DESTEMIDA | #BASTARDS MOTOCLUBE

CAPÍTULO DEZOITO | SORVETE

O vento que batia no meu rosto enquanto eu pilotava a baby pelo pequeno centro da cidade me lembrava de quem eu era e o que vim fazer aqui, a jaqueta do Bastards tinha ficado jogada na cadeira do meu quarto e substituída por uma jaqueta jeans, o dia havia começado quente o que indicava que o verão se aproximava, meu all star velho, um shorts e uma blusa preta davam conta do recado, as duas trancas boxeadoras que eu tinha feito impediam o meu cabelo embaraçar, estacionei baby na frente do pequeno prédio antigo com uma cor azul desbotada que faz um bom tempo que não visito, coloquei um óculos escuros e comecei a subir os pequenos degraus até a entrada, qualquer um que presta se atenção em mim, me acharia uma moradora normal, ou no máximo uma turista para os menos observadores, era dos mais atentos que eu pretendia me esconder e me misturar. Não deu tempo de muita coisa, já que o Luke fez sentinela no meu quarto a noite toda, nem dormir no chão o convenceu a ir embora, quando ele saiu pela porta hoje de manhã, eu tive que pensar rápido e não consegui processar o que aconteceu noite passada e sobre o que faria com isso.

Depois de subir três lances de escadas e bater na pequena porta de madeira com as letras apagadas uma voz conhecida carregada de deboche me deu boas vindas.

- A princesinha da gangue de motoqueiros finalmente apareceu.

Vivian sorria com seus belos olhos azuis direcionados para mim, ela levantou da cadeira confortável que estava jogada atrás da mesa analisando umas fotos pretas e brancas e me abraçou, seus cabelos loiros estavam curtos, seu braço tinham novas tatuagens,e estava um pouco bronzeada. Nós crescemos juntas e o tempo e a distância não atrapalhou nossa amizade, era a melhor detetive que as mulheres dessa cidade pequena poderiam ter pra desvendar cada pulada de cerca que seus maridos davam ou que elas deduziam que eles davam.

- Cury andou te ligando? - respondi abraçando de volta.

- Na verdade ele me pagou uma boa quantidade de dinheiro para avisá-lo quando você aparece se, e pra dizer do que veio atrás. - ela respondeu voltando a se sentar.

Me sentei na cadeira a sua frente e coloquei as pernas em cima da mesa.

- Meu pai me conhece muito bem. - respondi sorrindo

- Não o suficiente, ele apenas esqueceu do detalhe que você vai me pagar dobrado o que ele ofereceu e mesmo se não paga-se, minha lealdade é sua Livs.

- E eu agradeço por isso Vivi.

- Mas me fala, do que tá atrás ou de quem.

- O meu problema começa aí.

Joguei na mesa o bilhete que recebi, as fotos da decapitação (que roubei do escritório escritório Cury), a invasão na sede que apenas eu e Luke tinha visto e a ameaça de Groove, Vivi analisou e pensou por alguns segundos antes de começar a me responder ou melhor me questionar.

- Quem quer atingir o Bastard's, sabe quem você é e onde te encontrar e você simplesmente voltou pra facilitar a vida dele?

- Eu voltei pra proteger o meu clube e acabar com essa palhaçada.

Vivi soltou uma risada.

- Mesma Livs, mesmo dom para o perigo.

- Qual é Vivi, isso é melhor do que pegar traições. - Eu disse jogando um bolo de notas de cem na mesa - Você me deve essa.

- Vou ver o que consigo descobrir e te aviso.

- Nada de contar pro Cury! - a alertei.

- Não vou, prometo.

Estava realmente calor já do lado de fora, na calçada encostada em baby avistei a velha sorveteira do outro lado da rua que era o destino de todas as minhas fugas no complexo quando eu tinha uns sete anos, era cedo e a cidade ainda estava vazia, acho que nao faria mal um sorvete.
Atravessei a rua e comprei um picolé de chocolate e aguardava pra pagar no caixa quando meu celular vibrou.

Ligação perdida Geórgia

Quando eu fui ligar de volta um soluço me chamou a atenção, na minha frente tinha uma menina provavelmente da minha idade, ela usava saia jeans e uma blusa vermelha, seu cabelo era castanho claro e curtos, seus olhos verdes, ela tinha sardas e gritava com a atendente que devia ter uns 15 anos no máximo dizendo que não ia pagar por aquela porcaria de milk-shake e que desejava que desconta-se da menina que tinha feito aquilo.

- Ei.

A atenção das suas se voltaram pra mim, ambas me analisaram de cima a baixo, a escandalosa foi a primeira falar.

- Posso ajudar? - seu tom era abusado.

- Pode. - respondi sorrindo - se você não vai pagar de qualquer jeito, porque em vez de fica dando show pra alguém que tem metade da sua idade, você poderia sair daqui.

Os olhos dela piscaram três vezes, antes de sua cara piorar.

- Você sabe com quem está falando?

Virei a cabeça de lado vagarosamente.

- Não, e sinceramente não me interessa.

Ela bufou e virou em direção da menina dizendo " isso ainda não acabou." E saiu finalmente pela porta.

- Obrigada.

Ouvi a voz doce da menina pela primeira vez, seus olhos castanhos estavam marejados e abaixados, seu rosto vermelho, ela tinha cabelos loiros preso em um rabo de cavalo, usava um blusa rosa com as palavras " Ice Cream Happy" e um avental por cima.

- Qual seu nome?

- Mel.

- Que nome bonito Mel. - ela sorriu me olhando.

- Qual o seu?

- Livs. - respondi sorrindo de volta.

- O seu também é bonito.

- Obrigada. Quem era aquela?

- Você não conhece a barbie? Ela é namorada do clube da cidade vizinha.

- Mas aqui é território do Bastard's. - Eu disse finalmente encarando Mel de volta.

- Muita coisa anda diferente por aqui...

Mel disse balançando cabeça como se tivesse falado algo que não devia, e antes de eu questionar novamente meu celular tocou e no visor o nome de Luke apareceu.

- Aaahnn... - Eu disse fuçando o meu bolso, tirei uma nota de 50 e entreguei a Mel - Isso deve pagar o meu sorvete e o milk-shake da princesa ignorante. O troco é seu, tchau Mel.

Terminei meu picolé e subi na baby, eu tinha sérias perguntas a Cury e Luke.