A Outra Lydia Kinsley

Capítulo 10

10

Deserto

***

[Las Vegas, NV; 3 de Agosto]

Nina estava invadindo meu quarto às cinco e meia da manhã. Quando ela disse que sairíamos cedo, pensei que ela queria dizer oito ou nove, mas jamais imaginaria que seria antes das sete. Fiz um esforço para não decidir pela violência para poder voltar a dormir, e em menos de meia hora estava pronta para pegar estrada. Eu havia feito uma mala pequena para o fim de semana, com pijamas e um outfit para cada dia que ficaríamos lá — incluindo meu novo vestido de veludo.

O medo rotineiro de ser descoberta foi rapidamente tomado pelo entusiasmo que eu estava sentindo por ir para Nevada pela primeira vez. Mesmo que eu não pudesse demonstrar.

"Vamos chegar lá por umas dez horas," disse Nina enquanto me ajudava a guardar minha bagagem no porta malas do carro. "Dá até para você tirar um cochilo antes de ir."

Mesmo tão cedo, já era uma manhã excruciantemente quente em Los Angeles, e eu nem conseguia imaginar como seria no meio do deserto. Eu só esperava que eu não fosse virar cinzas tão cedo. Não antes do fim de semana acabar.

Só de imaginar que em algumas horas eu estaria em um evento super luxuoso em Vegas com um caminhão de celebridades, me dava uma enorme vontade de colocar Lydia Kinsley nos sites de fofoca.

Reprimi o riso. Eu tinha que focar no superobjetivo.

Pela primeira hora de viagem, nenhuma de nós duas falou nada. Eu estava tentando seguir o conselho de Rose e ouvir mais do que falar. Enquanto isso, Sarah me mandava mensagens desesperadamente para saber tudo o que eu estava fazendo — se eu havia saído sem avisar nos últimos dias, se estava fazendo postagens programadas de propaganda nas redes sociais. Se já havia saído de Los Angeles com Nina.

Nada fora do habitual.

Eu também havia reservado alguns minutos para mandar uma mensagem à Rose, para saber como ela estava. Mal havíamos nos falado nos últimos dias.

Eu assisti enquanto passávamos os subúrbios californianos e adentrávamos os desertos arenosos intermináveis de Nevada. Não demorou muito para eu sentir o efeito de acordar tão cedo, mas por mais que eu tentasse, não conseguia dormir.

Depois do que pareceu uma eternidade e meia naquele carro, Nina quebrou o silêncio.

"Liddy, está acordada?"

"Estou," respondi preguiçosamente.

"Posso te perguntar uma coisa?" Sua voz era suave, como se estivesse prestes a tocar em um assunto delicado.

Eu a fitei. Seus olhos estavam fixos na estrada, mas ela não parecia prestar tanta atenção. Eu simplesmente assenti com a cabeça.

"Para onde você foi depois que saiu do hospital, mês passado?"

Aí estava. O assunto que eu vinha evitando desde o momento em que nos conhecemos. Eu já havia preparado tudo o que ia dizer antes mesmo de pisar no aeroporto de Albany, mas ter que colocar o discurso para fora era muito mais assustador do que eu havia pensado. Ao menos eu já havia me acostumado com o sotaque a ponto de não precisar mais pensar nele. Ignorei as batidas desesperadas do meu coração e respirei fundo.

"Fui visitar minha família em Nova York."

Ela pressionou os lábios em uma linha fina. Eu já havia dito aquilo.

"Eu sei que é difícil de acreditar," ela falou num tom mais baixo, quase inaudível. "Mas eu me importo com você. E eu estive pensando... Talvez você devesse procurar ajuda."