A senhora tinha os cabelos completamente grisalhos, mas seu rosto não tinha tantas rugas e seu corpo ainda era delineado. Vestia-se simples, porém elegante, um olhar brilhante tocou em Bárbara de uma maneira diferente. As duas sentiram seus corações quentinhos.

Eles então se sentaram na mesa de jantar, cada um em seu lugar. Luna tomou os remédios com suco e comeu logo para poder voltar a dormir.

— Você tem filhos, Angélica? — Bárbara perguntou.

— Não... eu tive uma menina que faleceu quando tinha dois aninhos, depois eu não quis mais engravidar... — sorriu com um pouco de tristeza — Não fui uma boa mãe...

— Por que diz isso? — Luna perguntou.

— Minha filhinha morreu por minha própria negligência...

— Como assim? — Eduardo foi quem questionou agora.

— Eu era cega pelo pai dela, quando ela ficou doente, ele me fez acreditar que era apenas uma gripe, que a minha filha que estava fazendo manha. Eu acreditei, não dei à ela a devida atenção, errei, sei que errei. Quando percebi e a levei para o hospital, era tarde demais. Depois disso o pai dela me largou por outra mulher, nunca mais tive filhos pois não me via sendo mulher o suficiente para isso. — respirou fundo — Vocês têm filhos? — encarou a loira e o moreno a sua frente.

— Juntos ainda não. Mas eu já tenho uma menina, uma mulher no caso, por sinal, já sou avó. — Bárbara sorriu.

— Tão nova e já é avó?

— Então, né. — deu risada — Minha filha foi... fruto de abusos que eu sofria quando mais nova, por isso engravidei cedo. — mudou o semblante — Sem contar que... quando ela nasceu, o pai dela a tirou de mim me dizendo que era um menino e havia nascido sem vida... a reencontrei depois de 23 anos.

— Imagino a dor que você deve ter sentido.

— Isso não foi nem o pior, o pior foi ela ter me rejeitado. — desviou o olhar — Mas depois nós duas nos perdoamos, porque santa eu também não fui. E hoje depois de 42 anos, eu tô começando a ser feliz, graças a essa princesa aqui. — apertou o queixo de Luna que sorriu — Ao Matias que me acolheu e ao Eduardo. — encarou o homem ao seu lado — Que é o melhor homem com quem já vivi algo.

— ... O jeitinho que ela me olha, não posso machucar ela, não posso, ela precisa de mim e eu preciso dela. Pelo resto da minha vida... — Eduardo pensou e beijou a testa e nariz dela.

— Você namora, Luna? — Angélica perguntou.

— O que? Quem? Eu? Que nada. Eu não tenho paciência nem pra mim, quem dirá para outra pessoa. — riu — Eu não penso muito em namoro... Até porque eu não desperto a atenção de ninguém, eu não sou atraente, sou toda atrapalhada, sem contar a minha saúde. Nenhum menino quer namorar alguém assim. — naquele momento Bárbara, Eduardo e Matias entenderam porque Luna nunca falava de relacionamentos, ela tinha medo e insegurança — Mas eu tenho a minha madrinha, Matias, Eduardo, Santiaguinho, Aurora, a Lulu... Tenho pessoas que me amam.

— Sabe, Luna, vou te dizer uma coisa. Na sua idade, querendo ou não, nós sentimos vontade de namorar, aconteceu comigo, com a sua madrinha, Eduardo e com Matias também. Por mais que a gente diga: eu não quero. — sorriu — Nós queremos sim, mas temos medo. Acontece que, não podemos ficar afobados e nem pensando que todos ao nosso redor namoram, menos a gente. Vai aparecer alguém disposto a ficar com você independente de qualquer coisa. — pegou a mão dela — Luna, você é extremamente linda, é carismática, doce. — alisou os dedos da menina — De longe se percebe que é uma menina preciosa.

— Obrigada. — sorriu carinhosa.

Luna terminou a comida e antes da sobremesa voltou para o sofá com um pouco de dor, logo Bárbara foi até ela.

— Me dá remédio, Tia Babi... Tá doendo... — pediu com os olhos murchos.

— Eu vou pegar... — levantou e foi até a cozinha procurar a caixa de remédios.

Bárbara pegou os comprimidos e voltou com o copo de água para a menina, deu a ela e se sentou junto da mesma. Luna fechou os olhos e abraçou a madrinha.

— Linda, eu já vou. — Eduardo se aproximou das duas.

— Dorme aqui com a madrinha. — Luna pediu fraquinha.

— Não, princesa... Amanhã eu tenho que levantar bem cedo para ir trabalhar, outro dia eu venho dormir. — sorriu e beijou o rosto dela que o retribuiu e em seguida o abraçou.

— Acompanha ele até a porta, Babi... — pediu.

— Não precisa. — ele falou.

— Eu faço questão. — a menina se ajeitou no sofá — Eu vou dormir com a madrinha hoje, não tem problema ela perder cinco minutinhos se despedindo de você.

— Eu já volto, meu amor. — beijou o rosto dela e levantou.

Bárbara saiu com Eduardo na porta, os dois ficaram se encarando, ele parecia ler os pensamentos dela e a puxou para um abraço.

— Eu tô com medo, Edu. Eu tô com medo de perder a Luna. Não posso perder ela. — começou a chorar — Eu não posso perder a minha menina.

— Calma, linda, calma... — aconchegou ela em seu ombro — Luna é forte, vai ficar bem. Você vai ver. — afastou um pouco do cabelo do rosto dela, acariciou e limpou as lágrimas.

— Eu tô com muito medo. — segurou a mão dele.

— Sempre que precisar, eu vou estar aqui para te acalmar e acalmar a Luna. — encurtou o espaço — Não esquece disso.

— Não vou esquecer. — beijou-o.

Eduardo correspondeu levando uma mão na nuca dela e a outra na cintura. Ela acariciava seu pescoço e bochecha, cessaram e lentamente ele foi se afastando indo para o elevador.

Bárbara voltou para dentro e foi com Luna para seu quarto, deitou com ela na cama, colocou o filme de animação preferido das duas e então ficaram abraçadas assistindo, até a menina pegar no sono.

— Você é forte, eu te amo, minha linda. — acariciou seu cabelo.






Reaprendendo a CaminharOnde as histórias ganham vida. Descobre agora