Nove: Mágicas ameaças

Start from the beginning
                                    

Ao atravessarmos as grandes portas de carvalho marrom da entrada, vislumbramos um extenso salão com uma escadaria principal que leva ao outro nível da mansão. O pé direito do saguão devia ter cerca de oito metros, o piso é de assoalho de madeira escura e brilhante; o salão ostenta como destaque um belíssimo candelabro prata fúlgido, adornado de cristais. O local em si é cheio de peças de arte, pinturas e antiguidades, contrastando perfeitamente com o ar de modernidade com o qual a mansão parece ter sido construída.

As paredes na lateral direita possuem grandes janelas, que dão vista para um outro jardim menor, cheio de diversos tipos de flores e plantas, bem como uma enorme fonte de água, cuja imagem central é de uma bela mulher seminua, coberta com uma espécie de tecido leve apenas da cintura para baixo, segurando um livro aberto na mão esquerda. De alguma forma, a imagem esculpida em mármore branco me lembra a obra "O Nascimento de Vênus"*.

* Obra do pintor italiano Sandro Botticelli, produzida entre 1485 e 1486.

Se eu não soubesse exatamente onde estou, acharia que essa é uma visita a um museu de arte que mescla antiguidade e contemporaneidade.

Uma moça pequena, aparentando não mais do que vinte anos, entra no nosso campo de visão. Seus cabelos pretos são cortados channel de bico, seus olhos são castanhos tão claros que parecem mel derretido, suas feições são delicadas e ela veste um longo vestido cor de cobre de uma manga só, exaltando a sua pele clara. A moça se apresenta como Verônica e cumprimenta a mim e Daniel com um sorriso.

Embora eu tenha percebido que o sorriso direcionado ao meu parceiro seja mais desejoso do que cortês.

- Parece que você ganhou uma admiradora. - eu murmurei, arqueando uma sobrancelha sugestivamente ao meu parceiro, enquanto a moça nos guia até à sala que eu suponho ser de reuniões.

- Engraçado como todas as mulheres parecem me notar, exceto a única mulher que eu desejo. - ele murmurou em um tom desinteressado.

Eu me calo. Pelo jeito, esse mau humor vai durar dias, se não semanas. Como se eu não tivesse inúmeras coisas para me preocupar, agora preciso lidar com a síndrome-do-coração-partido de Daniel.

Verônica abre as portas de uma ampla sala com janelas do chão até o teto, vários quadros com belas pinturas, representando diferentes pessoas em várias épocas do tempo, decoram o local. A sala possui vários tipos de mobílias, desde antigos sofás e cadeiras estofadas em ótimo estado, até mesas de madeira e vidro, sustentando uma rede organizada de cabos e computadores de última geração. Embora eu me pergunte porque bruxos teriam computadores. Imagino os históricos de pesquisa, algo como "feitiço para invocar um basilisco" ou qualquer coisa que o valha.

Minhas divagações são interrompidas quando eu me concentro no meio da sala, onde estão dispostas quatro cadeiras, duas já ocupadas por figuras muito diferentes do que eu imaginava.

Uma das cadeiras é ocupada por uma moça negra, seus cabelos caem em cachos platinados pelas suas costas, seus olhos são castanho amendoados, lhe dando um ar de autoridade. Sua feição é séria - por mais que o seu rosto seja bonito, fino e delicado -, como se ela pudesse colocar fogo em um exército somente com um olhar, sua pele parece cremosa como chocolate. A mulher veste um vestido amarelo brilhante como ouro, firmemente atado ao redor do seu pescoço, deixando os seus ombros e braços expostos, que ostentam brilhantes pulseiras douradas; chamativos brincos vermelhos triangulares e um colar dourado que leva o símbolo do Conselho Millenium são os outros adereços que a mulher usa.

A outra cadeira é ocupada por um homem que poderia ser facilmente confundido com um adolescente que está sendo fichado por portar drogas. Seus cabelos loiros pálidos caem abaixo dos ombros e estão soltos, casualmente bagunçados; seus olhos são tão azuis como o céu em um dia limpo e demonstram um leve desinteresse na situação toda, sua pele é clara, contrastando com a companhia ao seu lado.

A Pecadora (Concluído)Where stories live. Discover now