Capítulo 2

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Capítulo dois

Meus pulmões queimavam quando eu tentava respirar em meio a corrida. Ainda me perguntava como tinham conseguido me pegar tão desprevenido daquele jeito e depois de uma rápida surra me largarem naquele lugar esmo.

Pensei que a intenção não era me matar, porque fui um alvo fácil e podiam ter feito no primeiro minuto ao me pegarem, mas alguém queria sim me assustar como forma de aviso.

Com certeza eu estava baixando a guarda e me esquecendo que o negócio que eu tocava, por mais que eu quisesse, não era algo legal e as pessoas com quem eu tinha que lidar não dispunham da melhor índole da face da terra.

Algumas desconfianças de quem podia ter me dado aquele aviso sondavam meus pensamentos e em minha mente eu logo planejava uma vingança ou um susto a altura.

A raiva me movia e fazia com que eu corresse mais rápido em direção a cidade, além do receio de ser pego novamente soprar em meus ouvidos como o vento frio da noite.

No momento em que pulei o muro do convento, me perguntei para que lado eu deveria ir, já que se corresse para a direita chegaria na cidade em que minha mãe morava que ficava mais perto e se fosse para a esquerda chegaria na que eu tinha meus negócios. Como não fazia ideia de onde as pessoas que me pegaram estavam, então tentando a sorte corri em direção à cidade em que eu tinha os meus negócios.

Apesar de ser mais longe, indo para aquele lado não correria o risco de acordar minha mãe na madrugada e assustá-la com meu rosto machucado, além de ter que explicar como os consegui, já que eu não podia dizer a verdade.

Quando me vi sozinho na escuridão, a ideia não era me expor aos riscos de me pegarem de novo como eu estava fazendo e sim me esconder no convento até que o dia amanhecesse e eu pudesse ligar para os meus aliados no cassino, no entanto, quando me esgueirei para a única janela aberta naquele prédio antigo, não imaginei que fosse ter que lidar com uma freira faladeira, curiosa e linda como o céu.

Tentei não olhá-la muito e manter em mim o pouco de caráter integro que a minha mãe havia me ensinado, porém, era muita tentação e se eu ficasse no mesmo quarto que ela por uma noite inteira, aí mesmo que a minha alma escorregaria direto para o inferno.

Passei pouco tempo no seu quarto, mas se tivesse feito tudo que pensei em fazer com ela, mesmo nesse pouco tempo, era certo o meu destino trevoso. E a ideia mais persistente em minha mente era a da minha mão a pegando pelo pescoço e embrenhando meus dedos naquele cabelão castanho que caía lateral ao seu corpo. Eu claramente queimaria como um pecador.

Minha tia era freira e morava em um convento, que eu não sabia se era aquele, porque há muitos anos que não a via e imaginar que aquela mulher inocente me olhando com lindos olhos castanhos, era da família de alguém assim como a minha tia que também escolheu ser esposa de Jesus, me deixava com remorso.

Precisava confessar que ela parecia corajosa. Estava com medo e assustada, eu podia ver em seus olhos, porém, não fugiu gritando como uma louca e sim preservou a minha presença ali. O que foi ótimo ou não saberia lidar com um monte de mulheres eufóricas ou com a polícia no meu encalço. A freirinha foi pura coragem.

Tirei meus pensamentos da mulher ingênua e foquei na corrida. Algum tempo depois eu já conseguia ver as luzes da cidade se aproximando e apesar de minha costela direita latejar, me concentrava que em poucos minutos eu estaria seguro.

Não descansaria até descobrir o responsável por aquela palhaçada e quando eu descobrisse quem tentou me intimidar, daria jeito em um por um, usando as minhas próprias mãos ou não.

Quando entrei para a vida da ilegalidade, não imaginei que precisasse fazer certas coisas que fiz, mas a maioria foi para me defender ou para manter a minha ficha limpa com a minha mãe, que não sabia de nada do que eu fazia. E tinha que continuar assim.

Eu a amava, a respeitava e sabia que se ela descobrisse a minha atividade para manter nossa estabilidade financeira, apesar de ela ter a pensão do meu pai, nunca mais falaria comigo, me abandonaria a própria sorte e eu tinha mais medo da minha mãe do que das figuras que eu enfrentava no mundo obscuro com o qual lidava diariamente.


Quase duas horas de corrida depois, passei pela portaria do prédio luxuoso e segui para o subsolo onde ficava um dos negócios ilegais que eu tocava, um cassino clandestino.

Fui direto para o meu escritório depois de passar por entre pessoas cheias do dinheiro que se precisassem gastariam até o seu último centavo ali, provavelmente a minha cara exausta e minha roupa suja indicava que algo de errado havia acontecido comigo, por isso fui seguido por meus seguranças e evitei encarar as demais pessoas.

Após me servir de um copo de uísque e me jogar na cadeira de couro atrás da minha luxuosa mesa de vidro fumê, falei para os dois seguranças com caras de maus que estavam parados na minha frente e esperando que eu contasse o que aconteceu ou apenas os indicassem o que tinham que fazer.

— Onde está o Edson?

— Já está vindo, senhor. — Assenti e no mesmo momento o meu braço direito nos negócios e melhor amigo entrou no meu escritório.

— O que aconteceu, Martin? Por que não nos ligou?

— O celular deve ter caído em algum lugar quando fui jogado no mato. — O contei rapidamente o que aconteceu e pedi: — Quero a placa do carro que me pegou na frente do Sweet Hell, quero o nome de cada envolvido o mais rápido possível e depois quero cada um na minha frente.

Fiz uma careta de dor.

— Precisa de um médico, senhor? — um dos meus homens de confiança perguntou.

Ri.

— Estou bem, desde que entrei nessa vida já me vi diversas vezes muito pior do que isso. — Dei um gole no uísque que desceu queimando por minha garganta.

Repensei a minha noite e eu estava exausto, isso porque ainda descansei um tempo no quarto da bela freirinha, se não, estaria bem pior sem o remédio que ela me deu.

Que mulher!

Era um desperdício ter feito aquela escolha.

— Podemos fazer algo pelo senhor? — o outro segurança perguntou.

Encarei os homens que ainda estavam parados esperando mais ordens.

— Veja se alguma das mulheres do Sexy Stripper estão disponíveis para mim. Elas sempre brigam para ficar comigo... Não, melhor, veja se a Raquel está livre. Mande-a vim imediatamente.

Raquel era uma espécie de administradora de uma das boates de stripper, a gente se pegava as vezes e ela seria a distração daquela noite.

Precisava parar de pensar na freirinha e em tudo que eu podia ter feito com ela se fosse uma mulher qualquer e disponível para mim. Freiras são esposas de Jesus e com ele é melhor não competir.

Degustação a partir do dia 28/09/2021 Minha RosabelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora