Quando estamos perto o suficiente para uma conversa, com o clima meio tímido e inseguro, tento me manter calmo e resolvo falar:

— Oi — Minhas mãos tremem ao fitar seu rosto frente a frente.

— Oi — responde com um fundo questionável, como "Oi? Por quê ? Quê? Como? Para quê". Seus olhos recaem sobre mim. Percebo que estou parecendo um maltrapilho. Acabado. E. Com. Fome. — Tá tudo bem? Jay me falou que você tinha viajado, o que tá fazendo aqui?

— Eu fui. — respondo apertando os dedos contra meu casaco bege. — Mas já voltei, preciso... resolver algo. — Meu estômago gela e Sunghoon apenas concorda — Ele me disse que você tinha ido para Busan. — questiono deixando uma retórica de " o que tá fazendo aqui também?"

— É. Eu fui também. Meus pais planejaram um feriado em família — Sua expressão recai com um certo desgosto, entretanto ele continua com um singelo e pequeno curvar nos lábios — Mas sabe, as coisas não estavam... — Enquanto procura palavras sinto o peso dos seus sentimentos com relação a família. Sei que ainda dói e, eu tô falando de exatamente tudo— Bom, revigorantes ou sei lá.— Sorri soprado com os olhos voltados ao chão e em seguida os ergue para mim. Amargurados. — Aí eu resolvi voltar. Não sei porque ainda insistem nisso.

— Não sabia que seus pais haviam se separado — comento baixinho e ele estreita a visão — Jay me contou. Não sei como você está em relação a isso, mas sabe, eu sin...

— Minha mãe não merecia continuar vivendo com um idiota arrogante e petulante, que se acha melhor que tudo e que todos. — Me interrompe calmo e olhando para os próprios pés, nos seus olhos eu vejo raiva, ressentimento, e acima de tudo, um grande alívio — Estamos bem sem ele...

   Uma onda gigantesca de empatia, fraternidade e compreensão me atinge com muita força e toma conta de tudo que eu imagino ter controle, algo repentino, algo que involuntariamente me faz dar um passo em sua direção, e antes que ele pudesse me empurrar ou me direcionar uma expressão que provavelmente me faria ficar intimidado eu rapidamente o abraço.

   Ele hesita por cerca de um segundo enquanto a ponta dos meus dedos correm suavemente sobre seus ombros, mas logo permiti envolver-se naquele gesto de carinho e cuidado quando a palma das minhas mãos se espalham por suas costas, sentindo as dele, com um grande receio e um leveza quase intocável, encostarem nas minhas costas.

   Apoio meu queixo em seu ombro e posso sentir seu rosto desentendido, medroso, hesitante, posso sentir seu corpo querendo recuar...
  Eu... Só quero protegê-lo e dizer que tá tudo bem, só quero poder mudar o mundo pra que ele não sofra outra vez, só quero falar que ele não errou em escolher ser quem realmente é, dizer que ele é muito especial.

  E então eu tenho a certeza, a forma natural que ele falou comigo, como se eu não tivesse descoberto tudo agora. Ele realmente acha que eu li a carta... Ele acha que eu sei de tudo o que aconteceu desde o começo... Ele acha que eu escolhi não responde- lo na época que me enviou a correspondência... Ele acha que eu decidi deixar ele para trás e seguir em frente...

Eu preciso concertar tanta coisa. Meu Deus.

   Ficamos abraçados por um tempinho, até Hoon se afastar fazendo nossos olhos se fundirem, e por um instante isso é tudo que acontece.
   Não sei o que dizer, sinto meu coração morrer aos poucos, mas não quero desviar. Não quero parar de olhar suas orbes confusas, porém refletidas em mim. Orbes essas que vão de um lado ao outro, olhando dentro dos meus olhos com muita cautela.
Sunghoon pisca, eu pisco em seguida, e quando aquilo já estava ficando constrangedor ele resolve falar:

— Você tá indo para casa? — diz piscando rapidamente várias vezes, como se estivesse tentando se recompor e organizar suas ideias e pensamentos.

My First Kiss Vol. 2 - JakeHoonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora