Capítulo 5

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Capítulo cinco

Rosabel

Meu estômago estava roncando.

Pulei o café e fugi do filho da dona Cássia como o diabo foge da cruz e àquela altura não fazia ideia de que horas eram, mas meu estômago sabia que estava com fome.

Fiquei assistindo, mas nem sequer me lembrava do que tinha acabado de acontecer no filme, só conseguia pensar que queria comer. Sendo assim, decidi levantar da cama, trocar de roupa e descer. Se tivesse que lidar novamente com o filho da dona Cássia, que fosse. Eu não poderia fugir dele para sempre.

— Você vai ter que descer comigo — falei para a bolinha de pelo branco que me olhava do chão. — Rum, como se fosse me defender com esse seu tamanho todo. — Abaixei-me e o peguei no colo.

Respirei fundo e abri a porta devagar, coloquei a cabeça para fora e pensei que estava sendo boba. O que ele faria comigo ali? Nada! Era o filho da dona Cássia e não apenas o homem desconhecido que entrou no meu quarto.

Aprumei o corpo e andei altiva pelo corredor carregando Papa comigo. Desci as escadas e fui para a cozinha, mas antes passei pela sala onde vi no relógio que era mais de meio-dia, com isso, decidi que pularia o café da manhã e faria um almoço... que teria que ser para dois.

Pousei o Papa no chão e rolei a sua bolinha, que fez com que o bichano começasse a brincar sozinho pela cozinha, depois lavei a mão e me preparei para fazer um delicioso almoço.

Abri a geladeira à procura do que cozinhar e achei peito de frango, alguns legumes e pensei em fazer um risoto.

Comecei o preparo, coloquei o frango para cozinhar e em seguida iniciei a descascar os legumes. Uma das coisas que eu mais gostava de fazer no convento era cozinhar, apesar de não fazer muito, porque cada uma tinha sua obrigação e uma vez quase coloquei fogo na cozinha, acidentalmente, quando um pano de prato pegou fogo. Madre quase arrancou o meu fígado.

Ao mesmo tempo em que cozinhava, comecei a cantar o trecho de uma música da banda Anjos de Resgate que ouvi muito em casamentos quando ajudei na Pastoral do Matrimônio.

Quando nós trocamos o primeiro olhar
O meu coração pediu pra se apaixonar
Igual ao sol que nasce e só pertence ao dia
Quando nasci o meu amor já te pertencia

Eu sempre me emocionava nos casamentos e enquanto cortava os legumes me lembrava dos vestidos que vi e dos momentos de amor que testemunhei. Se um dia me casasse, com certeza colocaria aquela música.

Se não existisses eu te inventaria
As estrelas se eu pudesse te daria
Prometi a Deus que ao céu vou te levar
E vou gritar pro mundo ouvir
Que sempre te amei e vou te amar...

— Não sabia que freiras podiam ouvir músicas de amor. — Dei um pulo ao ouvir uma voz masculina vindo de trás de mim.

Parado e encostado à parede que ligava a cozinha ao corredor estava o filho da dona Cássia.

— Você me assustou — falei zangada. — E não é música de amor, bom, é, mas de uma banda religiosa.

— Desculpa pelo susto. — Muito prazer, sou Martin — Deu alguns passos em minha direção e me estendeu a mão. — Acho que começamos errado e me desculpe também se fui ríspido mais cedo. Foi o sono.

Assenti, mas desconfiada aceitei seu cumprimento, apertei sua mão e falei meu nome:

— Rosabel.

Olhou-me por alguns segundos até que soltou minha mão e disse:

— Eu só queria entender o motivo de uma freirinha está hospedada na casa da minha mãe.

Degustação a partir do dia 28/09/2021 Minha RosabelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora