— Quanto a nós dois...

— Não existe nós dois — imediatamente o interrompi. Não queria ouvir que foi só uma noite, então como forma de autopreservação eu falei antes. — O que aconteceu... foi só o que aconteceu e mais nada.

Martin me encarou com seriedade e tinha o rosto indecifrável.

certo. — Deu uma pausa como se me analisasse e me mantive inabalável, mas dentro de mim desejei que ele não concordasse tão rápido. Queria que tivesse dito que queria algo mais, que queria repetir... que me queria... muito mais que apenas como amiga, mas para minha tristeza, perguntou: — Você vai continuar... sendo minha amiga?

Pensei e eu não podia virar as costas para ele só porque estava metido com o ilegal, não foi isso que aprendi minha vida toda e nos ensinamentos, muito pelo contrário, aprendi a estender a mão a quem precisa.

— Claro que serei sua amiga — Não consegui encará-lo, quando completei: —, mas preciso de um tempo. Só para organizar tudo, sabe?

Olhou-me por alguns minutos.

— Justo.

Ficamos em silêncio e nos encarando, a tensão era visível e também as muitas palavras não ditas e as informações não reveladas, até que depois de um silêncio, Martin disse:

— Descanse. — Virou-se para sair, mas parou ao me ouvir dizer:

— Martin, espera.

Levantei-me e fui até a minha bolsa de onde tirei o dinheiro que havia roubado de sua carteira e o devolvi.

— Era só um empréstimo. Me desculpa? E me desculpa também por te julgar. Sua tia, quando eu decidi sair do convento, me disse palavras muito sábias de um homem muito sábio.

Ele juntou as sobrancelhas como se quisesse saber que palavras eram essas.

— Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra. — Dei de ombros. — Eu não sou ninguém para te apontar o dedo.

Martin lançou-me um sorriso triste e fechou a minha mão embalando o dinheiro.

— Fica com você. Um presente como forma de pedir desculpas por tudo que te fiz passar. — Deu-me um beijo no rosto, não esperou que eu dissesse algo e saiu do meu quarto me deixando sozinha, mas ainda sentindo sua presença.

Martin

Rosabel perguntou menos do que achei que fosse e após nossa conversa onde colocamos alguns poucos pontos no lugar, fui para o meu quarto dormir.

Achei que ia ser pior, que ela fosse me acusar de diversas coisas e estivesse me achando um monstro, mas não, apenas perguntou, eu respondi e não me julgou.

Não sabia se a nossa relação na amizade daria certo, principalmente porque já passamos muito dos limites que cercam uma.

Quando ela colocou o que tivemos como algo simples, confesso que me senti um pouco decepcionado, já que esperava que significasse bem mais para ela.

Fui o primeiro, porra!

Não era a minha primeira noite de sexo e para mim significou, mas repensei e talvez eu estivesse muito emocionado com o que aconteceu, precisava voltar a ser o cara desprendido de antes e para isso teria que voltar a pegar uma mulher aqui, outra ali, sem me envolver e assim tirar Rosabel da cabeça. 

Degustação a partir do dia 28/09/2021 Minha RosabelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora