- Didi – suspirei antes de começar a falar – Mas como vou saber se estou fazendo a coisa certa, ou indo em busca da felicidade no lugar certo?

Ela soltou minhas mãos e colocou-a em meu peito.

- Ouvindo e sentindo seu coração! Preste atenção ao que, e, em quem, te faz sorrir!

Fechei os olhos e balancei a cabeça, aceitando esses lindos conselhos.

- Eu ando me preocupando demais, com coisas materiais Didi – senti uma lágrima rolar – Desde que o Joseph falou que quer ver tudo o que eu conquistei, virando pó, tenho muito medo disso.

- Jamais ele conseguirá fazer isso, Laura – ela me olhava atentamente nos olhos – Suas conquistas, vão além dos prédios e ações. O que você conquistou, está dentro de você. E se, de repente, um desastre atingisse seu patrimônio. Você perderia tudo?

- Não! – a respondi de imediato – Eu iria trabalhar em dobro para reconquistar tudo.

Ela arregalou os olhos e sorriu.

- Está vendo? Para adquirir coisas, você não mede esforços. Mas para lutar por quem você é e sente, daí tem medo.

- Você tem razão – respondi reflexiva – Talvez porque ainda não encontrei o que me impulsiona para essa luta..

Ela me interrompeu e foi incisiva, com o dedo apontado pra cima.

- Você já encontrou. Só não está disposta a ver.

Arregalei os olhos com mais essa fala. Tomei outro gole do café que amornara.

- Como já te falei, estarei atenta!

Concluímos a alimentação falando de outros assuntos e logo em seguida, saí ao trabalho. A rotina intensa e recheada de decisões, consumiu quase todo meu dia. No meio da tarde, solicitei uma reunião com todos os setores responsáveis pela organização da Feira do Empreendedor, pois gosto de estar a par de, absolutamente todos os detalhes. Reunimo-nos na sala de reuniões do último andar, que é a maior. Estava com a equipe, de exatamente vinte e dois funcionários, quando vejo meu celular vibrar em cima da mesa, com notificação de mensagem.

No mesmo instante, senti meu coração disparar e a respiração ofegar. Discretamente desbloqueei a tela e constatei do que se tratava. Ainda não sei se a rotação da Terra parou ou foi a translação que acelerou, mas minha cadeira flutuou pela sala junto de um sorriso irônico que brotou em minha face:

Alice: Relatório para a senhorita Mandona Veigas ^^:

- Acordei cedo e me deram banho;

- Tomei café (sem café), e comi tudo o que foi oferecido;

- Fiz exame de ressonância magnética;

- A Dra Vitória me examinou e falou que estou evoluindo melhor do que ela imaginava, posso receber alta antes do fds;

- Não recebi visitas, nem acompanhantes;

- Senti falta do seu Bom dia!

Li e reli inúmeras vezes, e em cada vez, novos sorrisos nasciam. Meneei a cabeça outras várias vezes, mordendo os lábios inferiores com expressão de sapequice. Completamente imersa nesse meu mundo particular, onde o único som que ouço é do da minha respiração, tentei encontrar as palavras ideais:

Laura: Obrigada pelo relatório. Vejo que a competência, acompanha a inteligência e agilidade no aprendizado. Fiquei feliz com as promissoras notícias de sua melhora. Só me causa insatisfação, saber que muito em breve, não terei mais o absoluto controle de vossa senhoria. Quanto ao meu Bom Dia, fique no aguardo. Ele poderá chegar a qualquer momento.

Ao enviar, constatei que muitos olhos me observavam. Então, me dei conta de que, todos os reunidos, estavam em silêncio a espera do meu parecer sobre o buffet que estávamos contratando. Retornei o olhar a cada um deles e continuei, como se nada tivesse acontecido:

- Como falávamos, fecharemos contrato com esse buffet e ficará faltando, decidir quais flores serão usadas. É isso?

A reunião continuou, mas minha atenção estava voltada na ansiosa espera por receber outras mensagens, que não demoraram chegar:

Alice: Sinto dizer, senhorita, que não é possível ter o controle de tudo o que deseja.

E mais uma vez, o assunto da reunião ficou em segundo plano e retornei ao meu mundo particular, acompanhada do meu coração descompassado e agora também, das minhas mãos suando.

Laura: Para facilitar, poderia me elencar quais as opções que são possíveis?

E imediatamente vejo a notificação de "Digitando" aparecer logo abaixo do nome. Isso me despertou um gelo que percorreu toda minha costa.

Alice: Por que não tenta descobrir?

Estou de fato, surpresa com essa audacidade. Porém, gosto dessa troca.

Laura: A descoberta, também faz parte do controle.

Alice: Talvez.

Laura: Talvez?

Alice: Isso depende do que descobrirá ser possível controlar.

As sensações que essa mulher me faz sentir, são as mais arrebatadoras possíveis. Prevejo, uma difícil amizade a se manter, se esse joguinho de palavras persistirem. Ela me instiga e, de um jeito único, me deixa sem palavras. Só consigo sentir e isso, foge do meu controle.

Volto a atenção para a reunião, e tento me inteirar do que perdi nesse breve tempo. Tentativa em vão! As palavras da Alice ecoam dentro do meu cérebro. Meu desejo, é largar tudo aqui nas mãos do Tom, e ir para o hospital, continuar essa conversa. Queria ver a cara dela, constatando que tenho sim o controle das situações em minhas mãos, mas, se o fizer, de certa forma esse controle estará sendo usado por ela. Sorrio em pensamento com esse raciocínio. Amanhã é meu dia de folga, e então, me permitirei continuar essa conversa pessoalmente.

AmorasWhere stories live. Discover now